PublishNews – 03/06/2015 – Carlo Carrenho
Pesquisa promovida por CBL e SNEL aponta grande queda nas compras governamentais e estabilidade nas vendas ao mercado privado
A melhor maneira de se apresentar os números da mais recente Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, promovida pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Sindicato Nacional de Editores de Livros (SNEL), é com a velha pergunta: “Tenho uma notícia boa e uma ruim, qual você quer ouvir primeiro?” Isto porque os dados apresentados na manhã de hoje na sede do SNEL no Rio de Janeiro e referentes à performance do mercado em 2014 têm um sabor amargo, mas, felizmente, os pesquisadores da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) também trouxeram algumas notas adocicadas para os paladares editoriais sempre ávidos por estatísticas.
A má notícia é que o faturamento do mercado caiu 5,16% em termos reais. O faturamento dos editores em 2014 alcançou R$ 5,409 bilhões, o que representa um crescimento nominal de apenas 0,92% em relação aos R$ 5,359 bilhões de 2013. Mas como a inflação ficou muito acima disto no ano passado, houve uma queda brusca em valores reais. Aplicada a taxa do IPCA de 2014, de 6,41%, chega-se aos 5,16%. Trata-se da maior queda do mercado desde 2002, quando o faturamento caiu, em termos reais, 14,51%, agravado pela alta inflação daquele ano.
Bom, e qual a boa notícia? As boas novas são de que as vendas ao mercado, excluídas as grandes compras governamentais, apresentaram crescimento real. Em 2014, os editores faturaram R$ 4,17 bilhões para o setor privado, contra R$ 3,885 bilhões no ano anterior. Isto representa um crescimento nominal de 7,33% e um crescimento real – deflacionado pelo IPCA – de 0,86%.
O problema é que a notícia ruim é muito maior que a notícia boa. Para se ter uma ideia, o faturamento total ao governo caiu 15,98% em termos nominais no ano, alcançando apenas R$ 1,239 bilhões contra R$ 1,474 bilhões em 2013. Em termos reais, isto representa uma queda de 21% na contribuição governamental ao faturamento dos editores. Um dos resultados desta diminuição da aquisição de livros por parte do governo é que sua participação no faturamento dos editores ficou em apenas 22,91%, o menor índice desde 2009. E poderia ter sido pior, afinal a queda nominal de 20,10% do faturamento dos editores para o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) foi parcialmente compensada pelo faturamento fora do normal feito para o Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE) em 2014. Se o PNLD gerou faturamento de R$ 1,002 bilhão em 2014 contra R$ 1,254 bilhão em 2013, o PNBE trouxe aos caixas dos editores R$ 159 milhões no ano passado contra apenas R$ 61 milhões no ano anterior, o que representa um aumento de 162,37%. Fontes ouvidas pelo PublishNews indicam que esse aumento absolutamente pontuou ocorreu devido ao PNBE do Professor 2013, que foi efetivado em 2014.
Em termos de exemplares vendidos, houve queda de 9,23% em 2014 e a quantidade ficou em 435,7 milhões de exemplares. Destes, 277,4 milhões foram adquiridos pelo mercado (queda de 0,81%) e 158,3 milhões foram comprados pelo governo (queda de 10,97%).
No que se refere a lançamentos, os editores lançaram 19.285 títulos com novos ISBNs em 2014, o que representa uma queda de 8,54% em relação ao ano anterior, quando 21.085 títulos novos chegaram às prateleiras. A quantidade de exemplares produzidos, no entanto, ficou estável em 90,9 milhões, o que significa um aumento da tiragem média dos lançamentos.
A pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro incluiu mais uma vez números sobre o mercado digital. O faturamento dos editores em apps e e-books teria sido de R$ 16,8 milhões em 2014, resultando em um crescimento de 31,5% no ano. Tal crescimento é compatível com as estimativas do mercado, mas a participação dos livros digitais no faturamento total ficou em apenas 0,31% segundo a pesquisa, o que é bastante dissonante dos números apurados no mercado de forma mais empírica. Ainda que considerarmos a participação dos livros digitais na quantidade de exemplares vendidos apenas no setor de interesse geral, chegaríamos, segundo a pesquisa da FIPE, a 0,63%, pois foi apontada a venda de apenas 898.989 e-books e apps em 2014. Isto parece longe dos valores entre 3 e 3,5% que se ouve entre editores.