Alfabetização digital é porta de entrada para o século 21, diz diretor da Mozilla

Folha Online

BRUNO ROMANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A missão de Mark Surman, diretor-executivo da Mozilla Foundation, que desenvolve o navegador de internet Firefox, é promover uma transformação na atual geração: de consumidora para criadora de tecnologia.

Por isso, ele acredita que conhecimentos de programação são tão importantes atualmente quanto a escrita e a leitura foram no século 20. O ensino dessas habilidades é o que ele chama de alfabetização digital.

Na sexta-feira, às 13h, ele dará uma palestra na Campus Party e falará sobre esse e outros temas, como a importância de plataformas abertas, do HTML5 e do mundo móvel. Por e-mail, ele conversou com a Folha.

FOLHA- O que é alfabetização digital?

MARK SURMAN – Da mesma maneira que a leitura, a escrita e a aritmética foram cruciais para a formação de pessoas como cidadãos e profissionais, a alfabetização digital será vital no século 21. Sem ela, as pessoas não podem participar plenamente como cidadãos, não têm acesso às mesmas oportunidades profissionais e de aprendizado e não ajudam a criar as próximas inovações criativas e tecnológicas do mundo. A Mozilla acredita que a alfabetização digital é crucial para a nossa missão sem fins lucrativos e para a construção da web que todos queremos. É por isso que tornamos o nosso programa “WebMaker” uma de nossas três prioridades de 2013, junto com o Firefox e o Firefox OS.

A escola tradicional precisa ser mudada para incluir a alfabetização digital?

A maneira como as pessoas aprendem está mudando. Hoje, o aprendizado acontece em todo lugar, tanto dentro como fora da sala de aula. Acreditamos em um modelo de “aprendizado conectado”, que amarra todas essas experiências. Elas ficariam conectadas às paixões e interesses do aluno de maneira que ele estivesse no comando de seu próprio aprendizado e tivesse o reconhecimento por isso. Os nossos projetos WebMaker e Open Badges são focados nisso.

*Como levar a alfabetização digital a países em desenvolvimento, onde as necessidades
básicas não são atendidas?*

Os próximos 2 bilhões de usuários da web no mundo chegarão por meio de dispositivos
móveis, não por PCs. É crucial que a gente ofereça uma experiência de baixo custo e aberta, que os coloque em primeiro lugar. Por isso acreditamos que o Firefox OS seja tão importante. É também uma razão pela qual o mundo móvel é um crescente foco do projeto WebMaker. É importante que usuários de dispositivos móveis tenham habilidades para criar, para contar ricas histórias sobre suas vidas e para inovar com a mesma liberdade que usuários de computadores tradicionais têm.

A geração atual está consumindo mais do que produzindo tecnologia?

Sim. Uma das coisas surpreendentes sobre muitos dos “nativos digitais” atuais é que eles são extremamente competentes em consumir com tecnologia, mas não receberam bem as ferramentas para criar com ela. É como se tivéssemos ensinado toda uma geração a ler mas não a escrever. Uma pesquisa recente que fizemos no Reino Unido mostrou isso: 67% dos britânicos de 8 a 15 anos disseram ter interesse em aprender a programar um computador ou escrever código de software. Mas apenas 3% têm essa oportunidade. Existe uma lacuna parecida em todo o mundo, e precisamos consertar isso.

Os gigantes da tecnologia, como Apple e Facebook, estão fazendo o suficiente para espalhar a alfabetização digital?

Vemos o WebMaker como uma “grande tenda” para outras organizações e comunidades
que já estão trabalhando ativamente nessa questão. Por exemplo, trabalhamos com outras organizações e comunidades voluntárias no nosso programa “Summer Code Party”, no verão passado, no qual tivemos mais de 700 eventos de alfabetização digital em 80 países diferentes. Vemos isso como um esforço amplo, que envolve todo o mundo.

É senso comum que padrões abertos são melhores para os usuários. Porém, ao longo dos anos, algumas das plataformas mais populares são fechadas (Windows, iOS…). Por que isso ocorre?

A maior parte da web, hoje em dia, roda com software livre e padrões abertos -mesmo que muitos usuários nem saibam disso. Plataformas fechadas podem ocasionalmente ter algumas vantagens no curto prazo, mas plataformas abertas ganham no longo prazo por oferecer a abordagem mais elegante para desenvolvedores e a melhor experiência para os consumidores. Acreditamos que o HTML5 e a “web como plataforma” são ótimos exemplos disso no futuro do mundo móvel.

O HTML5 pode substituir ecossistemas fechados no espaço móvel? E por que não há avanço maior?

Ainda é o começo, mas a Mozilla acredita que a web é a plataforma definitiva para
desenvolvedores e usuários do mundo móvel. O HTML5 permitirá os desenvolvedores a criar para máquina de mesa, celulares, tablets e novos dispositivos que nem podemos imaginar.

Isso é um benefício forte e uma vantagem de engenharia básica que terá um grande impacto no espaço. O Brasil será um dos primeiros mercados no mundo a sentir essa mudança com o Firefox OS. Acreditamos que um ecossistema mais aberto, baseado em HTML5, está a caminho, com um bom número operadoras globais, como a Telefônica, dando suporte a iniciativa do Firefox OS.

A Mozilla planeja levar o Firefox OS para notebooks de baixo custo?

Como um projeto de código aberto, as pessoas, tecnicamente, poderão rodar o Firefox OS em diversos dispositivos, mas, por ora, estamos focados em smartphones.

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