Especialistas reclamam de deficiência no estudo de língua estrangeira no ensino médio

Agência Câmara Notícias  – 20 de março de 2013  

Para docente, ensino de inglês e de espanhol enfrenta problemas estruturais e de formação profissional

Especialistas reclamam de deficiência no estudo de língua estrangeira no ensino médio

As deficiências no ensino de línguas estrangeiras foram o principal tema discutido na audiência pública desta terça-feira, 19, na comissão especial que estuda conjunto de reformas para o ensino médio.

O relatório ‘De olho nas metas de 2012’, do governo federal, constatou que menos de 30% dos alunos do ensino médio conhecem o português de forma compatível ao nível exigido.

No caso de idiomas estrangeiros, salas superlotadas e uma carga horária ainda menor dificultam o aprendizado no ensino básico. Segundo a professora da faculdade de Educação da USP Gretel Eres Fernandéz, presente na audiência, as restrições começam pelos idiomas disponíveis na rede pública.

Para a docente, o ensino de inglês e de espanhol enfrenta problemas estruturais e de formação profissional. Nos poucos minutos semanais, as aulas centradas na gramática e leitura excluiriam a conversação do aprendizado. “Por trás disso tudo, das salas superlotadas, de uma carga didática muito reduzida, uma aula semanal de 50 minutos, nós temos também professores mal formados. Os cursos de formação de professores não capacitam esses profissionais para darem aulas que tenham relação com a realidade do aluno. O aluno está na aula de língua estrangeira, mas aquilo que ele está aprendendo não tem nenhuma relação com o que ele vai usar no seu dia a dia”.

Experiência do DF

No Brasil, algumas experiências diferentes têm dado resultado. O professor da Educação Básica e chefe do Núcleo dos Centros Interescolares de Línguas da Secretaria de Educação do DF, Juscelino Sant’Ana, levou como exemplo os Centros Interescolares de Línguas em Brasília. Os centros oferecem gratuitamente cinco idiomas para alunos de escolas públicas. Cerca de 35 mil estudantes são beneficiados, e as turmas não ultrapassam 20 alunos, com carga horária de mais de três horas semanais.

Na opinião de Juscelino, investir em ensino é uma questão de vontade política. “É interessante observar esses dados porque isso significa que, para se manter uma política efetiva de ensino de línguas, é preciso investir. E investimento não envolve apenas recursos financeiros”.

Sugestões de políticas públicas

Na audiência pública, foram sugeridas políticas públicas de alcance nacional para o ensino de línguas estrangeiras. O professor de ensino escolar de línguas da Universidade de Brasília (UnB) José Carlos de Almeida Filho, disse que são necessárias medidas de curto prazo. Como sugestão, Almeida citou a possiblidade de o Ministério da Educação criar uma coordenação com até três pessoas para ouvir demandas de conselhos de especialistas a serem criados em cada uma das unidades da federação.

O professor Almeida também sugeriu mudanças na avaliação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que possui apenas cinco questões de língua estrangeira. A indicação é que o exame passe a ser oral, forçando transformações na estrutura curricular das escolas. “Os deputados foram muito claros em dizer que há problemas conjunturais fortes, que a gente não vai resolver agora. Então, ou ficamos paralisados ou fazemos a mesma coisa ou tomamos algumas iniciativas que podem ser aplicadas enquanto as medidas boas de fundo conjuntural vão sendo pensadas e implementadas”, ressaltou o deputado.

Fluência

No ano passado, o Brasil perdeu 15 posições no Índice de Proficiência em Inglês avaliado pela Education First, empresa especializada em intercâmbios. Dados da ONG British Council revelam que apenas 5% da população brasileira é fluente em inglês.

No caso do espanhol, lei federal 11.161/05 não foi suficiente para cumprir a meta de implantar o ensino da língua no ensino médio até 2010. Gretel Fernadéz afirma que o atraso demonstra um ciclo vicioso. “O aluno termina o ensino médio, vai para a faculdade sem saber língua estrangeira. Entra na faculdade para fazer letras, já com uma formação ruim, termina a faculdade mal formado e volta, para dar aula no ensino fundamental, mal formado”.

Seminários estaduais

Integrantes da Comissão Especial de Reformulação do Ensino Médio prometeram acrescentar o tema debates com outros estados. A partir de abril, a comissão vai organizar seminários estaduais nas unidades de federação e um seminário nacional. O relatório será apresentado até o final do ano.

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