Fonte: Estado de Minas (MG) – 29 de outubro de 2014
“Brasil é um dos países em que o profissional da Educação recebe os menores salários do mundo”, afirma Christiano Rocco
Investir em Educação não é uma tarefa simples, requer planejamento e, sobretudo, tempo e paciência para colher os frutos e começar a enxergar resultados. Discutir Educação significa dimensionar inúmeras questões essenciais para o bom funcionamento do sistema de Ensino de um país, como a infraestrutura física das instituições, ações de formação continuada e diminuição da evasão Escolar e a grade curricular.
Analisar esses pontos – e outros tantos que merecem a atenção dos governos – é o caminho para começar a se pensar em uma Educação pública de qualidade, que, no caso do Brasil, é comprometida por uma questão que, talvez, seja a chave de todo o debate em torno dessa pauta: a valorização do Professor.
O Brasil é um dos países em que o profissional da Educação recebe os menores salários do mundo. De acordo com dados divulgados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os salários daqui são muito baixos, se comparados aos que são pagos em países desenvolvidos, já que um Professor brasileiro, em início de carreira, que dá aulas para o Ensino fundamental em Escolas públicas, recebe, em média, US$ 10.375 por ano.
Por outro lado, Luxemburgo, país que apresenta o maior salário, paga US$ 66.085 dólares aos seus Docentes, valor quase sete vezes maior que o do Brasil. As estatísticas fazem parte do estudo Education at a Glance 2014, que fez um mapeamento das 43 nações-membros da OCDE e de mais 10 parceiros, incluindo o Brasil.
E quais as consequências da falta de atenção do poder púbico com os Professores? Podemos listar várias, mas a principal delas é, sem dúvidas, a desmotivação do profissional, que, para ganhar razoavelmente bem, é obrigado a trabalhar três turnos e a assumir papéis de coordenação e até administrativos nas Escolas. Mas essa é só a ponta do iceberg. Na sua rotina de trabalho, o Professor da rede pública de Ensino no Brasil, em sua maioria, ainda lida com condições precárias das salas de aula, falta de material, livros e, não raro, ainda é vítima do abuso e da violência promovidos por Alunos.
No entanto, crescemos nos últimos anos. Alguns programas desenvolvidos no Brasil demonstram que a Educação tem conquistado um espaço cada vez maior na agenda de discussão do governo, em suas diversas instâncias, e tem aberto portas significativas para o Ensino dentro e fora do país.
Além disso, uma importante conquista dos últimos tempos foi a aprovação da Lei dos Royalties do Pré-Sal, que destinará 75% dos recursos da exploração da reserva petrolífera para a Educação, garantindo que, até o fim do ano, diferentes setores recebam cerca de R$ 3 bilhões e que, em 35 anos, seja repassado R$ 1,3 trilhão. Temos, ainda, o Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado em junho, que eleva o investimento em Educação para 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2024. Atualmente, esse percentual é de 6%.
Com a realização dos investimentos previstos e com o bom funcionamento (e a ampliação) dos programas do governo, é possível se pensar em melhores condições da Educação pública, tendo como um dos principais objetivos a valorização dos Professores, do Ensino básico à pós-graduação, pois uma nação que não olha para os seus mestres e não entende o seu papel de agente social dificilmente compreende que educar é um ato político, é preparar o indivíduo para enxergar o mundo que existe para além de si mesmo. No mês do Professor, nada mais adequado e contemporâneo do que uma das lições deixadas pelo Educador Paulo Freire: “Se a Educação sozinha não pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda”.