Cinthia Rodrigues – iG São Paulo |
Gabriel Mario Rodrigues, sócio da Anhanguera que comandará conselho após fusão com Kroton diz que Financiamento Estudantil (Fies) era o que grandes instituições precisavam
Aos 80 anos, Gabriel Mario Rodrigues foi reeleito presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes) e se prepara para comandar o Conselho Administrativo do maior grupo educacional do mundo, oriundo da fusão dos grupos Anhanguera e Kroton . Cheio de planos, falou ao iG sobre a nova empresa e a situação do ensino superior do País.
Para ele, o maior mérito do atual ministro da Educação, Aloizio Mercadante, foi fortalecer o Financiamento Estudantil ( Fies ) “que vinha desacreditado”. Na Anhanguera, grupo pelo qual já responde, o programa abrigava apenas 2,6 mil alunos em dezembro de 2010 e em abril de 2013 já tinha adesão de 92 mil – ao todo, são 490 mil estudantes. Em termos de renda, segundo Rodrigues, a participação do governo é ainda maior: “Representa cerca de 40% na Anhanguera. Na Kroton deve ser mais ou menos este número.”
Para ele, o programa é o principal alvo das instituições superiores particulares no Brasil. “As grandes instituições, que precisavam ter um número expressivo de alunos acreditaram muito no plano do Fies e investiram todo o seu arsenal de capitação de matrículas com esta estratégia”, disse. “No fim o que as instituições precisavam era de financiamento com juros módicos como é o Fies. Só isso já vale por muita coisa”, afirma.
Em relação a política pública para o ensino superior a crítica do maior representante do setor é em relação a recém fechada parceria do Ministério da Educação (MEC) com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para regular novos cursos de Direito. “Precisava haver um relacionamento maior entre instituições ou entidades representantes, MEC e OAB para que possa ser feito de maneira adequada este exame. Acho que a forma como foi feita não é a mais saudável.”
Fundador da Anhembi-Morumbi, o empresário foi reitor da instituição até o início deste ano quando vendeu os 49% que ainda tinha do grupo. Em seguida, assumiu um cargo na Anhanguera, que acompanhava apenas como investidor. Agora, ele diz defender internamente mais qualidade e investimento no grupo, mesmo que isso signifique cobrar um pouco mais. “Já coloquei dentro da Anhanguera: se nós conseguirmos aumentar em cada mensalidade R$ 10 no mínimo nós vamos ter resultados quantitativos. No momento em que você melhora o produto, ele vai ser mais caro, mas pela qualidade você vai atingir mais pessoas.”
Alunos serão “treinados” para Enade
Rodrigues comentou ainda que o grupo pretende implantar a partir do próximo semestre provas padronizadas que ocorram ao mesmo tempo em todas as unidades. A intenção é treinar os alunos para as avaliações do governo federal, como o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade ). “Este ano tem uma equipe criando provas de maneira que num curso de administração em todo o Brasil uma prova seja feita no mesmo dia. Aquela prova vai abranger o conteúdo dos dois semestres. Isso é uma coisa que vamos implantar depois da aprovação no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica, que precisa autorizar a fusão com a Kroton)”, contou.
Segundo ele, as avaliações padronizadas são tendência entre as instituições particulares. “As grandes instituições, não só a Anhanguera, estão criando provas que são feitas da mesma forma que são feitas as do Enade. É o modo de fazer a pergunta. Muitas vezes o aluno não entende o teor da pergunta e tem dificuldade de responder. Não é só a Anhanguera, todas estão fazendo, mudando a maneira de questionar. Na Abmes a gente fez um seminário sobre o assunto: não adiantava ensinar o aluno, adiantava ensinar o aluno a perceber como são feitas as perguntas.”