O avanço dos livros digitais

Folha Dirigida –  Por Juliana Britto 

Com o desenvolvimento das tecnologias da informação e dos recursos multimídia, a expansão do mercado digital se torna inevitável. Músicas, filmes e jogos estão sendo adaptados de forma a satisfazer os usuários mais assíduos do mundo virtual. Os livros, por exemplo, também estão ganhando espaço nos dispositivos móveis e na vida de jovens da geração WEB.A cada dia é aberto maior espaço para formas alternativas de leitura. Equipamentos como ebook, ou mesmo tablets, para muitos, tendem, se não a substituir, pelos menos a tirar boa parte do espaço que o livro impresso tem hoje.

A acessibilidade e a praticidade do livro digital é o que mais atrai os jovens a esse formato. Companheira inseparável de seu celular, Pamella Almeida, de 14 anos, acredita que os dispositivos móveis influenciam diretamente na sua preferência pela leitura digital.

“Para mim é muito melhor livro digital porque estou sempre no celular, então é muito mais fácil. Gosto do impresso, mas admito que acabo não lendo, fica na estante. O digital, por sua vez, está sempre perto de mim”, conta a menina.

Pamella sabe que, embora os dispositivos móveis ainda não sejam acessíveis a todos, a tendência é que a preferência pelo digital torne-se irreversível. “Hoje eu entendo que nem todas as pessoas tenham a facilidade de ter um tablet, por exemplo. Mas daqui a um tempo, tenho certeza que os dispositivos móveis serão mais acessíveis à população e, consequentemente, irão aumentar a procura por conteúdos digitais.”

Segundo a pesquisa Produção e Venda do Mercado Editorial, feita pela Fipe por encomenda da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional de Editores (Snel), foram produzidos no ano passado, por 197 editoras consultadas, 7.470 e-books e 194 aplicativos de livros. O faturamento foi de R$3,8 milhões em livros vendidos. A tendência, é que esse número só aumente nos próximos anos.

“Sei que o impresso ainda vende muito mais e entendo que esse formato tenha muitos amantes, mas arrisco dizer que daqui a uns 10 anos a tecnologia terá evoluído tanto que até os próprios autores e editoras vão preferir o formato digital, porque futuramente será bem mais fácil uma pessoa entrar na internet do que em uma livraria”, diz Pamella.

Com 17 anos, Bárbara Meirelles depõe a favor do conteúdo digital. De acordo com ela, a ampla capacidade de armazenamento de dados economiza espaço na estante e possibilita o compartilhamento de informações.

“Posso ter 50 livros no meu computador facilmente e ainda consigo enviá- los para os meus amigos. Com o impresso, além de ocupar um grande espaço físico, não tem como dividir com seus amigos para ler ao mesmo tempo.”


Parte dos jovens ainda resistem ao formato digitalEmbora o crescimento do formato digital seja inevitável para os próximos anos, o livro impresso ainda resiste. Com o diferencial de possuir prazeres incomparáveis ao livro nos dispositivos móveis, o formato de leitura tradicional ainda é a preferência no país.

Atitudes como as de tocar nos livros, poder manuseá-los e fazer anotações são lembradas como um dos principais pontos em favor do impresso, que ainda guardam todo um romancismo por parte do leitor. “Eu não leio livro digital porque com ele não tem aquela coisa do contato. De pegar no livro, olhar as páginas, tê-los enfileirados na estante. Gosto de ter meus livros, guardá-los. O livro digital não tem a mesma emoção do impresso”, diz a jovem Rebecca Freitas, de 18 anos.

O formato digital, traz consigo vantagens e desvantagens de qualquer conteúdo multiplataforma. Toda a funcionalidade tecnológica de acordo com Isabelle Fraga, prejudica a leitura digital. “Prefiro livro impresso porque não consigo ler no digital, me perco toda. Muitas vezes eu paro de ler e vou fazer outra coisa, entro em alguma rede social, por exemplo, e não volto mais para a leitura. O digital acaba nos distraindo muito”, ressalta a jovem de 19 anos.

Livrarias e editoras estão, cada vez mais, investindo no novo formato. O leitor que desejar, agora pode optar em comprar a versão digital dos livros, em vez do impresso. Esse avanço tecnológico, no entanto, ainda causa polêmicas, acredita Isabelle. “O problema do livro digital é que nem todo mundo compra nesse formato, as pessoas fazem o download de graça. Isso prejudica o autor. Acho que quando a gente gosta do escritor, e do título, a gente compra, para prestigiar a pessoa que escreveu.”

Isabelle reitera sua preferência pelo impresso salientando algumas atitudes insubstituíveis. “É sempre bom dar um livro de presente, ou doar para alguém. Ninguém dá de presente um livro digital. Esse papel que o impresso tem será impossível de substituir.”

