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Mariana Tokarnia – Agência Brasil – 31.03.2013
Para os pesquisadores o menor êxito dos negros é resultado de condições socioeconômicas e fatores culturais (Valter Campanato/ABr)
Brasília – Duas pesquisas da Universidade de São Paulo (USP) indicam que alunos negros têm maior chance de fracassar na escola do que os brancos. Para os pesquisadores o menor êxito dos negros é resultado de condições socioeconômicas. Contribuem também fatores culturais, entre eles o preconceito desenvolvido por professores. Pequena parte dos docentes acredita que os alunos negros terão, naturalmente, desempenho pior do que os brancos.
Um conjunto de fatores determina que, quando os estudantes chegam ao 6º ano do ensino fundamental, 7% dos brancos tenham mais de dois anos de atraso escolar, enquanro entre os negros, o indicador chega a 14%. Os númerosforam apresentados no artigo Fracasso escolar e desigualdade do Ensino Fundamentalda pesquisadora Paula Louzano, publicado no relatório De Olho nas Metas de 2012, lançado pelo movimento Todos pela Educação.
O artigo é baseado no questionário socieconômico da Prova Brasil 2011, aplicada nacionalmente e respondido por 2,3 milhões de alunos do 5º ano do ensino fundamental. Do total de alunos que responderam às informações relativas à reprovação ou abandono escolar, um terço havia passado pela situação de insucesso na escola. Desses, 43% se autodeclararam pretos, 34% pardos e 27% brancos, segundo a denominação adotada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Paula Louzano afirma que os números gerais são alarmantes e o cenário se agrava mais para alguns grupos sociais. “A chance de isso [repetência ou abandono] acontecer não é distribuída igualmente entre grupos. Alguns tem processos mais tortuosos, o que está ligado também ao nível socioeconômico. A desigualdade que marca o Brasil se reproduz no sistema de educação”, diz a pesquisadora.
No Norte e no Nordeste, a probabilidade de um aluno preto repetir ou abandonar a escola é respectivamente de 53% e 52%. Para os alunos pardos, o índice chega a 47% e a 45%. Nas mesmas regiões, a possibilidade de fracasso entre alunos brancos é 46% na região Norte e 44% na região Nordeste. O Sudeste apresenta os menores índices nacionais, 36% para os alunos pretos, 27% para os pardos e 22% para os brancos.
Para a pesquisadora Marília Carvalho, da Universidade de São Paulo (USP), é preciso esclarecer que o fracasso escolar não é do aluno, mas sim da escola que não foi capaz de dar ao estudante o nível de aprendizado e desempenho esperado para o período. Durante as pesquisas qualitativas que ela desenvolveu, observou que a cor autodeclarada pelo estudante está relacionada também ao seu desempenho.
“O processo de declaração diz respeito a autoimagem que a pessoa tem. No conjunto da sociedade, quanto mais escolarizada, com maior renda, a pessoa é clareada. O processo ocorre na escola. Quando as crianças vão bem, elas são clareadas, tanto para si mesmas quanto para professores e colegas”, diz Marília Carvalho.
Ela acrescenta que os próprios professores declararam que nunca tiveram a oportunidade de discutir questões raciais nem durante a formação, nem no espaço coletivo da escola. “Relações de racismo marcam a nossa sociedade. As crianças negras têm que enfrentar mais esta dificuldade na escola, têm que se afirmar a todo momento e gastam parte da energia que deveria ser voltada ao aprendizado para se defender”.
Isso prova que existe um racismo estrutural, embora existam políticas afirmativas.
Complicado