Por meio de questionários, foram entrevistados 400 donos e diretores de escolas públicas e privadas, de ensinos fundamental e médio do Estado, para avaliar o nível do preparo dos dirigentes das escolas em relação ao uso de mídias sociais pelos alunos, os níveis de alerta e de conhecimento sobre cyberbullying e se existem escolas que já incorporaram em sua grade curricular a disciplina educação digital.
“Um dos fatos que nos surpreendeu foi saber que 82% das escolas públicas permitem que professores sejam amigos virtuais e mantenham contato com seus alunos em redes sociais e grupos de WhatsApp. O professor mantém maior contato. Já nas escolas privadas são 76,75%”, diz o advogado Renato Opice Blum, presidente do conselho de TI da federação.
Mas também chama a atenção, ressalta, que entre as que afirmaram permitir o contato somente 36,59% das escolas públicas informaram estipular regras claras sobre essa relação virtual. Nas instituições privadas, sete em cada dez (72,64%) disseram possuir regras de conduta.
A pesquisa destaca ainda que metade dos dirigentes das escolas públicas informaram estar preparados para resolver os conflitos dos alunos ocorridos no ambiente virtual. Entre as escolas particulares, esse percentual é de 77,25%.
Quando o assunto é ter planejamento de procedimentos a serem adotados se ocorrerem conflitos ou incidentes digitais envolvendo seus alunos, como cyberbullying e sexting (o ato de compartilhar mensagens de conteúdo sexual usando das tecnologias digitais com uma ou mais pessoas) 64,2% das escolas, na média, se dizem preparadas. Entre as públicas, esse percentual é de 55% e nas privadas, 66,5%.
“No caso de cyberbullying o que vemos, de forma geral, é que há um atraso da escola em tomar conhecimento. E, ainda que tome ciência de forma atrasada, não há um comitê multidisciplinar formado, com pedagogos, advogados e psicólogos, para avaliar medidas e buscar alternativas com agilidade”, diz Blum.
Em março deste ano,alunos do colégio Bandeirantes vazaram informações em redes sociais conteúdo de reuniões sigilosas de professores da escola. Nelas havia informações pessoais sobre alunos e ex-alunos. O episódio virou polêmica sobre a forma como dirigentes lideram com o tema.
RESPONSABILIDADE
No geral, a maior parte dos dirigentes (68%) considera que a responsabilidade pelo que os alunos fazem na internet e em seus próprios dispositivos móveis dentro da escola é de pais, escolas e professores: 12,2% creditam a responsabilidade à escola; 9,6% aos pais; 8,4% aos professores; 1% não permite o uso na escola; e 0,8% não sabe ou não respondeu.
Sobre a relevância do tema “educação e cidadania digital” –preparar o aluno para a era digital ensinando direitos e deveres, uso adequado das tecnologias e de segurança da informação e privacidade, 99,4% dos entrevistados admitem sua importância.
Entretanto, a maioria das escolas (95,6%) públicas e privadas do Estado de São Paulo afirma não possuir a disciplina Educação Digital em suas grades curriculares. Somente 4,75% das escolas privadas adotaram a disciplina, como determina o artigo 26 do Marco Civil da Internet – a lei 12.965, criada em abril de 2014, que regula o uso da internet no país. Nas escolas públicas, esse percentual cai para 1%.
Entre as escolas públicas, oito em cada dez (83%) não sabem o que é o Marco Civil da Internet e 54,12% não estão cientes da obrigatoriedade da lei que inclui o tema nas escolas. Outras 65,9% das instituições afirmaram que não há a intenção de incluir a nova disciplina na grade curricular.
“Curioso é que elas admitem a importância de discutir conceitos básicos de segurança, ética e responsabilidade no uso da internet com os alunos, antes de introduzir noções de informática, mas não pretendem instituir a disciplina”, afirma o presidente do conselho de TI da entidade.
“O envolvimento e a inserção de crianças, adolescentes e adultos no ambiente digital é uma realidade. Seja por meio de videogames, objetos, internet ou celulares. É extremamente necessário que profissionais, pais e educadores estejam aptos a lidar com esse cenário”, completa.