A reforma do ensino médio nos moldes do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) já começou antes mesmo da reestruturação do currículo. A partir de 2015, os livros didáticos das redes públicas serão interligados dentro das quatro áreas de conhecimento propostas pela prova. “Não significa o fim do livro didático por disciplina, mas cada matéria terá de dialogar com outras”, explica o secretário de educação básica do Ministério da Educação (MEC), Romeu Caputo.
O edital dos livros didáticos para 2015 exige que as disciplinas de Química, Física e Biologia, por exemplo, estejam interligadas e atendam a requisitos mínimos comuns das Ciências da Natureza. Pela primeira vez, o documento prevê que as editoras apresentem obras com complementos digitais – e-books, jogos e aplicativos. Os próximos editais devem seguir esse mesmo formato, segundo o MEC.
Uma comissão de avaliadores em 12 universidades federais analisa se os livros apresentados em agosto por editoras de todo o País atendem a esses critérios. Até junho de 2014, um guia de obras recomendadas pelo governo federal deve ser enviado às escolas públicas.
Essa mudança faz parte do projeto do MEC para redefinir todo o currículo do ensino básico – fundamental e médio – em um formato interdisciplinar semelhante ao Enem. “A mudança faz parte do que chamamos de Base Nacional Comum do Currículo. Converge avaliação, formação dos professores e produção de material”, diz Caputo.
O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Luiz Cláudio Costa, diz que o modelo curricular do Brasil é historicamente determinado pelos vestibulares. “Antes, poucas escolas tinham acesso a essas informações. Com o Enem e suas áreas definidas, todo mundo está conhecendo as matrizes de habilidades e competências, especialmente as escolas públicas.”
Especialistas, porém, temem a adoção de obras nesse modelo sem a preparação dos professores. “Uma coisa é produzir o material, outra é ser usado com qualidade”, diz Paula Louzano, doutora em Educação pela Universidade de Harvard. Para João Roberto Moreira Alves, presidente do Instituto de Pesquisas e Administração da Educação, a formação dos professores, se iniciada hoje, só alcançaria maturidade em 4 anos.
Para alunos e pais das redes públicas, os novos livros só representarão uma mudança no formato do ensino médio quando o material didático for efetivamente usado na sala de aula. “Hoje o livro é pouco usado porque os professores levam os materiais deles e os alunos não querem carregar tanto peso à toa”, afirma Daniela Machado, de 17 anos, que cursa o 2.º ano do ensino médio na Escola Estadual Ibrahim Nobre, na zona sul de São Paulo. / COLABOROU CARINA BACELAR, ESPECIAL PARA O ESTADO