O mercado digital ainda é mínimo perto do mercado impresso. Na conta bancária das editoras, por exemplo, o faturamento ainda é insignificante. A venda de livros digitais representam apenas 0,1% do que as editoras faturam com as vendas de impressos.

Em 2012, por exemplo, foram produzidos 57.437 títulos digitais, 20 mil apenas em primeira edição. No total, 435 milhões de livros impressos foram comercializados, gerando um faturamento de R$4,98 bilhões de reais, apenas no ano passado.


Cresce o investimento das editoras no formato digital

Embora os números sejam, hoje, muito mais representativos para o mercado impresso, a longo prazo a tendência é que o formato digital domine as vendas, pois seu crescimento é considerável: enquanto o faturamento na venda de livros impressos cresceu apenas 3,04% ano passado, o de livros digitais cresceu 343% entre 2011 e 2012.

Outro dado preocupante mostra que o impresso está 12,47% mais caro, enquanto o digital tem custo que, em alguns casos, é de 1/3 do existente na versão em papel. Comparações são inevitáveis entre os dois formatos, mas são as vantagens de cada um que fomentam o interesse dos leitores e, consequentemente, das editoras.

Para o Gerente de Conteúdo Digital da Editora Nova Conceito Ludson Aiello, o mercado digital no Brasil ainda é muito pequeno e representa uma participação mínima no faturamento das editoras. “Nos Estados Unidos, por exemplo, é um mercado muito mais aquecido onde o digital representa 20% do mercado editorial. Mas devemos considerar que nos Estados Unidos o formato digital existe faz mais tempo, já se consolidou. No Brasil é novidade, não chega há um ano. Embora as livrarias já vendessem PDF há quatro anos, o mercado começou a aquecer a partir do final do ano passado, quando todas as grandes editoras resolveram entrar para esse mercado”, explica Ludson Aiello.

Para o Gerente de Conteúdo Digital da Editora Nova Conceito, no entanto, embora pouco representativo, não vai demorar muito para o formato digital se consolidar no Brasil. “Brasileiro é um povo ansioso, é um povo que consome bastante tecnologia. Vale um período de experiência até as pessoas deixarem de ter preconceito. Dentro de cinco anos essa geração tecnológica já estará consumindo mais produtos digitais, não só livros, mas músicas, discos e filmes estarão mais inseridos nesse mercado.”

Ludson diz que a Nova Conceito já trabalha com versões digitais de suas publicações. O Gerente de Conteúdo Digital explica que a editora procura trazer ao público duas possibilidades de leitura. “Costumamos fazer um lançamento simultâneo. Sempre que sai um livro impresso no mercado, a gente aproveita toda ação que é feita, ações de marketing e divulgação, para lançar o digital. Às vezes o livro sai bem e vai para lista de mais vendidos, por exemplo, então um formato acaba ajudando o outro. Tentamos conciliar as duas versões para aproveitar o máximo de ambas as partes.”

Ludson Aiello enumera algumas vantagens desse formato. O preço mais barato, afirma o especialista, é uma das principais. “Tem a logística também. Você consegue, em um aeroporto, por exemplo, ou em qualquer lugar que não tenha livraria comprar e baixar seu conteúdo digital na hora. O impresso demora quase três dias para chegar em casa quando comprado pela internet. Resumindo: facilidade, praticidade e acesso a informação”, ressalta


Escritores agora tem mais uma opção para publicar seus livros
Tammy Luciano é autora de cinco livros. O último, “Claro que te amo”, foi lançado na XVI Bienal do Livro no Rio de Janeiro. A história foi lançada, simultaneamente, nas versões impressa e digital. Com todos os exemplares vendidos na feira literária, os leitores têm a opção de comprar a versão digital e fazer o download.

Tammy assume não ser uma consumidora desse formato, mas fica feliz em proporcionar essa nova vertente de leitura a suas jovens leitoras. “Gosto muito do objeto livro, mas fico lisonjeada em saber que minha obra também foi lançada em versão digital porque os jovens gostam. Não posso brigar com essa nova forma de leitura.”

Para Tammy, no entanto, além do digital ainda não ser um formato muito acessível, o impresso sai na frente por ser mais atrativo, principalmente às crianças. “Muitos jovens ainda não tem um aparato tecnológico que comporte a versão digital de livros e acabam comprando o impresso. Crianças também, além de ainda não serem usuárias de alta tecnologia, são mais atraídas pelo livro, suas figuras, ilustrações e pela possibilidade de folhear as páginas.”

O uso da tecnologia, para Tammy, é primordialmente direcionado ao contato com seus fãs. Segundo a escritora, ouvir os jovens é o que serve de matéria-prima para a produção de seus livros. “Moro nas redes sociais. Dedico uma média de quatro horas respondendo a todos os meus leitores. Fico muito emocionada porque o público para o qual eu escrevo precisa muito desse contato. Essa interação é boa também para trocar figurinhas e incentivá-los a ler, seja livro impresso ou digital.”

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