Um artigo publicado nesta quinta-feira no site da revista especializada Science reúne dados de programas de educação em diversos países para tentar traçar um mapa de quais medidas dão – e quais não dão – certo na escola. Entre os resultados, os autores destacam programas de desparasitação como os de melhor custo-benefício. Além disso, eles afirmam que os propagandeados programas de uso de tecnologia na escola dão certo – mas somente se estes se adaptarem à capacidade de aprendizado dos alunos.
“Desparasitação em escolas cortou o absentismo em um quarto em um estudo no oeste do Quênia, e estudantes de escolas próximas (que não participaram da ação) também compareceram mais devido à intervenção que interrompeu o ciclo de transmissão da doença. Cada US$ 100 investidos em desparasitação de massa nos colégios pode gerar mais 14 anos de escolaridade”, dizem os autores do artigo – Michael Kremer, Conner Brannen (ambos da Universidade de Harvard) e Rachel Glennerster (do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, MIT). Segundo os pesquisadores, um programa no sul dos Estados Unidos também mostrou grandes benefícios desse tipo de medida.
Outro tipo de ação elogiada pelos autores são os chamados programas de “transferência condicional de dinheiro”, ou seja, apoio financeiro do governo a pais pobres para que estes mantenham seus filhos na escola. Uma ação pioneira do México, em 1998, aumentou a transição de meninas do ensino fundamental ao médio em 14,8%, e 6,5% no caso dos meninos. Após o sucesso mexicano, outros 30 países tentaram esse tipo de programa e com resultados similares.
Outro problema que diminui a presença escolar é a distância dos estabelecimentos de ensino ao aluno. No Afeganistão, um programa que incentivou comunidades a doarem espaços para estabelecer escolas regionais aumentou a participação de meninas em 42%. A participação de alunas cai 19 pontos percentuais e de meninos, 14 pontos percentuais a cada milha adicional até a escola.
Além da presença do aluno em sala de aula, a qualidade do ensino também é analisada pelos autores – e, segundo eles, esta costuma ser muito baixa. Na Índia, 31% das crianças na terceira série não conseguem reconhecer palavras consideradas simples. Além disso, 19% dos professores não estavam presentes durante visitas não anunciadas a escolas em seis países.
Um programa com resultado curioso ocorreu no Quênia. Ao aumentar a quantidade de livros e apostilas distribuídos aos estudantes, o governo esperava uma melhora significativa na educação. O resultado, contudo, não foi o esperado. A média dos estudantes não teve melhora visível nos testes. Por outro lado, os melhores estudantes tiveram notas ainda maiores. Para os autores, a explicação é que os livros foram criados “na medida” para os alunos com boas notas – e isso ocorre em muitos países.
Uma solução para isso seria a tecnologia. Um software de aprendizado utilizado na Índia permitia que as crianças aprendessem matemática ao seu próprio passo. O resultado, afirmam os pesquisadores, foi significativo. Por outro lado, o programa “Um laptop por criança” no Peru e o uso de um software na Colômbia não tiveram o resultado esperado. Segundo os autores, dois seriam os motivos: o fato de os programas não se adaptarem a cada criança e, na ação colombiana, de os computadores não serem utilizados rotineiramente em sala de aula.