Porvir – Por Carolina Lenoir – 07/05/15
Evento em São Paulo terá palestra sobre novo modelo de avaliação, que prevê envolvimento de alunos, pais, professores e supervisores
Segundo a consultora em avaliação e doutora em educação e psicologia da criança e do adolescente pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, esse novo modelo é um modo humanizante de se olhar o processo avaliativo, que reforça potencialidades e sucessos. Para ela, ênfase na direção positiva não elimina a percepção dos aspectos negativos. Não se trata de ignorar os problemas, mas de descobrir as potencialidades do aluno, respeitar a sua autoestima e dar a ele a oportunidade de reconhecer seus acertos para, dessa forma, ter condições de enfrentar suas falhas e pontos de dificuldade. “A hierarquia deve ser primeiro diagnosticar o que está dando certo, ou seja, descobrir a realidade no seu lado mais promissor, e depois o que precisa ser corrigido. É essa a avaliação que transforma, por perder o caráter repressivo e ir além do quantitativo. É a substituição da avaliação de ‘pontos’ pela avaliação de ‘ponta’”, diz.
A ideia desse modelo é promover o diálogo nessa etapa de transição, em que há a preocupação de tornar a avaliação mais moderna, democrática e participativa, impregnada pelo respeito ao avaliado e com a possibilidade de uma troca de papeis, em que o avaliador também se torna avaliado e vice-versa. “Nessa perspectiva, a questão crucial é descobrir o que é preciso fazer para criar e desenvolver avaliações que sejam realmente utilizadas para reduzir incertezas, melhorar a efetividade e tomar decisões relevantes”, explica Thereza.
Há um consenso entre especialistas da área em relação aos padrões de excelência para a avaliação no século 21, definidos de acordo com critérios como utilidade, o que significa que uma avaliação não deverá ser realizada se não for útil para tomadas de decisões; viabilidade, segundo o qual ela terá que ser conduzida de forma prática e efetiva, com linguagem clara e direta; ética, no respeito aos indivíduos ou instituições, sem formular juízo se não houver a informação mais completa sobre o contexto e as condições em que será realizada; precisão, com garantias de que a metodologia utilizada é a mais adequada ao que está sendo avaliado; e prestação de contas, em que há transparência no processo, com explicações claras sobre como será feita a avaliação e quais critérios serão utilizados.
Porém, para que esses padrões sejam efetivos, é importante entender qual é o mérito ou qualidade do processo avaliativo e se ele irá provocar algum resultado, defende a consultora. Primeiramente, a avaliação deve ser entendida de fato como um processo, e não como um evento do calendário escolar. Para avaliar o aluno, o professor precisa antes se perguntar como foram as aulas, em que condições o estudante foi ensinado, se houve algo digno de nota na classe ou no ambiente familiar do aluno que poderia influenciar o processo. Ou seja, houve condições para o aprendizado? Nesse sentido, torna-se imprescindível não só a autoavaliação do próprio professor e o feedback dado por superiores, colegas e alunos, mas também a capacitação do avaliador.
Esse tipo de formação ainda é um grande desafio no Brasil, de acordo com Thereza. “Trabalha-se a didática do professor, o como ensinar, mas não o como avaliar. Em geral, o professor avalia da mesma forma como ele foi avaliado quando aluno, mas os paradigmas mudaram. É preciso não só capacitar os profissionais para realizar avaliações dentro do modelo apreciativo, mas também tirar preconceitos e rótulos.” Um deles, segundo a especialista, é em relação à promoção do aluno. “A repetência, comprovadamente, não melhora o aprendizado. Deixar o aluno com dificuldades e reprová-lo, mesmo com boas intenções, não adianta nada. O ideal é avaliar tão bem que não seja necessário reprovar.”
Isso quer dizer que, se o processo avaliativo ao longo do ano letivo for feito de forma a identificar potencialidades e pontos a serem aprimorados, o professor pode investir no reforço do conteúdo, na variação do método de ensino, na análise do contexto de aprendizagem e na motivação do aluno para, dessa forma, alcançar bons resultados. Com isso, muda-se o conceito de avaliação do classificatório para o promocional. “Um bom professor de ensino básico conhece a sua disciplina em todas as séries, não só na que ministra aulas atualmente. Por saber a continuidade da matéria, ele tem condições de antecipar as dificuldades do aluno e ajudá-lo na trajetória para a próxima série“, afirma Thereza, acrescentando que a participação da família nesse processo é fundamental, especialmente quando ela ainda acredita que a reprovação é a melhor saída.
As novas tecnologias podem ser boas aliadas nesse esforço, por estarem inseridas no dia a dia do aluno e ajudarem a promover o engajamento necessário. Para a especialista, o professor deve lançar mão de qualquer recurso que assegure uma avaliação de qualidade e que simplifique e agilize os processos, seja utilizando computadores, tablets, smartphones ou outras ferramentas, desde que eles agreguem e não substituam o diálogo e a relação interpessoal entre aluno e professor. “Essa interação é fundamental e pode ser potencializada pelo uso da tecnologia se o profissional souber utilizá-la, inclusive não só limitando a sua aplicação, mas também respeitando o uso desses dispositivos pelos alunos. A tecnologia é ótima, desde que se saiba quando ligá-la e desligá-la”, finaliza.