Vanessa Fajardo – Do G1, em São Paulo
Dislexia é um transtorno de aprendizagem de causa neurológica.
Alexandra e Augusta promovem eventos e batalham por aprovação de lei.
A economista Maria Augusta Pacheco Ranhada Gil, de 50 anos, e a psicopedagoga Alexandra Amadio Belli, de 45 anos, diagnosticaram a dislexia nos filhos adolescentes ainda quando eles eram crianças. Foram anos de estudo até entender – e aceitar – como este transtorno de aprendizado de origem neurológica iria afetar a vida de seus filhos. Os disléxicos têm mais dificuldade para ler, interpretar e escrever pois não conseguem ligar os sons às palavras. Geralmente a dislexia é identificada durante a alfabetização e pode ser confundida com déficit de atenção (TDAH).
O distúrbio é diagnosticado por uma equipe multidisciplinar (fonoaudiólogo, neurologista, psicólogo e psicopedagogo) e tem relação com a herança genética. O problema sensibilizou tanto Maria Augusta e Alexandra que mais do que mães de Ricardo Augusto Gil, de 16 anos, e Anna Lia Bellli, de 15, elas se engajaram à causa, mesmo sem estar afiliadas a qualquer associação, e se tornaram defensoras dos disléxicos.
Alexandra foi professora do filho de Maria Augusta. Por conta da dislexia dos filhos as duas se aproximaram e se tornaram amigas. Juntas, elas costumam organizar eventos e palestras e criar espaços para falar sobre o tema. Paralelamente, encabeçam a batalha de conseguir aprovar um projeto de lei no estado de São Paulo que garante direitos aos estudantes disléxicos da rede pública. O projeto está sendo redigido por uma equipe multidisciplinar e ainda precisa seguir para votação.
psicopedagoga e mãe de Anna Lia
Enquanto o projeto de lei não é aprovado, as duas não se cansam de reivindicar direitos dos filhos nas escolas onde estudam. Os pedidos nunca são isolados, e quando concedidos, beneficiam todos os estudantes com problemas de déficit de atenção da escola. Elas costumam ‘brigar’ para que a escola seja mais flexível na correção de determinada avaliação, dê mais tempo para os filhos fazerem as provas ou, ainda, forneça as fórmulas em uma folha anexa para um exame de física, por exemplo.
“Queremos contagiar e fazer com que as pessoas percebam a dislexia. Quem tem dislexia fica à margem, é discriminado, mas a pessoa não tem problemas cognitivos. São personagens brilhantes que perdem a oportunidade de se desenvolver”, diz Alexandra, que também se diz disléxica, apesar de não ter o diagnóstico.
(Foto: Vanessa Fajardo/ G1)
O apoio das mães
A filha de Alexandra, Anna Lia também tem transtorno de déficit de atenção (TDHA) que foi diagnosticado antes da dislexia. Alexandra conta que percebeu que a filha poderia ser disléxica quando lia com ela percebeu que a garota não conseguia ler uma determinada palavra (ela não se lembra qual é) durante todo o livro. Por dois anos, Anna Lia teve acompanhamento de professores particulares de português e matemática. Está no 2º ano do ensino médio, nunca repetiu um ano, mas às vezes pega uma recuperação. Sempre tem o respaldo da mãe.
“Eu vou estar por trás dela por pior que seja seu fracasso. O que me importa é o seu esforço, cobro para que faça o melhor, sabemos o sacrifício, exigir nota alta é absurdo”, afirma Alexandra. Anna Lia reconhece o apoio da mãe. “Se não fosse minha mãe, eu já teria repetido algum ano. Ela me ajuda a estudar, a decorar a matéria, fazer resumo e sempre procurou ajuda.”
Alexandra acompanha de perto o desenvolvimento da filha porque é psicopedagoga e tem conhecimento técnico sobre o distúrbio. Escreveu sobre TDHA na teste do mestrado e depois a transformou em livro. No entanto, segundo ela, nos demais casos o ideal é que os pais apenas administrem a evolução dos filhos de longe, contratem professores particulares quando necessário, entre outros ações, mas não se envolvam diretamente em sua vida escolar.
economista e mãe de Ricardo
Ricardo não costuma falar sobre dislexia na escola, mas diz que tem o respeito dos colegas, e admira o interesse da mãe pela causa. “Acho muito bom, conheço mães com filhos disléxicos que não fazem nem um terço do que ela faz. O problema é a falta de informação. Minha mãe busca assistência para que eu possa ir bem no colégio. Se não fosse por ela, teria repetido e talvez nem soubesse que tenho dislexia.”
Cursando o 2º ano do ensino médio, Ricardo diz que sua maior dificuldade é em ciências exatas, apesar de a maioria dos disléxicos ter mais problemas com humanas por conta da dificuldade de leitura e interpretação. “Eu me cobro muito porque cada um tem de buscar o melhor naquilo que faz. É muito frustrante quando você estuda, não consegue interpretar a prova e acaba errando o exercício”, diz o jovem.
ensino médio (Foto: Vanessa Fajardo/ G1)
Maria Augusta se emociona ao falar do esforço do filho, a quem considera “herói” “Ele é muito responsável e dedicado. Falo sempre que tenho muito orgulho de ele ser disléxico, porque eu me tornei uma pessoa mais sensível e solidária. É necessário se despir de preconceitos, há uma dificuldade de assumir a dislexia porque a sociedade é muito competitiva.”
Outro resultado do esforço de Alexandra e Maria Augusta tem data marcada: dia 8 de junho, das 13h às 17h30, no Centro Cultural da Índia (Alameda Sarutaiá, 380, Jardim Paulista, São Paulo). Haverá a exibição do filme indiano “Como Estrelas na Terra”, que retrata a história de uma família cujo filho é um garoto disléxico. Após o filme, haverá um debate. A entrada é gratuita, mas é necessário se inscrever pelo telefone (11) 3258-7568 ou e-mail comunica@dislexia.org.br.