O prefeito de Nova York, Michael Blomberg, avisou no ano passado que sua resolução de ano novo era programar. Quem quiser aprender qualquer linguagem de programação encontra dezenas de opções gratuitas pela internet. No momento em que várias iniciativas espalhadas pelo mundo valorizam e facilitam o aprendizado da programação, as crianças também são convidadas a entrar nesse universo, digamos, codificado. No MIT, o Scratch, um projeto do Media Lab, ensina alunos a partir dos 5 anos a darem os primeiros passos nessa arte. O objetivo não é formar programadores mirins, mas permitir que esses meninos e meninas, tendo aprendido a programar, usem a programação para aprender.
“Ao aprender a escrever códigos, [as crianças] aprendem muitas outras coisas”, disse Mitch Resnick, criador do Scratch, no TEDx Beacon Street. O especialista faz uma analogia com as habilidades de ler e escrever. “Quando você aprende a ler, você pode então ler para aprender. É a mesma coisa ao escrever códigos. Se você aprende a escrever códigos, você pode escrever códigos para aprender”, disse Resnick que usa a lógica do Lego para ensinar as crianças a programarem: em vez de uma tela cheia de codificações difíceis de aprender, a linguagem usa blocos coloridos de informação que se encaixam.
O Scratch é uma linguagem de programação e também uma espécie de rede social. Ao entrar na plataforma, o usuário já pode começar a montar seu joguinho ou arte sem muitas dificuldades. Ele precisa escolher e ordenar ações, cores e sons. Na tela, ele vai ver uma lista de ações possíveis, escritas em “blocos encaixáveis”; um espaço para programação, onde ele vai encaixando os blocos; e um espaço onde ele vê seus comandos tomarem forma, cor e movimento. São infinitas as possibilidades de produto, que podem ser jogos, artes, histórias.
Ao terminar sua programação, o usuário pode compartilhar seu produto com demais membros da comunidade Scratch. Nessa rede, encoraja-se que os alunos aperfeiçoem os trabalhos dos colegas. Lançado em 2007, o Scratch é acessado de todos os Estados Unidos e demais países de língua inglesa, Europa e América Latina, inclusive no Brasil. São quase 1,5 milhão de usuários que já produziram 3 milhões de projetos, que vão desde simples cartões de felicitações até jogos mais complexos, envolvendo fatos históricos verídicos.
Um exemplo do que pode ser feito é dado pelo próprio Resnick. Ele conta que percebeu, num sábado, que o Dia das Mães era no dia seguinte. Começou a pensar em que presente dar e resolveu fazer, ele mesmo, um cartão pelo Scratch para dar para sua mãe. Ao acessar o site, percebeu que muitos meninos e meninas tinham tido a mesma ideia e que já havia ali disponível uma série de cartões para o dia das mães. Em vez de fazer um próprio, ele enviou para sua mãe alguns feitos por criança. A mãe de Resnick gostou do que viu. ”Estou tão orgulhosa de ter um filho que criou o software que permitiu a essas crianças fazer cartões de Dia das Mães para suas mães”, contou ele. Essa ação a estimulou tanto que, no aniversário do filho, ela mesma fez um cartão de aniversário. Aos 83 anos. “Trabalhar nesse projeto permitiu-lhe fazer uma conexão com alguém com quem ela se importa. Fez também com que ela continuasse a aprender coisas novas, a praticar sua criatividade e a desenvolver novas formas de se expressar”, diz.
É exatamente neste argumento que o especialista se atém ao defender que as crianças aprendam a programar, assim como aprendem matemática ou biologia. E que essa habilidade, ao contrário de correntes contrárias de pensamento, precisa ser ensinada. “Não tenho certeza que deveríamos pensar nos jovens como nativos digitais. Como é que os jovens usam a maior parte do tempo usando novas tecnologias? Normalmente eles estão em programas de mensagem instantânea ou em jogos”, defendeu o especialista.