O kit está disponível apenas na versão online; o material impresso ficará pronto somente em 2014
O Cartoon Network em parceria com a Secretaria Estadual de Educação (SEE) de São Paulo e ONGs lançaram nesta quarta-feira, 15, kits para prevenção de bullying nas escolas. Formado por seis apostilas, o material é dirigido a estudantes, pais, professores e diretores. O kit, no entanto, está disponível apenas na versão online. A rede estadual receberá o material impresso somente em 2014.
A ação faz parte da segunda etapa dacampanha contra esse prática de violência, que teve início ano passado. “Faremos agora uma licitação para a impressão e distribuição das apostilas para as escolas da rede. Entregaremos ao menos um kit por escola, a partir do início do ano que vem”, afirmou Felipe Angeli, coordenador do Sistema de Proteção Escolar da SEE. Não foi divulgado o custo previsto que o órgão prevê pagar para a impressão e distribuição das apostilas.
Além disso, os professores estaduais nem sequer foram treinados para trabalhar com as seis apostilas e o módulo introdutório do kit. De acordo com Angeli, até a distribuição física do material – prevista para o ano que vem -, os professores passarão por treinamento específico.
Segundo Anthony Doyle, vice-presidente da Turner International no Brasil – empresa à qual a rede de desenhos animados Cartoon Network está vinculada -, entre 50% e 70% das crianças e adolescentes da América Latina já foram vítimas de bullying. “Estamos contentes que esses kits serão adotados e distribuídos aos alunos de São Paulo.”
Para Herman Voorwald, secretário estadual de Educação, os alunos precisa”aprender” a viver com a diferença. “Eu também já sofri bullying na escola. Os alunos que sofrem bullying não podem ficar calados”, diz Voorwald.
A rede estadual de São Paulo tem cerca de 5,6 mil escolas públicas, 230 mil professores e mais de 5 milhões de alunos.
Abrangência
Depois da campanha de mobilização, iniciada no ano passado, “nesse segundo momento é a parte mais prática”, afirma Anette Trompeter, diretora nacional da Plan Brasil, ONG que coordenou em conjunto com o Cartoon o conteúdo das apostilas.
“O kit funciona como uma espécie de caixinha de ferramentas. É preciso que ele seja utilizado em todos os níveis: pelos alunos afetados pelo bullying, pelos agressores, pais e professores. Todos os atos de violência podem ser evitados”, afirma Trompeter.
De acordo com João Helder Diniz, diretor nacional da ONG Visão Mundial, mais de 12 países da América Latina estão participando da campanha. “É preciso levantar a voz e não ficar calado diante do bullying. Essa prática tem reflexo direto no aprendizado dos estudantes. Esse ambiente hostil causado pela prática compromete o desenvolvimento da criança.”
Segundo a Visão Mundial – que financiou a tiragem inicial de cerca de 500 exemplares distribuídas no lançamento -, a proposta é que os kits que serão distribuídos em São Paulo sejam utilizados por outras redes no Brasil. “Era preciso ter um local para ser o Estado focal, e a rede de São Paulo aceitou participar da iniciativa. A intenção do Cartoon é que a ação se espalhe pelo País”, afirma Diniz.
A iniciativa do kit se soma a uma série de ações desenvolvidas pelo Cartoon desde 2011. A campanha “Chega de bullying” integra ações no canal de televisão, no Facebook e nainternet. Conta inclusive com um abaixo-assinado virtual que tem a função de fomentar a discussão do assunto dentro das escolas.
Segundo a SEE, educadores das escolas estaduais incentivaram os alunos da rede a assinarem o compromisso virtual.
Agressão verbal
Quando o assunto bullying entra na roda de discussão de crianças e adolescentes, os apelidos indesejados recebidos por colegas acaba sendo a maneira como os jovens melhor assimilam o insulto verbal. “Sempre me chamavam de gordinha e a partir do 1.º ano passaram a me insultar porque passei a ser vegetariana”, afirma uma aluna de 17 anos que estuda na rede estadual de São Paulo.
E o aspecto físico dos alunos acaba sendo alvo das agressões, até mesmo pela cor de pele da vítima. “Por eu ser mais branco que os demais, sempre me chamavam de palmitão. Na primeira vez que escutei isso, acabei numa briga”, disse um aluno de 15 anos de uma escola estadual.
E não faltam os “tradicionais” apelidos que agridem ainda mais o jovem em formação. “Até hoje me chamam de orelha de abano. Não gosto muito”, conta outro estudante, de 14 anos. Somam-se à lista “furunco” e “balão”, apelidos coletados pela reportagem junto a estudantes da escola Alexandre Von Humboldt, na Lapa, zona oeste de São Paulo.
Intolerância
Para o estudante Rafael Amador, de 16 anos, a agressão decorre da intolerância. “As pessoas precisam entender as qualidades e os defeitos dos outros. Quem pratica bullying não tem senso ético.”
E o combate pode ser dar várias formas, inclusive com uma postura mais crítica diante de situações de agressão ou até contra insultos que ocorrem no ambiente virtual, principalmente nas redes sociais. “Quem presencia o bullying e é contra a prática tem que intervir sim, senão vai ser conivente”, diz o estudante Fernando Oliveira, de 17 anos.