Jornal A Cidade / Daniela Penha -14/10/15
Salários baixos, indisciplina, agressão e falta constante de estrutura são os ‘ossos do ofício’ de quem vive do magistério
Roberta Luchiari faz doces e tira fotos para complementar a renda de professora. Ana (nome fictício) desenvolveu depressão depois de ser agredida em sala de aula. Para o professor Jeferson Gonzalez, falta estrutura escolar em um contexto de problemas “multifacetários”.
O dia-a-dia do professor é feito de desafios, principalmente na rede pública de ensino. A lista é extensa: baixos salários, condições de trabalho precárias, desvalorização da profissão aos olhos da comunidade, violência física, assédio moral, falta de professores, falta de políticas públicas em Educação.
“O Dia dos Professores é um dia de luta. Nossa categoria está sangrando”, resume Mauro Inácio, coordenador regional da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo).
Luiz Araújo, professor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília e ex-presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) destaca que a luta pelos direitos dos professores se estende há quase um século.
“Em 1932, tivemos o Manifesto do Pioneiros, pedindo valorização dos professores. Passados 83 anos, aprovamos um plano que tem como meta valorizar o professor. Se é meta, é porque ainda não aconteceu”.
O Plano Nacional de Educação, aprovado no ano passado, prevê mudanças, com a valorização dos professores (veja ao lado). Além de salário, é preciso formação.
Roberta é professora em uma escola estadual. Entre 30 alunos do 7 º ano, nove são surdos. “Eu não recebi nenhum treinamento para lidar com eles. Dependo de um intérprete. Seria bem melhor que eles pudessem se comunicar diretamente comigo”, destaca.
Ela se formou há quatro anos e já tem opinião definida: “Nunca é como a gente imaginou”. Além das 11 aulas que dá por semana, ela precisa complementar a renda. “Só isso não dá”.
Preferiu assim, porém. No ano passado, com número muito maior de aulas, sentiu o cansaço. “Não estava sendo bom para mim. Decidi reduzir as aulas. A fotografia e a culinária me tiram o estresse”. Não tem dúvidas quanto ao amor pela profissão, entretanto. “Eu gosto do que faço. Precisamos de valorização”.
‘Antes, a escola era excludente. Hoje não é assim’
Jeferson é professor da rede municipal de ensino e da rede superior. Defende que o número de alunos que hoje têm acesso a Educação é bem maior do que há 20 anos. “Antes, a escola era excludente. Hoje, chegam à escola alunos que não se adequam à essa estrutura”. Para o professor, o modelo de escola de hoje não atende às necessidade de alunos de perfis múltiplos. “O desrespeito é uma resposta do aluno a essa inadequação. O desânimo do professor vem das expectativas falsas que criamos. Não existe aluno ideal”.
Para ele, é preciso entender o universo desses alunos. “São alunos que vivem violência familiar, vulnerabilidade social. Não adianta você dizer para o aluno ‘vai para o seu quarto estudar’ se ele te relata que não tem um quarto”. Leonardo Freitas Sacramento, secretário-geral da Aproferp (Associação dos Profissionais de Ensino de Ribeirão Preto), complementa: “Um aluno que tem acesso aos livros desde os três anos é diferente do que teve acesso ao seu primeiro livro aos sete”.
Salário é 26% maior que o nacional
A Diretoria Regional de Ensino de Ribeirão informou que a Educação é prioridade no Estado e que os professores da rede estadual têm piso salarial 26% acima do nacional. Segundo o Estado, neste ano, a Educação pagou seu maior bônus por desempenho. Na região, foram pagos R$ 31 milhões a 8.000 servidores.
A Educação Municipal informou que “os esforços pela melhoria do ensino são constantes” e que prioriza a construção de escolas. A pasta nega a falta de professores.