Por Tatiana Klix – iG São Paulo |
Empresas que oferecem soluções para a melhoria do ensino no País crescem rápido e já atingem milhões de pessoas. Pesquisa mostra que há espaço para novas iniciativas
No lugar de quadro negro, caderno e livro novas ferramentas como videoaulas e games educativos ocupam espaço no ambiente educacional, seja nas escolas ou fora delas. Ao mesmo tempo em que professores e estudantes incorporam inovações tecnológicas ao seu dia a dia, surge também um novo mercado, que integra educação e tecnologia. Uma tendência mundial já há alguns anos, a área de atuação batizada de EdTech nos Estados Unidos se concretiza agora no Brasil com o surgimento de startups dispostas a contribuir para a melhoria do ensino no País e, ao mesmo tempo, ganhar dinheiro.
“O Brasil tem um atraso educacional enorme e queremos atuar para resolver esse problema. Mas temos um modelo de negócio para isso. É uma oportunidade de ouro”, diz Carlos Souza, fundador do Veduca , plataforma de vídeos online com cursos das melhores universidades do mundo.
Essas novas empresas utilizam ferramentas já testadas em outros mercados e países, como vídeos e fóruns, mas se diferenciam por adaptá-las e reinventá-las para suprir as carências educacionais do Brasil. O Veduca, por exemplo, oferece aulas gratuitas de ensino superior, um modelo de sucesso experimentado nos Estados Unidos pelo Edx (plataforma online do MIT e Harvard) e Coursera (de outras universidades top), mas faz isso em português. A Evobooks desenvolve livros-aplicativos para serem usados em sala de aula, mas que não dependem de acesso à internet, uma dificuldade grande ainda nas escolas brasileiras.
E elas crescem muito rápido. Fundadas por jovens de até 40 anos, a maioria surgiu há no máximo dois anos, mas juntas já conseguem atingir milhões de pessoas que querem aprender. “Para esse mercado se consolidar, é necessário uma conjunção de fatores. A infraestrutura brasileira não é boa, mas melhorou muito nesses últimos dois anos. Os meios de pagamento também. Teve ainda o crescimento do ecossistema de startups, com mais investidores e mais gente querendo trabalhar. Além disso, a popularização do e-commerce, com os sites de compras coletivas, fez com que as pessoas se acostumassem a comprar coisas pela internet. Olhando para trás, dá para ver que isso aconteceu”, disse Marco Fisbhen, CEO doDescomplica , site surgido em março de 2011 que tem disponível mais de 3.500 videoaulas, a maioria para quem está se preparando para o Enem, e recebeu 535 mil visitas apenas em maio.
De olho nesse mercado, surgiram também fundos dispostos a botar dinheiro em produtos relacionados à educação. Para se desenvolverem, as startups contam com aceleradoras e investidores brasileiros e estrangeiros. Por exemplo, o Veduca e o Easyaula , portal de cursos presenciais e online de preparação ao mercado de trabalho, receberam em fevereiro investimento da Macmillan Digital Education, braço de negócios digitais da editora responsável por publicações como Nature e Scientific American. Desde fevereiro, a Macmillan abriu um escritório no Brasil e mapeia outras oportunidades de negócio no País.
Para conhecer melhor o impacto das empresas de EdTech brasileiras, o iG publica a partir desta quarta-feira (27) uma série de reportagens que vai mostrar como surgiram e evoluíram o Descomplica , o Veduca , a Evobooks , e o Easy Aula exemplos bem-sucedidos de startups educacionais, mas que atuam em diferentes campos (ensino formal e informal) a partir de ferramentas diversas (vídeos, games, aplicativos, conteúdos para celular, fóruns).
Mais oportunidades
Além desses casos reconhecidos, a boa notícia para empreendedores e pessoas preocupadas com educação é que há ainda muito espaço para atuar na área. Pelo menos essa é a conclusão do estudo Oportunidades em Educação para Negócios Voltados para a População de Baixa Renda no Brasil , divulgado na segunda-feira pelo Instituto Inspirare e pela Potência Ventures. O levantamento realizado pela consultoria Prospectiva identifica oportunidades para o desenvolvimento de produtos e serviços que contribuam para o ensino oferecido à população de baixa renda.
A pesquisa analisou o contexto educacional em seis Estados – Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo –, que são responsáveis por metade do orçamento público da educação do País, cerca de R$ 100 bilhões, e levantou 190 organizações, majoritariamente startups, que desenvolvem produtos ou oferecem serviços educacionais voltados ao ensino básico, técnico e a Educação de Jovens e Adultos (EJA) das classes C, D e E.
Formação de professores em todas as etapas do ensino básico, avaliação para o ensino fundamental, oferta de cursos para o ensino técnico e criação de objetos educacionais, como jogos e softwares, para o fundamental 2, são algumas das áreas onde existe demanda, mas poucas ou nenhuma empresa atuando.