Fonte: UOL Educação – 27 de maio de 2014
“Para incentivar essa nova e irreversível postura de cidadania dos brasileiros, o Estado precisa entender que a educação é a prioridade das prioridades”, afirma Custódio Pereira
Em anos eleitorais como este 2014, os brasileiros já sabem que “educação”, “segurança” e “saúde” serão temas presentes em todas as campanhas, comícios, propaganda gratuita no rádio e na TV, redes sociais e nos midiáticos debates entre os candidatos.
Porém, é preciso avançar muito nessa discussão. As vozes das ruas em 2013 deixaram muito claro que os quase trinta anos desde a redemocratização do país produziram efeitos positivos na consciência política da sociedade: não há mais lugar para o discurso vazio, a promessa não cumprida, o ufanismo e propostas inexequíveis.
Mais do que nunca, portanto, é preciso falar menos e fazer mais, inclusive no sentido de estimular o civismo, a democracia participativa e o engajamento político de todos os indivíduos. Em síntese: é responsabilidade dos governantes estimular o cumprimento prático e amplo do termo da moda em todo o mundo: o empoderamento da população.
Do mesmo modo que não se pode tolerar a desordem e o vandalismo, que não se justificam num regime democrático, não se deve temer as manifestações pacíficas, o confronto de opiniões, o pluralismo e as reivindicações.
Para incentivar essa nova e irreversível postura de cidadania dos brasileiros, o Estado precisa entender que a educação é a prioridade das prioridades. Um povo mais culto e instruído fica menos doente, pois valoriza a qualidade da vida, repudia mais a violência, tem menor taxa de desemprego, respeita as boas normas de civilidade e convivência social, diz não ao preconceito e à discriminação das minorias, conhece a importância de proteger o ambiente e usar com racionalidade a energia, a água e os recursos naturais.
Não é sem razão, portanto, que se considera o ensino a grande base do desenvolvimento.
O Brasil avançou no civismo e até mesmo no atendimento quantitativo à demanda de matrículas no ensino público, mas ainda deve muito em termos de qualidade.
Esta dívida, contudo, tem de ser resgatada sem mais demora, e não apenas por justiça social e aprimoramento da democracia, mas também por uma questão econômica: estamos vivendo o início do chamado bônus demográfico, que caracteriza um período no qual a população economicamente ativa é maior do que a inativa. É a oportunidade histórica de subirmos do nível de país de renda média para o de nação rica.
As gerações hoje nas escolas – e também as que estão ingressando – precisam estar muito bem preparadas para o exercício do engajamento político e a mudança de patamar econômico.
*Professor universitário e diretor-geral da Associação Santa Marcelina