Gestora finlandesa visita São Paulo e dá receita de ‘escola do futuro’

Folha de São Paulo -12/05/17 – Paulo Saldaña

A Finlândia, referência mundial em educação, tem repensado seu sistema de ensino em busca da “escola do futuro”. “O que foi bom para o passado não quer dizer que vai nos levar para o futuro”, diz Marjo Kyllönen, pesquisadora da área e secretária de Educação de Helsinque.

A capital finlandesa tem liderado algumas das principais transformações no modelo educacional do país. O intuito é absorver metodologias e práticas mais conectadas com o mundo atual.

Fazem parte desse processo o rompimento com disciplinas isoladas, trabalho colaborativo entre alunos e professores e ensino a partir de projetos –com base em problemas desafiadores. Isso já está em curso por lá pelo menos desde 2015.

O objetivo é desenvolver competências que forme um “ator ativo” em uma realidade de rápidas mudanças tecnológicas e de comunicação.
Kyllönen, 58, visitou o Brasil a convite da Conexia, plataforma educacional do Grupo SEB. Na manhã de sexta-feira (12), a educadora falou no estande da empresa na Bett Educar, feira especializada em educação que ocorre em São Paulo até hoje.

A reflexão de Kyllönen expõe, sobretudo, uma convicção de que falar de inovação na educação e do esforço para transformar o formato da escola é uma necessidade (urgente). “Nosso sistema foi construído para um mundo, uma indústria, em que tudo era previsível”, diz ela, reforçando as poucas mudanças da escola desde o século 19. “Esse mundo não existe mais, agora ele é multidimensional e imprevisível”.

A partir de uma reforma educacional realizada na década de 1970 a Finlândia alcançou nas décadas seguintes notoriedade pelos resultados educacionais, despontando nos rankings do Pisa (avaliação internacional com alunos de 15 anos). Kyllönen diz, entretanto, que esse redesenho do sistema é como “começar do zero”.

Em Helsinque, já está em uso uma abordagem educacional ancorada em “fenômenos”. O que inclui projetos interdisciplinares, que conecta o interesse dos alunos aos objetivos do currículo. O ambiente das salas também têm sido repensado, embora haja incentivo para que o ensino não fique preso na escola e se espalhe pela cidade –a equipamentos culturais e outros contextos que dê “sentido” e “autenticidade” ao conteúdo.

PROCESSO

Quando os novos objetivos do sistema educacional foram conhecidos, dois anos atrás, correu a notícia de que acabaria a divisão de disciplinas. Depois ficou mais claro que a alteração não seria tão radical (pelo menos por ora).

Mas o próprio governo ressalta que as novidades podem provocar impactos na colocação do país no Pisa. Em um documento do governo sobre a reforma curricular (iniciada em 2016), no formato de “perguntas e respostas”, questionava-se se o país poderia perder posições após a mudança. A resposta foi: “Talvez, e daí?”

Segundo Kyllönen, a nova concepção transfere também o foco da avaliação. “Nosso foco é no processo, não mais no final”, diz. A Finlândia, porém, permanece entre os países mais bem colocados no Pisa.

Mesmo com a presença da tecnologia (e abundância de informação), o professor continua com um papel essencial. “O papel dos professores irá mudar. Exige-se mais do que ensinar a partir dos livros, é necessário planejamento em conjunto.”

A educadora insiste na importância do processo de inovação: em que o erro e tentativa são importantes. “As crianças são criativas. A gente deveria tirar vantagem dessa natureza, o fracasso não é perigoso”, diz ela. “Os alunos precisam ser heróis do seu aprendizado”, afirma a finlandesa.

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