A legislação exige que se apresente um capital social mínimo, histórico de vendas anteriores e que haja uma concorrência, o que é difícil para empresas inovadoras.
“Para os governos, comprar livros é muito fácil, porque é um processo muito maduro. Mas eles não sabem comprar tecnologia”, afirma Eduardo Bontempo, 30, sócio da Geekie.
A empresa desenvolve plataformas para testes com metodologia similar à do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e para ensino adaptativo (que identifica a forma de o aluno aprender e sugere atividades e roteiro de estudos).
“Isso é consequência de estarmos em um mercado que não existia e acredito que as instituições públicas vão se habituar a isso quando o setor se tornar mais relevante”, opina o empresário.
Por causa dessa dificuldade, ele optou por começar a apresentar a Geekie em colégios tradicionais de São Paulo como Bandeirantes, Dante Alighieri e Porto Seguro.
RABALHO DE CAMPO
Exceções à regra são possíveis (criando editais mais simples ou assumindo a inexistência de concorrentes), mas expõem o gestor governamental que faz a compra a questionamentos futuros.
Um dos que apostam na venda de cidade em cidade é o empreendedor alemão Sven Kottmann, 42, sócio da empresa, que tem escritório no Cietec (incubadora de novos negócios da USP) e desenvolve uma plataforma de jogos de perguntas feitas a partir de livros infantis.
Para aumentar as chances de sucesso, ele geralmente mostra o produto para professores que, quando gostam da ideia, o ajudam a convencer secretários de educação.
Até agora, a plataforma funciona em 25 escolas públicas e 15 particulares de 10 Estados. Para engajar os alunos no jogo, antes da Copa ele criou um campeonato entre os estudantes das instituições que usam a ferramenta.
Outra alternativa é a aposta em contratações indiretas, por meio de fundações que prestam serviços à escola.
É esse o caso da Tamboro, que oferece o game “Ludz” para o ensino de matemática e português a partir de um sistema que se adequa ao nível de aprendizado dos alunos do 5º ao 9º ano. O sistema começou a ser testado em escolas da rede pública em parceria com ONGs e fundações empresariais.
No momento, mantém relação com Fundação Telefônica Vivo, Instituto Natura, Fundação Lemann, entre outras, e tem perspectivas de estar em 30 colégios no segundo semestre deste ano.
“A gente tem visto muito interesse de escolas em implementar pilotos da plataforma e testar os resultados” diz Maíra Pimentel, 38, sócia da Tamboro. “Mas há dificuldades para que elas encontrem mecanismos para que a máquina governamental compre diretamente de uma empresa pequena. Ficamos sem saber o que fazer.”
CAÇA-EDITAIS
A Evobooks, que produz aplicativos educacionais com imagens em 3D, conseguiu entrar nas escolas públicas aproximando o modelo de seu produto dos livros didáticos, mais fácil de ser compreendido pelo setor.
A empresa também se especializou em descobrir onde estão os prováveis clientes e em entender as regras dos editais de inovação no ensino, diz Felipe Rezende, 28, sócio da empresa.
“Temos de mapear quais escolas estão propensas a inovação. Ficamos atentos para ver onde estão saindo editais para compra de tablets para escolas, porque é provável que nessa região existam oportunidades.”
A empresa vendeu sua solução para cerca de 950 escolas públicas.