É bem possível que você, e a maior parte dos seus conhecidos, nunca tenha parado para pensar no modo como lê. A questão é que o método de leitura é sempre o mesmo – da esquerda para a direita e de cima para baixo -, o que muda é a velocidade com que se lê, adquirida por meio da prática.
Foi pensando nisso que Frank, Maik e Jamie criaram o Spritz, tecnologia capaz de gerar maior agilidade na leitura e melhor compreensão das palavras. Quando ativado, uma pequena tela se abre em cima do texto e palavra por palavra é mostrada nela, em uma velocidade escolhida pelo usuário, que varia de 100 a 700 palavras por minuto.
Segundo os criadores, 80% do tempo de leitura é gasto em mover os olhos de um lado pro outro da página, o que, segundo eles, diminui a absorção de conteúdo. E o Spritz foi criado com o objetivo de otimizar o tempo do leitor, fazendo com que seja possível ler livros, por exemplo, em tempo recorde.
De acordo com os criadores, o leitor tenta encontrar um ponto no meio de cada palavra que lê, para só assim entender o que ela significa. Esse ponto é chamado de ORP (Optimal Recognition Point), e no Spritz é representado por uma letra em vermelho. Ou seja, em meio a palavras, que aparecem uma a uma e com um ponto de reconhecimento no meio, a leitura é facilitada, segundo o que dizem os criadores.
Já Lilian Cristine Hübner, professora da Pós-Graduação em Letras da área de Linguística da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), afirma que a lógica do cérebro de um leitor proficiente é sempre antecipar as palavras, e não ler uma de cada vez. Segundo Leonardo Cruz, Neurologista do grupo de Neurologia Cognitiva da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), “as pessoas não aprenderem a ler palavra por palavra, da maneira como propõe a tecnologia, e isso pode ser um problema”. O neurologista também acrescenta que, por a leitura ser um hábito que exige esforço cognitivo, muitas vezes a pessoa tem que voltar em alguma frase ou palavra para compreender o texto – e isso não é possível via Spritz.
Segundo os criadores da startup, enquanto alguns pulam palavras na hora de ler, ou simplesmente passam os olhos em um texto, outros podem otimizar a absorção do conteúdo através do Spritz – que, ao contrário dessas “técnicas”, não requer mais de cinco minutos de treinamento.
Eduardo Pellanda, professor da faculdade de Comunicação Social da PUC-RS, diz que a tentativa de mudar o método tradicional de leitura é válida, mas que não sabe se essa é a melhor solução. “Eu prefiro o bloco de texto, estamos treinados a ler imagens, a escanear o texto”, afirma. Ao contrário do que dizem os criadores, o professor acredita que é preciso treino para aderir totalmente ao novo hábito proposto pela startup.
A redação testou o aplicativo. As palavras surgem uma a uma na tela, como flashes, o que contribui para uma leitura realmente rápida. Talvez seja interessante para textos pequenos, mas não para livros ou longas histórias jornalísticas.
Seria a agilidade, nesse caso, sinônimo de dinamismo ou de superficialidade? É possível interpretar conteúdo dessa maneira? Ou é tudo apenas uma questão de hábito?