Todos Pela Educação – 21 de setembro de 2014
Indicador obtido com exclusividade mostra que média sobe de 4,2 para 5,2 nas séries iniciais, com a formação adequada de docente
Fonte: O Estado de S. Paulo (SP)
A formação adequada dos Professores é capaz de aumentar em um ponto o Índice de Desenvolvimento da Educação básica (Ideb), revela um indicador em desenvolvimento do Instituto Nacional de Estatísticas e Pesquisas Educacionais (Inep) apresentado com exclusividade ao Estado.
Especialistas em Educação dizem que o dado só reforça a importância do aperfeiçoamento dos Docentes, enquanto entidades de classe dos Professores se dividem e se defendem sobre as limitações do profissional em sala de aula. A ferramenta mostra que o Ideb médio das Escolas do 1.º ao 5.º ano em que entre 60% e 100% dos Docentes têm a formação adequada para função é de 5,2. Naquelas em que até 40% dos Professores estão nesta situação, a nota é de 4,2.
A diferença pode parecer pequena, mas o presidente do Inep, Francisco Soares, lembra que o Brasil levou seis anos para avançar um ponto no Ideb – de 4,2, em 2007, a 5,2, em 2013, nas séries iniciais.“Hoje nós conhecemos o Professor. Pelo censo, que é feito como CPF do Professor, podemos saber qual a formação, em que Escola ele está, há quanto tempo”, diz. “Agora vamos poder associar os resultados com as políticas públicas. Teremos condições efetivas de espalhar essa formação.” Hoje, 76,9% dos que dão aulas no Ensino fundamental têm Ensino superior completo – 1,08 milhão de profissionais. São 982,9 mil os que têm licenciatura. Os demais têm outros cursos não adequados à docência – 57 % fizeram programas chamados de “complementação pedagógica”.
Professores adequados são aqueles licenciados que atuam em suas áreas de formação – esse número final não foi compilado. Para chegar ao indicador, o Inep cruzou dados do Censo da Educação básica com o Ideb.
Presidente do Sindicato dos Profissionais de Educação do Ensino Municipal de São Paulo (Sinpeen), Claudio Fonseca concorda com o Inep. “Quem tem licenciatura plena tem mais Escolaridade, tem maior tempo de formação e é um profissional que está mais preparado. O Inep confirma o que até o senso comum sabe”, diz.
O Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), na defensiva, discorda do foco na relação entre formação e resultados. “Não é uma questão linear. É preciso ver as condições da Escola, a jornada dos Professores, as questões didáticas e pedagógicas.
O Professor tem de ter a formação, mas ela, por si só, não vai dar resultados”, alega a presidente da entidade,Maria Izabel Azevedo Noronha. A formação não é garantia de qualidade de um Professor,mas a licenciatura é relevante, diz Silvia Colello, Professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). “Tem Professor que é muito entendido no assunto, tem brilho nos olhos quando fala de sua disciplina e isso acaba envolvendo os Alunos. E isso pode não acontecer com um Professor com licenciatura. Mas, estatisticamente, Professores que têm uma boa licenciatura tendem a ter um olhar para a relação pedagógica, para o aprendizado e o saber ensinar”, defende.
Além da licenciatura, Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida, Professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), diz que outros fatores influem na qualidade do aprendizado. “A Escola precisa ter melhores condições, com um número adequado de Alunos em sala de aula, ser atraente para o Aluno e o Professor precisa ter um salário condizente.”
Melhoria.O Inep também apresentou ao Estado um dado que mostra a possibilidade concreta de melhoria da formação dos Professores. Cruzando os CPFs dos Docentes, levantados no Censo da Educação básica, como dos Alunos de graduação, obtidos no Censo da Educação Superior, o Inep descobriu que 257,7 mil Professores de Escolas públicas estão matriculados em cursos superiores. Deles, 83% fazem licenciaturas. Só 15% optaram por bacharelados e o restante, por cursos tecnológicos.
Prefeitura e Estado dizem investir em formação
O secretário municipal da Educação de São Paulo,Cesar Callegari, afirma que a formação dos Professores interfere no aprendizado dos Alunos, mas não é o único fator que deve ser levado em consideração na avaliação de uma Escola. “A formação em nível superior dos profissionais de Educação é um indicador que devemos perseguir, mas não é o único elemento, pois parte significativa das licenciaturas tem deficiências.” Segundo Callegari, tanto em universidades particulares quanto em públicas “poucos programas efetivamente têm a formação para enfrentar os desafios em sala de aula”.
O secretário diz que, na rede municipal de Ensino, 95% dos profissionais têm licenciatura. Desses, 24% fizeram cursos de especialização. “Dentro dos 24%, quase 5% dos Professores têm mestrado ou doutorado. É uma rede que tem um nível elevado de formação profissional”, afirma Callegari.
Uma das medidas adotadas pela Prefeitura de São Paulo para incentivar a formação dos Professores, de acordo com o secretário, foi a ampliação das funções dos Centros Educacionais Unificados (CEUs), que atuam como polos da Universidade Aberta do Brasil (UAB). “Temos 32 polos com a presença das melhores universidades públicas a serviço dos Professores. Nesses polos, há 6 mil Alunos em licenciatura, especialização e mestrado.”
O secretário afirma que, até o fim da gestão Fernando Haddad (PT), todas as 45 unidades dos CEUs serão polos da UAB. Estado.A Secretaria Estadual da Educação informou, em nota, que um de seus principais focos é a formação continuada dos Professores. Uma das ações é a Escola de Formação e Aperfeiçoamento de Professores (Efap), criada em 2010. Segundo a pasta, desde que foi inaugurada, a unidade recebeu“400 mil matrículas e ofereceu 203 cursos e especializações ”.
A Escola, de acordo com a secretaria, faz parte do processo de integração dos novos Professores à rede, uma vez que os profissionais realizam uma capacitação no local. A unidade é resultado de uma parceria com instituições como a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
A secretaria disse também que oferece bolsas do programa de mestrado e doutorado para os Professores da rede. “Após a apresentação de projetos, os profissionais podem pleitear um auxílio mensal de até R$ 1,6 mil”, acrescenta a nota do órgão estadual. A pasta informou que, desde 2007, investe no programa Ler e Escrever, que tem como foco a Alfabetização de crianças aos sete anos.