“Buscas de palavras-chave, anotações, vídeos, jogos. Precisa haver tudo isso em um livro digital de qualidade”, explica Carlos Seabra, coordenador técnico-pedagógico da FTD, editora que, há dois anos, produz esse tipo de material. “Por exemplo, se o aluno está estudando o Oriente Médio, ele dá zoom no mapa e vão aparecendo informações sobre as regiões, juntamente com arquivos de áudio que reproduzem os idiomas falados em cada lugar.”
Sonia Cunha, diretora editorial da Moderna, editora que também produz livros digitais, acredita que as vantagens são claras. “Esta transição do impresso para o digital apresenta ganhos para a educação, como a agilidade na atualização dos dados e a possibilidade de o professor adequar os materiais ao seu plano de aula de uma forma mais personalizada.”
Apesar dos avanços, as limitações de acesso à internet e aos equipamentos digitais podem atrasar a expansão do livro digital. Por isso, no caso da FTD, por exemplo, as páginas são equivalentes, não importa o formato, para que todos os alunos possam acompanhar. Por exemplo, se o professor pedir para os estudantes abrirem determinada página do material didático, seja impresso ou digital, o conteúdo apresentado será o mesmo. “Acreditamos na coexistência desses dois formatos por algum tempo. Temos observado uma evolução gradativa no uso de recursos e ferramentas digitais em sala de aula, mas ainda prevalece o modelo híbrido (com recursos multimídias integrados ao material impresso)”, garante Sonia.
Além disso, outra barreira pode ser a falta de preparo dos educadores. “Temos uma má adequação dos professores quando falamos de tecnologia. Eles não aceitam bem ou não sabem lidar. Mas as gerações mais novas vão ter muito mais facilidade”, acredita o professor da Universidade de Brasília Lúcio Teles. As editoras ainda não têm um modelo de negócio definido para a venda de livros digitais, uma vez que eles correspondem a uma parcela muito menor do que o material convencional. A Editora Moderna, por exemplo, não vende os dois formatos separadamente. O aluno que adquirir o livro tradicional recebe um código para baixar o digital, se estiver disponível, sem nenhum custo a mais. Já na FTD, os livros digitais são vendidos separadamente e custam cerca de 90% do livro físico. Caso o estudante já tenha comprado o material de papel, ele tem acesso à versão digital pagando 20% do valor.
Nas escolas públicas, os livros digitais começarão a chegar no ano que vem, segundo o Plano Nacional do Livro Didático de 2015. Além disso, desde 2012, o MEC vem distribuindo tablets para professores de ensino médio da rede pública. Os aparelhos contam com materiais didáticos de física, matemática, biologia e química, além de livros em domínio público.
Bytes coreanos
A partir do ano que vem, os jovens da Coreia do Sul deixarão de carregar tanto peso nas mochilas. O governo sul-coreano investiu, desde 2011, US$ 2 bilhões para distribuir livros digitais e tablets para alunos da rede pública do país, a fim de acabar com o livro de papel na sala de aula.
Palavra do especialista
A principal coisa do livro digital é que ele permite um acesso imediato ao estudante. Onde o aluno estiver, pode pegar o tablet e procurar algo relacionado à disciplina que estuda. E assim ele aprende continuamente. Há o momento de concentração, que é o da aula, mas também existem as pílulas, quando se vai aprendendo aos poucos, que é quando ele consulta o digital em casa. Sem contar que não precisa carregar aqueles livros todos na mochila.
É claro que o livro de papel ainda vai levar bastante tempo para ser substituído — se é que esse dia vai chegar. Mesmo porque muita gente ainda tem uma certa resistência. Contudo, até por questões ecológicas, precisamos diminuir os gastos de papel. O problema é que temos uma má adequação dos professores quando falamos de tecnologia. Eles não aceitam bem ou não sabem lidar. Mas as gerações mais novas vão ter muito mais facilidade, talvez seja uma questão de tempo.
Lúcio Teles, especialista da Universidade de Brasília em informática e educação
Com informações de Thiago Amâncio