Educação é movida por interação e curiosidade

Porvir – 30/04/13  –  Por Raiana Ribeiro, do Portal Aprendiz

Convidado para falar sobre as transformações ocorridas na passagem do século, o jornalista espanhol, radicado no México, Antonio Navalón, avalia que a educação não é mais determinada pela quantidade de horas que uma criança passa em sala de aula, mas pela capacidade de interação e estímulo à curiosidade que ela recebe. Para que isso se dê com qualidade, Navalón defende transformações profundas no interior das escolas. Entre elas, o autor de “Parem o mundo que eu quero me informar!” sugere que os professores revejam suas identidades e escutem mais aos alunos.

“Viemos de uma cultura de silêncio dos alunos, precisamos criar o silêncio dos professores”, afirmou para a plateia de 700 diretores de escolas privadas da América Latina que participam do Congresso Visão XXUNO: O desafio de construir a escola que aconteceu no último fim de semana, em Orlando, nos Estados Unidos.

 

crédito Olly/ Fotolia.com

 

Qual o papel da educação frente ao contexto de incertezas descritos pelo senhor em sua mais recente obra?
Sem dúvida, o de formação de identidades. A medida que o mundo avançou na globalização, isso foi gerando mais necessidade de identificação. Somos seres humanos nascidos em distintos lugares e devemos ter – não para nos separar no melhor, mas para reforçar o que temos de melhor – uma ideia muito clara de quem somos, porque senão dificilmente saberemos para onde ir.

E o papel do educador, como agente nesse processo?
Estamos em um mundo em que, pela primeira vez na história, os alunos podem ensinar tanto quanto os professores. Temos que romper com as posições: já não funciona mais o professor fala, os alunos escutam. Somos uma sociedade do diálogo, então a identidade do educador é tão importante quanto a do aluno. A diferença é que eles precisam fazer o esforço de saber escutar. Viemos de uma cultura de silêncio dos alunos, precisamos criar o silêncio dos professores.

Temos que romper com as posições: já não funciona mais o professor fala, os alunos escutam

Além da escuta, que é algo a ser trabalhado nos professores, você destacaria alguma outra mudança que precisa ser operada nas escolas?
Sim, uma bem importante:  que a escola seja o baluarte de valores como tolerância, democracia, em suma, os valores que nos fazem melhores como seres humanos. Ou seja, tão importante quanto ensinar a somar, é ensinar a respeitar.

São mudanças profundas.
São e destaco uma em especial: saber que o mundo que conhecíamos não voltará. Isso indica uma mudança mental, porque se esperarmos que as coisas voltem a ser como eram, estamos fora.

Um dos grandes problemas da educação brasileira é o baixo nível de aprendizagemComo o senhor enxerga esse tipo de questão?
O que falta é cumplicidade. A educação do século 21 não é mais aquela em que a criança vai durante um determinado tempo ao colégio. A educação do século 21 é movida por interação e estímulo à curiosidade. Não pode ser que as crianças brasileiras encontrem nas ruas e na televisão mais provocações do que encontram em sala de aula.

Nesse sentido, a escola deveria então orientá-los, dar sentido ao que veem.
Sem dúvida, a escola deveria guiá-los em uma escala de valores, porque nem tudo o que veem é bom. O problema é que os professores e os Estados deveriam dar o passo seguinte em direção a uma educação moderna. O aluno e o professor devem ser cúmplices e ter uma relação baseada no diálogo. Mas é importante ser compreensivo com a nossa realidade. Em muitos lugares do Brasil e da América Latina, as pessoas ainda estão lutando para comer. Então não podemos desconhecer a nossa realidade. O crescimento deve ser harmônico, mas o primeiro ponto é dar uma perspectiva de que a educação não ocorre mais sobre horas e sim sobre diálogo e compreensão. E a primeira compreensão é a de que os problemas primários da vida – estou falando de justiça social – começam na escola e na relação da criança com o professor. O objetivo não é ensiná-los a ler, mas a serem humanos e, para isso, chegou a hora de superarmos os medos.

A repórter Raiana Ribeiro viajou aos Estados Unidos a convite do Sistema Uno Internacional (UNOi).

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