Portal Aprendiz – Flávio Aquistapace – 16/04/13
Surgidas na Espanha, por volta de 1995, as chamadas Comunidades de Aprendizagem tomaram pra si um desafio já conhecido entre os brasileiros: superar o fracasso educacional e reverter os baixos índices de aprendizagem. Com foco tanto no aspecto instrumental do saber, quanto nos laços da comunidade com a escola, a metodologia aplicada hoje em 120 instituições de ensino colhe os resultados de uma educação fundada no diálogo e na participação.
De acordo com Marta Soler, doutora do departamento de Teoria Sociológica, Filosofia do Direito e Metodologias das Ciências Sociais da Universidade de Barcelona, a interação é uma das principais chaves para melhorar o aprendizado. “A criança aprende quando está em contato com pessoas que a ajudam a criar um repertório mais completo”, afirma.
Para que isso aconteça, a comunidade em torno da escola precisa ser constantemente requisitada, tanto em atividades pedagógicas colaborativas quanto nas decisões do dia a dia. Nas Comunidades de Aprendizagem espanholas, pais de estudantes, lideranças comunitárias e até ex-alunos são convidados a contribuir para o sucesso escolar de todos.
Leitura e Interação
Nesta concepção de ensino, a leitura assume um papel fundamental, na medida em que constitui um dos espaços privilegiados da escuta e do diálogo na elaboração da fala, da participação, e da capacidade argumentativa. De acordo com Marta, “leitores estão naturalmente numa cadeia de diálogo, estabelecendo comparações entre o que se lê e o já lido, aguçando seu senso crítico e reflexivo”.
Em sala de aula, a proposta de espaços de convivência e aprendizagem entre estudantes e comunidades se converte em três atividades. Tratam-se das “Tertúlias dialógicas”, os “Grupos interativos” e as “Bibliotecas tutoradas”, com periodicidade semanal.
A primeira são rodas de leitura de clássicos universais adaptados para crianças. A mediação acontece tanto por professores quanto por voluntários comunitários. O principal objetivo é que todos participem relacionando o que foi lido com suas próprias vivências e, pouco a pouco, passem a compartilhar suas percepções, contando qual importância teve aquele contato com a leitura.
Os “Grupos interativos” são dinâmicas nas quais a turma é dividida em quatro subgrupos e cada um deve cumprir um exercício sobre o conteúdo estudado durante a semana. Cada tarefa dura por volta de 20 minutos, quando então os estudantes mudam para o desafio seguinte.
Cada subgrupo conta com um tutor – algum dos voluntários da comunidade – que acompanha os trabalhos. “Foi observado que, com a presença dos pais na escola, as crianças tendem a se esforçar mais para aprender, ganhando tanto em aspectos instrumentais quanto na convivência”, explica a diretora do Crea.
Já as “Bibliotecas Tutoradas” são visitas monitoradas à biblioteca da escola, no turno oposto ao das aulas, para estudos orientados e reforço escolar promovido pelos próprios alunos, com supervisão de voluntários e também da própria equipe da biblioteca. Nestes momentos acontece o encaminhamento de pesquisas ou mesmo a constituição de grupos de estudo específicos sobre um determinado assunto.
Transformações
Marta Soler aponta que, em todas as escolas da Espanha que o projeto foi aplicado, houve melhora do desempenho nas avaliações nacionais. Além disso, em questionários respondidos pelas instituições, também são mencionadas as transformações nos vínculos sociais da comunidade.
“Os indicadores de acesso à saúde, ao emprego e à participação política melhoraram nas comunidades que adotaram o projeto, situados normalmente em locais de alta vulnerabilidade social”, finaliza.
As Comunidades de Aprendizagem foram tema do 3º Encontro Internacional sobre Comunidade de Aprendizagem, realizado pelo Instituto Natura na última quinta-feira (11/4), em São Paulo, com participação de Marta Soler, Roseli Mello e demais convidados.