02/07/15 – Terra Educação
No ano em que o Brasil foi chamado pela presidente Dilma Rousseff como “pátria educadora”, os bastidores da educação revelam falta de coordenação entre as diversas esferas do poder público para tocar o Plano Nacional da Educação (PNE).
Professores da rede estadual de ensino de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Goiás e Pará pararam o país no início deste ano para denunciar a situação de “sucateamento” e “desmonte” do setor, termos repetidos como palavras de ordem durante as manifestações em abril e maio.
Esses acontecimentos registram o que especialistas em educação classificam como “crise”, reflexo sobretudo do desincentivo à formação especializada, baixos salários e do “enxugamento” dos funcionários, como apurou o EFE Escola (www.efeescola.com.br), site de educação da Agência de Notícias EFE que está no ar desde o primeiro semestre de 2015.
O Brasil, por exemplo, é lanterninha em um ranking internacional que comparou em setembro do ano passado a eficiência dos sistemas educacionais de mais de 30 países, baseando-se em dados como os salários dos professores, condições de trabalho na escola e o desempenho escolar dos alunos.
Os dados colocam o sistema educacional brasileiro como o mais ineficiente da lista, segundo a consultoria.
“São várias questões que concorrem para se conseguir uma educação de qualidade. Não vamos mudar a qualidade da educação mexendo em apenas um fator, mas o professor sem dúvidas é o fator central, a variável mais importante”, afirma a coordenadora da ONG Todos pela Educação, Alejandra Velasco.
Para a coordenadora, ser professor hoje em dia não é uma atividade “atraente”, especialmente pela remuneração baixa e por quase não existir plano de carreira.
Segundo ela, isso faz com que falte professores especializados na rede pública, pouco atraídos pelos baixos salários e pelo quadro pequeno de profissionais.
Com isso, o Brasil enfrenta uma das mais perversas consequências da má remuneração já que a educação de menor qualidade afeta o desenvolvimento político, econômico e social a partir da formação de “cidadãos menos críticos”, avalia a diretora.
Em São Paulo, uma das reivindicações da rede de professores estaduais foi a aplicação da lei do PNE, que propõe um reajuste salarial de 75% até 2020, como explica a presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeosp), Maria Izabel Azevedo Noronha.
“A lei propõe que até 2020 seja aplicado o reajuste. O Governo tem seis anos para aplicá-lo. Se você fizer a divisão isso representaria de sete a oito porcento ao ano até 2020”, destaca a sindicalista que terminou a greve sem acordo para um reajuste.
A superlotação é outro desafio enfrentado pelos professores no dia a dia do ensino, com uma média de 40 horas semanais de carga horária divididas entre cerca de 20 turmas de 45 a 50 alunos.
A conta totaliza mil estudantes por professor em média, o que dificulta o processo de ensino e aprendizagem, além de impactar diretamente na qualidade de ambos, segundo Maria Isabel.
“O professor ainda tem que trabalhar em duas, três ou quatro escolas para completar a quantidade mínima de turmas e acaba desistindo da profissão, enquanto tem alunos que nunca tiveram aula com um professor de física e cursam a disciplina com outros que não são da área”, afirmou.
A sindicalista ressalta ainda que o “enxugamento” da educação pública prejudica diretamente os professores e os estudantes.
A Apeoesp estima que tenham sido fechadas 3.390 salas de aula no início desse ano, número que Maria Isabel classifica como “estopim” para a greve que durou três meses no início deste ano.
“Quando o Governo do Estado faz isso ele demite professores – e foram demitidos 22 mil professores – e os efetivos se não completarem a jornada ficam encostados”, explicou a sindicalista.
Entre os professores “encostados” a consequência é certeira: não ter a aposentadoria integral.
“Meu medo é que na ausência de não termos uma carreira e salários atrativos, isso acabe desestimulando os jovens de serem professores”, lamentou Maria Isabel, ao lembrar que a situação é semelhante nos demais Estados do país.
Ela crê que falta uma consolidação do PNE para ter mais diálogo entre União, Estado e Município, numa espécie de reforma do setor que esteja de acordo com o conceito de pátria educadora.
“A educação precisa ser concebida como uma política de Estado e não partidária ou de Governo. Por isso que o tema “Brasil Pátria Educadora” é provocativo – no sentido de forçar a sociedade a lutar para que a educação seja um bem comum garantido na sociedade”, ressalta.
Apesar da sociedade reconhecer o problema da educação, os estudantes reclamaram que a demora das soluções levará a que 2015 seja um ano com deficiência acadêmica por causa da perda das aulas.
“A desvalorização do professor afeta diretamente o ensino, porque desmotiva e a situação complica. Faltam professores para preencher disciplinas, o calendário atrasa e isso implica em muitas perdas por puro descaso de governos. Péssimo ano para a educação”, opinou a estudante da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Aline Czezacki.