Terra Educação – 21/02/2013 – São Paulo, SP
Em 21 de fevereiro, é celebrado o Dia Internacional da Língua Materna, proclamado pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) para promover a diversidade linguística no mundo. A data lembra o trágico dia em que estudantes que protestavam pelo reconhecimento de sua língua – o bengalês – como um dos idiomas oficiais do então Paquistão, em 1952, foram mortos pela polícia em Daca, hoje capital de Bangladesh. O dia representa um esforço para promover a preservação e proteção de todas as línguas faladas pelos povos do planeta.
Neste ano, a Unesco e outras agências especializadas da Organização das Nações Unidas (ONU) participam de eventos que promovem o multilinguismo e a diversidade cultural. Essas instituições também encorajam as pessoas a manter o conhecimento de sua língua materna ao mesmo tempo em que aprendem e utilizam mais de um idioma. Organizações governamentais e ONGs devem aproveitar esta quinta-feira para anunciar políticas de apoio ao ensino e manutenção de diversas línguas.
Em todo o mundo, existem quase 7 mil línguas conhecidas. Desse total, aproximadamente 200 desapareceram nas últimas décadas, segundo dados do Atlas Unesco das línguas em perigo no mundo. Há centenas de outras em situação crítica, seriamente ameaçadas ou em estado vulnerável. Praticamente um terço das línguas faladas no mundo hoje está em risco de extinção, aponta a última edição do livro Ethnologue, publicada em 2009. Uma nova versão desse estudo será publicada neste ano.
No Brasil, atualmente são faladas cerca de 210 línguas, de acordo com estimativa do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Os grupos indígenas falam cerca de 180 línguas, e as comunidades de descendentes de imigrantes – como italianos e alemães -, cerca de 30 línguas. Além disso, pelo menos duas línguas de sinais de comunidades surdas são utilizadas em território brasileiro, onde também existem práticas linguísticas associadas à presença de povos e línguas africanas, remanescentes principalmente de quilombos e comunidades religiosas.?
Grande parte dessas línguas, porém, corre risco de desaparecer. Entre as línguas indígenas que restam no País, muitas correm alto risco de extinção. Desde o início da colonização portuguesa no Brasil, os povos indígenas tiveram sua população drasticamente reduzida ao longo dos séculos, o que ocasionou uma diminuição do número de idiomas indígenas falados no território nacional. Levantamento do linguista Aryon Rodrigues, da Universidade de Brasília (UnB), aponta que 1.078 línguas indígenas eram faladas no País há 500 anos.
Línguas em risco de extinção no Brasil
Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o País conta com uma população indígena de 896,5 mil, dividida em 305 etnias, que falavam 274 idiomas. Estima-se que esse número tenha decaído, e a situação pode se agravar: entre todas as línguas faladas por povos indígenas no País, muitas apresentam grande risco de extinção.
O quadro geral é bastante diversificado, pois enquanto línguas como o puruborá são consideradas virtualmente extintas, dentro de um cenário de progressivo extermínio de seus falantes originais ao longo dos séculos, idiomas como o jurúna apresentam menor risco de desaparecer – apesar de ter sofrido diversas mudanças após o contato com outros povos.
Pelo menos quatro línguas em risco de extinção são lembradas, e não faladas, por um número muito reduzido de pessoas, que dominam apenas palavras e termos isolados dos idiomas. São línguas virtualmente extintas