Matemática é a grande vilã do mercado

Diário do Pará –  Domingo, 16/06/2013.

Somente 10% dos estudantes brasileiros aprendem o mínimo esperado em Matemática no Ensino Médio, segundo dados oficiais de 2012. Esse é um dos fatores que explicam por que cursos como engenharia – entre outros, principalmente da área de ciências exatas –, nem sempre chegam a ter candidatos em número suficiente. Também se explica por aí o fato de o Brasil só formar em média 30 mil engenheiros por ano, enquanto a Coreia do Sul, por exemplo, forma invariavelmente mais de 80 mil engenheiros.

Não existe inaptidão natural para o aprendizado da matemática. Para muito além dessa crendice, que ao longo do tempo foi se espalhando entre estudantes de diferentes níveis de ensino em todo o país, o que vem de fato contribuindo para esse fenômeno – e leva muitos brasileiros a optarem pela área de ciências humanas, por exemplo-, é a qualidade inferior do ensino, especificamente nessa disciplina.Como é proporcionalmente pequeno o número de professores qualificados, notadamente no ensino público, mas também no setor privado, o que se tem é o acúmulo de deficiências desde os primeiros anos, tornando precário o aprendizado e comprometendo na maioria das vezes de forma irrecuperável a própria formação do futuro profissional.

Esses e outros dados, igualmente comprometedores acerca da educação no Brasil, vieram à tona durante evento promovido esta semana pela Vale, no Rio de Janeiro, para marcar o décimo aniversário de fundação da Valer, a universidade corporativa da empresa. A área de educação da Vale foi inaugurada em 1º de junho de 2003 com o objetivo de desenvolver pessoas e, com isso, assegurar a sustentabilidade do negócio da mineradora.

Como debatedores convidados, participaram do evento três dos maiores especialistas brasileiros na matéria – a professora e escritora Andrea Ramal, a professora e pedagoga Andrea Marinho, atual diretora de educação do Sistema Firjan, e o professor Sigmar Malvezzi, docente da Fundação Dom Cabral e do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, USP. Pela Valer participou Desiê Ribeiro, gerente de educação e desenvolvimento de pessoas da empresa.

NOTAS SOFRÍVEIS

Andrea Ramal destacou que o sofrível índice de aprendizado da matemática é apenas um reflexo das muitas deficiências que envolvem a educação no Brasil como um todo. Como exemplo, citou a reprovação de 90% dos candidatos no exame deste ano da OAB. Ocorre, disse ela, que os estudantes já chegam à universidade sem o conjunto de competências essenciais.

Essas deficiências se revelam também nas posições alcançadas pelo Brasil no último Pisa, o programa internacional de avaliação de alunos, realizado em 2009. Numa relação de 65 países, o Brasil ficou no 53º lugar nas competências ligadas à leitura e ciências e em 57º lugar em matemática, bem abaixo da média dos países da OCDE, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.

Acrescentou que, no Ideb 2011, o índice de desempenho da educação básica, a rede estadual mais bem colocada foi Santa Catarina, com nota 4,3 no ensino médio. E mais de uma rede não atingiu sequer a nota 3, indicador que avalia habilidades mínimas de matemática e português. Não menos assustador, segundo ela, foi o resultado de uma pesquisa realizada em 2012 pela Universidade Católica de Brasília. O estudo concluiu que metade dos universitários é de analfabetos funcionais.

 

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