Primeiro, os alunos precisam identificar os problemas que os incomodam na escola. Em seguida, imaginar alternativas para resolvê-los. Depois, colocá-los em prática. E, por último, compartilhá-los com todos. Essa sequência de ações acontece na escola municipal Padre José Pegoraro, no Grajaú, zona sul de São Paulo. Entre os diagnósticos feitos pelos estudantes está, por exemplo, o combate à sujeira. Para resolver o problema, um grupo decidiu substituir as tradicionais lixeiras pretas por outras mais divertidas. Enquanto isso, outra equipe se incumbiu de limpar os palavrões das portas dos banheiros. Iniciativas como essas fazem parte de um projeto-piloto realizado, desde o segundo semestre deste ano, pelo Design for Change, movimento global que desde 2006 encoraja crianças a mudarem a realidade de onde vivem usando o design. No coração do programa estão os verbos sentir, imaginar, fazer e compartilhar.
“Quando um designer projeta um móvel, ele precisa pensar não apenas na beleza, mas na funcionalidade. O mesmo se aplica na educação: por que não pensar na solução dos problemas de forma empática?”, afirma Carolina Pasquali, idealizadora do Design for Change no Brasil. Esse é o propósito na escola no Grajaú. Antes mesmo de os alunos porem a mão na massa, são os professores quem aprendem a atrelar o design thinking – que usa diferentes jeitos de pensar de um design para resolver uma determinada situação – à educação. Ao menos uma vez por semana, Carolina e mais duas parcerias acompanham o cotidiano da escola e dão workshops para ajudar os professores em atividades que adotem o conceito. “Entre as técnicas há, por exemplo, uma em que os professores estimulam os alunos perguntando até cinco vezes o porquê de um determinada situação de forma a ajudar que os estudantes deem respostas para chegar à raiz do problema. Isso serve para tudo: para a vida da pessoa e para a sala de aula em várias situações”, diz.
A história
Muito antes de lançar, em fevereiro deste ano, a página em português do Design for Change, Carolina já namorava a ideia de longe. Se apaixonou pelo projeto depois de assistir a uma palestra no TED de Kiran Bir Sethi, fundadora do programa e que dirige até hoje uma escola na cidade de Ahmedabad. Começou a querer entender a história do Design for Change no Brasil. Mapeou no país possíveis projetos que adotassem o modelo. “Existia, mas não existia”, revela. “Um casal de franceses, que mora durante metade do ano no país e o outro em Buenos Aires, tem também uma casa no Ceará e realiza projetos sociais envolvendo o design”, afirma.
Carolina então pediu demissão do trabalho estável em uma empresa de comunicação e decidida a encontrar parceiros globais, participou, em novembro do ano passado, do encontro mundial sobre o tema, que reuniu pessoas de 38 países.
Até agora, o trabalho de Carolina é realizado de forma voluntária. Ela está no processo de abertura de uma ONG e a ideia é que, em 2013, participe de editais de educação e se aproxime das secretarias de educação para pensar em práticas em conjunto. Para projetos como no Grajaú, ela pede ajuda. Nesse caso específico, os estudantes se juntaram para se inscrever naVakinha, em busca de R$ 1.300,00 para compras de tintas, sprays e papeis. Para alcançar esse valor, os alunos decidiram gravar um vídeo em que contam como a iniciativa vai transformar a realidade deles e estão aceitando doações até o dia 16.