Revista Educação – Deborah Ouchana
Projeto apresentado com exclusividade à revista Educação pretende tornar a carreira docente mais atrativa, sanar deficiências dos cursos de licenciatura e promover a formação continuada para professores da educação básica
Um dos grandes desafios da carreira docente hoje é tornar-se mais atrativa: apenas 2% dos jovens brasileiros desejam ser professor. Dos que optam por um curso de licenciatura, 50% desistem logo nos anos iniciais. As consequências da evasão dos alunos das licenciaturas e da não atratividade do magistério são encontradas no preocupante déficit de professores no Brasil – um total de 250 mil profissionais. Além disso, há professores em sala de aula não formados na disciplina que lecionam nem em área correlata, principalmente nas ciências exatas e da natureza. Dos que ensinam física, por exemplo, 61% não tem formação na área.
Na tentativa de reverter esse quadro, o professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e ex-secretário de Educação do estado, Mozart Neves, criou o programa “Quero ser professor”, apresentado no início de março para a equipe da revista Educação, na Editora Segmento. Baseado em um conjunto de projetos interligados que será desenvolvido, em regime de colaboração, pelo Ministério da Educação (MEC), pelo governo de Pernambuco e pela UFPE, o foco do programa é reverter a baixa atratividade do magistério nos cursos de ciências exatas e da natureza e será articulado com três grupos diferentes: alunos do ensino médio que desejam se tornar professores, alunos já ingressados nas licenciaturas; e professores da educação básica.
“O primeiro passo será a criação de um núcleo interdisciplinar das licenciaturas de ciências exatas e da natureza”, explica Mozart Neves. A ideia é que o núcleo sirva de referência aos três grupos participantes do programa. Para isso, ele será composto por professores da universidade que tenham afinidade com o trabalho realizado na Educação Básica e professores das Escolas de Referência de Ensino Médio de Tempo Integral, que serão selecionados pela sua didática e prática em sala de aula. “Eles serão os professores-ponte; aqueles que trarão o que eu chamo de ‘cheiro da escola’ para a universidade”, acrescenta Neves.
Para os professores de química, física e matemática da rede estadual será oferecido um curso de certificação pós-graduanda. Mozart ressalta que o certificado só será entregue ao professor que apresentar melhorias em sala de aula. A técnica para medir os resultados ainda não foi definida, mas o professor garante que será um conjunto de indicadores e não apenas as notas dos alunos nas avaliações. “A satisfação dos alunos é um desses critérios”, exemplifica. Após obter a certificação, o docente é promovido no plano de carreira instituído pelo estado.
Prevenção e continuidade
O trabalho realizado com os alunos do ensino médio que desejam se tornar professores tem dois objetivos: o primeiro é sanar possíveis deficiências na formação ainda durante o ensino médio. O segundo é inserir o estudante da Educação Básica no seu futuro ambiente de estudo e promover a integração com a universidade por meio de uma bolsa de pré-iniciação à docência. Os estudantes precisarão freqüentar escolas de período integral para que esse acompanhamento seja feito no contraturno.
Já os licenciandos que apresentam deficiências em sua formação inicial, e por isso encontram dificuldades nas disciplinas básicas dos cursos, vão passar por um trabalho de preparação a cada ano letivo, envolvendo os professores das disciplinas que mais reprovam e promovem eventual evasão. Outra iniciativa é a criação de disciplinas envolvendo o uso de novas tecnologias e a implantação da Fábrica de Empreendedorismo Pró-Ensino, para que os licenciandos, em parceria com alunos de outros cursos, desenvolvam projetos para sala de aula, como jogos educativos.