Programa de cotas de Alckmin é alvo de polêmica entre especialistas

03/02/2013 – 03h00 Folha Online

LETÍCIA MORI – COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Anunciado em dezembro do ano passado, o Pimesp (Programa de Inclusão com Mérito no Ensino Superior Público Paulista) levanta dúvidas em meio a especialistas. A maioria entre os ouvidos pela São Paulo, embora seja a favor de cotas, é contra o programa.

As aulas semi-presenciais são um dos principais problemas apontados. Para César Augusto Minto, professor na Faculdade de Educação da USP, na prática os alunos não têm contato com os pares e com o professor.

“Não é possível recepcionar alunos de 17 anos num curso à distância, não é bom para a formação inicial”, avalia Nélio Bizzo, titular de metodologia do ensino também na Faculdade de Educação da USP.

De acordo com Sérgio Custódio, do Movimento dos Sem-Universidade, e com o advogado Silvio Luiz de Almeida, ligado à Frente Estadual Pró-Cotas, o programa é segregacionista. “Você separa negros e brancos, alunos da escola pública de alunos da escola particular. É uma forma de afastar minorias da universidade”, diz o advogado.

Naomar de Almeida, pesquisador A-1 do CNPq e coordenador da Comissão de implantação da Universidade Federal do Sul da Bahia, concorda que ter vagas para alunos de escola pública, negros e índios é restringir o sistema a um escopo muito limitado.

Ele é, entretanto, a favor da proposta, pois considera que a formação no regime de ciclos é um sistema mais avançado e forma um aluno mais crítico e maduro. “Pode ser um começo, uma brecha a ser alargada. Aí caberá aos movimentos sociais batalhar e pressionar para ampliar a oferta.”

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#arsao matéria usp

Priscila Cruz, diretora da ONG Todos Pela Educação, também é favorável ao modelo, pois ele garantiria um preparo melhor para os alunos que vêm de um contexto desfavorecido. “Não adianta garantir o ingresso e não dar suporte ao aluno. O sistema paulista de cotas é positivo porque pensa tanto em equidade quanto em excelência”, afirma.

Denise Carreira, coordenadora de educação da ONG Ação Educativa, vê maneiras melhores de suplementar o ensino, como criar grupos de tutores que acompanhem os alunos. Segundo Denise, o curso pode se tornar mais uma barreira ao ingresso dos cotistas na universidade.

Ambos os lados concordam em um ponto: o governo estadual precisa esclarecer melhor o projeto e promover uma discussão pública. Para Priscila Cruz, a política é atraente, mas precisa ser pensada com cuidado para que não seja prejudicial quando aplicada.

Silvio Luiz de Almeida diz que o governo passou por cima de todos os debates, inclusive da discussão sobre política de cotas que já existia no Conselho Universitário da USP. “Acho um desrespeito que ainda não tenha se dado a público uma proposta concreta, pra discutir com tempo”, afirma o professor César Augusto.

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