Laércio Furquim Jr., autor de Geografia e de Ciências Humanas, lê trecho do livro O Avesso da Pele, de Jeferson Tenório:
Lanço mais um olhar sobre suas coisas. Antes de sair, pego o seu alguidar, retiro o ocutá de dentro dele, enrolo num pano, como minha tia Luara disse para eu fazer. Saio segurando Ogum entre as mãos. Às vezes, as ruas de Porto Alegre parecem intermináveis, labirínticas até, não porque as avenidas sejam grandes, mas porque me sinto perdido nelas. Assim como você se sentia. Talvez “perdido” não seja a melhor palavra. Ao caminhar por Porto Alegre, você se sentia sem lugar. Porque, toda vez que você saía para caminhar, tinha a impressão de estar invadindo um espaço. Bastava dar uma olhada em volta para perceber que você não podia pertencer àquilo, mas acontece que você insistiu.
A Abrale se soma às múltiplas vozes que reconhecem o valor literário e social do livro O avesso da pele, de Jeferson Tenório. E reitera a pertinência de sua aprovação no PNLD 2021 de Obras Literárias para o Ensino Médio, pela banca avaliadora composta por mestres e doutores em Linguística, Literatura, Letras, Educação.
Os ataques que desqualificam este livro resultam de leituras incompletas, superficiais, distorcidas de seu conteúdo. Retirá-lo das escolas de Ensino Médio implica privar os e as estudantes do acesso a uma leitura que instiga o pensamento crítico-reflexivo sobre uma questão central a ser combatida pela sociedade brasileira: o racismo estrutural.
Resenha do livro: Depois da morte do pai, um professor negro assassinado em uma abordagem policial desastrosa, Pedro resgata suas raízes familiares e seu lugar no mundo. Com uma narrativa corajosa, sensível e por vezes brutal, este livro premiado aborda temas incômodos presentes em nossa sociedade: o racismo estrutural, as lacunas no sistema educacional e a violência policial.