“$%@!& #provadematematica #xatiado”, diz um adolescente pelo Twitter. “Fica assim naum, migooooo #tamujunto”, responde a colega em apenas uma das centenas de mensagens que trocariam naquele dia. Se é verdade que as redes sociais têm feito os estudantes escreverem mais, será que digitar cotidianamente palavras como “xatiado”, “naum”, “migooooo” e “tamu” não os está fazendo escrever pior? Será que tantos neologismos e emoticons não estão sendo importados para os momentos em que os alunos precisam escrever de maneira formal? Pesquisas realizadas nos EUA, cada uma com seu recorte e perfil, têm mostrado que, ao menos para eles, não. Essa geração está longe de ter emburrecido por causa do Twitter.
Uma delas, detalhada pelo jornal The Globe and Mail nesta semana, mostra bem isso. Andrea Lunsford, professora de escrita e retórica de Stanford, coletou 877 textos produzidos por alunos que entraram no ensino médio em 2006 e comparou com um estudo similar que já ela mesma havia feito em 1986 e com estudos feitos por outros acadêmicos com trabalhos de alunos de 1930 e 1917. Sua hipótese era que se a era digital tivesse afetado a habilidade de escrita dos estudantes, a quantidade de erros ortográficos e gramaticais deveria ter aumentado com o passar dos anos.
Mas não foi bem assim. Em um século, a média de erros aumentou muito pouco, passando de 2,11 erros por 100 palavras,em 1917 para 2,26 hoje. No entanto, a professora concluiu que a forma de escrita mudou, e mudou para melhor. De acordo com Lunsford, os trabalhos dos alunos foram aumentando em tamanho e em complexidade ao longo do século. Em 1917, os trabalhos desse grupo de alunos tinham em média 162 palavras e normalmente não passavam de narrativas pessoais. Em 1986, os trabalhos já tinham 422 palavras, o dobro do tamanho do início do século. Em 2006, eles eram seis vezes maiores, com 1.038 palavras.
Além de mais longos, os textos passaram a ser substancialmente mais complexos. Nas produções recentes, muito mais que relatar experiências pessoais, os alunos passaram a precisar apresentar um ponto de vista e corroborá-lo com argumentos e dados. “Os estudantes hoje estão lidando com questões que demandam exploração e curiosidade, assim como reflexão”, afirmou Lunsford. A linguista Sali Tagliamonte, da Universidade de Toronto, também tem uma visão positiva. Ela acredita que quando os alunos importam o ‘internetês’ para outros meios, o fazem de forma intencional e inteligente. Em um de seus estudos mais recentes, Tagliamonte analisou mais de 4 milhões de palavras usadas em redes sociais para entender por que algumas eram alongadas – como no caso do “migooooo” do início do texto – e concluiu, entre tantas outros pontos, que a reduplicação de letras é uma forma de traduzir emoções em poucos caracteres.
Voltando ao estudo de Lunsford, ele aponta que esse aumento na sofisticação das produções textuais é reflexo tanto de uma maior disponibilidade de informações quanto de mais oportunidades para escrever e publicar textos. Segundo o estudo, 40% de todos os textos hoje são feitos fora do ambiente escolar – numa escrita para a vida, algo que os alunos fazem socialmente ou apenas por diversão. “Os jovens estão escrevendo mais do que as gerações anteriores”, afirmou a pesquisadora.
Clive Thompson, que escreveu o artigo para o The Globe and Mail e autor do livro Smarter Than You Think: How Technology is Changing Our Minds for the Better (Mais esperto do que você pensa: Como a tecnologia está mudando nossas mentes para melhor, em livre tradução) ressalta também a importância do objetivo do texto. Antes, quando ele era apenas escrito para o professor ler, tratava-se de um trabalho para nota. Mas, na medida em que os estudantes tomam consciência de que, ao publicar textos na internet, sua audiência é muito maior, eles tendem a produzir artigos melhores. “Parte do que faz o ambiente on-line tão poderoso é seu propósito: os estudantes escrevem coisas que têm impacto em seus mundos – outras pessoas estão lendo e respondendo”, diz.
Thompson destaca ainda que os estudantes não estão só escrevendo mais e mais aprofundadamente. Eles estão escrevendo mais rápido. Ele lembra que, em 1917, escrever era mais difícil porque as canetas eram tinteiro e borravam quando tentava-se imprimir velocidade à escrita. Quando as esferográficas apareceram, em 1940, diz o autor, as pessoas pagavam no que seria equivalente hoje a US$ 90 por uma caneta. As esferográficas aumentaram consideravelmente a rapidez com que se deslizava a ponta da caneta no papel, mas nada comparado com a velocidade possibilitada pela digitação em laptops e smartphones.
Outro estudo, feito por Christine Greenhow, da Universidade do Estado de Michigan, mostra que as redes sociais também têm o papel de engajar mais os alunos aos estudos. Para a pesquisadora, que analisou o comportamento dos estudantes no Twitter, a dinâmica da rede social permite que os jovens se tornem mais ativo na busca por informações e na comunicação com colegas, professores ou mesmo especialistas em temas que estão pesquisando. “Os alunos se comprometem mais porque eles sentem que estão se conectando com algo real. Não é só aprender por aprender”, diz Greenhow.
No Brasil, ainda não há muitas pesquisas que mostrem o quanto a participação dos alunos brasileiros nas redes sociais tem afetado a produção textual dos alunos. Mas a presença do jovem brasileiro nas redes sociais é uma realidade inegável, conforme comprovou pesquisa realizada peloConecta, Ibope e Youpix divulgada em julho e que entrevistou pessoas de 15 a 33 anos. Dos entrevistados, 95% disseram ter conta no Facebook, enquanto 72% disseram manter perfil no Facebook. Com tanta atuação dos estudantes nos meios digitais, já há professores que têm usado essas redes como ferramenta de ensino para a sala de aula e algumas já foram trazidas aqui pelo Porvir. Entre as possibilidades estão aproveitar as conexões permitidas pela lógica das redes e sugerir que alunos sigam e dialoguem com especialistas, divulgar material de estudo, estimular que alunos sintetizem o que aprenderam. (Veja lista de hashtags que ajudam a usar tablets e o caso da escola de inglês para crianças que estimulou seus alunos a corrigem erros ortográficos de celebridade pelo Twitter).