Fonte: A Tribuna (SP) 14 de julho de 2015
Para especialistas, não basta empurrar a tecnologia para dentro da sala de aula
Métodos do século 19,mais professores do século 20 e alunos do século 21. Desta forma, a conta da educação não fecha. É assim que o educador e filósofo Mario Sérgio Cortella analisa o dia a dia das salas de aula no País. A solução, porém, não é apenas empurrar a tecnologia para dentro da escola. Para Cortella e especialistas, é fundamental entender o papel do professor e levar em consideração o mundo dos alunos.
“Muitos professores falam:‘os alunos não são mais os mesmos’.Então eu me pergunto:por que eles dão aula do mesmo jeito?”, questiona Cortella, provocador. Segundo ele, para conseguir minimizar os conflitos,o professor precisa ficar atento ao que é arcaico – do passado e que lá deve ficar – e ao que é tradicional e deve ser levado para sempre. Já sobre o novo, tecnologia, por exemplo,ele garante que é preciso entender o papel que ela deve ter.
“Tecnologia é ferramenta. O principal é entender o que emociona nossos alunos e trabalhara partir disso, usando a tecnologia como ponte”. Em sua opinião, a internet proporciona informação. Mas informação é apenas o caminho para se alcançar o conhecimento.E é do professor a tarefa de conduzir isso.
A consultora de Educação da Bett Brasill,Vera Cabral Costa, pensa semelhante. Segundo ela, professor não é a fonte única do conhecimento e o Google está aí para provar isso. O que aprender também mudou e datas e “decorebas” hoje não fazem diferença, já que a informação está disponível em todo lugar.“Oque vale é a capacidade de usar a informação e transformá-la em conhecimento. A tecnologia não desvaloriza a profissão docente. Ao contrário.De transmissor do conhecimento,o professor passa a ser o maestro da transformação do aluno em cidadão autônomo”.
Barreiras
Andrea Guedes tem 35 anos e é professora orientadora de informática educacional (poie).Ela concorda que as aulas devem ser mais atrativas para que a aprendizagem dos alunos possa ser mais efetiva. No entanto, há barreiras a vencer,para que a teoria de aulas dinâmicas para atender essa nova geração de alunos vire prática.“Hoje a informática, que é como que trabalho, por si só não é uma novidade para os alunos. O papel dela é contribuir como ensino em todas as outras matérias. Mas isso ainda acontece de diferentes formas”.
Para Andrea, a rede particular consegue integrar melhor a tecnologia às disciplinas. Já na rede pública, a questão esbarra na demora burocrática para que os equipamentos cheguem às salas de aulas.“Há também a resistência de alguns professores a ferramentas tecnológicas. Por outro lado, muitos educadores trabalham mais de um período e falta tempo para que eles se qualifiquem”. Na opinião dela,pensar na educação do século 21 é equacionar esses problemas.
Indisciplina
Porém, nada assusta mais no dia a dia escolar do que a indisciplina, diz Cortella. E isso, afirma, vem de casa. “ Os pais de agora tiveram um descuido:acharam que seus filhos eram seus pares e não seus subordinados”. Assim,para ele, as crianças crescem confundindo desejo com direito e um exercício na escola é uma afronta.
Além disso, o cotidiano que deixa os pais mais ausentes também impacta. “Às vezes, o primeiro adulto que o aluno vê no dia é o professor perguntando da lição e exigindo disciplina.Aí ele vai para cima mesmo”. Por isso, Cortella defende que trabalhar a indisciplina não deve ser uma ação isolada entre professores;precisa fazer parte de um projeto político pedagógico e que,necessariamente, precisado apoio da família.