Parceria. “Crowdlearning” propõe cursos rápidos e de baixo custo para troca de experiências e aprendizado em grupos sem hierarquia. Foto: Filipe Araújo/Estadão
SÃO PAULO – Quando era universitário, Guilherme Neves, de 28 anos considerava os encontros e conversas de corredor com os amigos do curso de design mais produtivos do que o tempo gasto na sala de aula. Algo que ele garante, nada tinha a ver com falta de interesse pelo aprendizado. “A estrutura hierárquica e o formato das aulas não fazia sentido algum para mim”, diz.
Em uma viagem para participar de um evento estudantil no Maranhão, Neves e outros três amigos propuseram uma inversão: os alunos ficariam no comando das discussões e organizariam debates sobre os assuntos que gostariam de aprender.
A experiência serviu como base para a criação, em 2011, do Nos.vc, site pioneiro na difusão do crowdlearning no Brasil. Esse modelo de ensino propõe que todos têm algum conhecimento para ensinar e usa a internet como ferramenta de divulgação dos encontros.
Qualquer pessoa pode acessar um site de crowdlearning, marcar uma aula e cobrar o preço que quiser. Sem um método definido e com preços acessíveis, o foco é na interação. Por isso, os encontros podem acontecer em qualquer lugar, como um bar, café ou em casa.
Os cursos variam de temas tradicionais, como finanças, até os mais inusitados, como “a arte da paquera” e “como apreciar ópera”. Hoje, há cerca de uma dezena de sites para intermediar aulas no Brasil.
Um dos expoentes mundiais do modelo é a britânica School of Life, criada em Londres por Alain de Botton e um grupo de filósofos. O lema da escola é promover o ensino de coisas para a vida que ninguém ensina.
No Brasil, o Nos.vc já promoveu 247 encontros de temas variados. Os cursos podem ser pagos ou gratuitos e o site não cobra nenhuma taxa dos organizadores, mas exige um número mínimo de participantes para a aula ser realizada. Os interessados pagam uma taxa extra de 7,5% do valor do curso para subsidiar a manutenção do site.
A remuneração dos fundadores da plataforma vêm das aulas que eles também organizam pelo site. Neves, por exemplo, já rodou oito capitais com um curso de contação de histórias. “Todo mundo tem algo para compartilhar. O legal é ensinar algo que elas queiram aprender para se desenvolver mais”, diz,
A administradora Nina Rosa Gerges, de 28 anos, já fez mais de dez cursos pelo Nos.vc e diz que o networking e o espírito colaborativo são o atrativo. “As pessoas que dão os cursos não querem falar sozinhas. Elas são acessíveis, humildes e dispostas a trocar conhecimento.”
Negócio
Após conhecer o crowdlearning no exterior, as irmãs Ana e Camila Haddad fundaram há cerca de um ano o site Cinese, que atende a um público de 17 a 35 anos, em média, ligado a arte, cultura e comunicação. “Quem quer apenas um certificado não é nosso público. As pessoas que nos procuram estão atrás de crescimento pessoal”, diz.
A maioria dos cursos no Cinese custa até R$ 200. O site cobra 18% do valor das inscrições dos organizadores do evento. Embora exista demanda e boas oportunidades de negócio no mercado de educação, a maioria dos sites não tem como objetivo principal o lucro. “Não temos investimento e não pretendemos ter. Apostamos na qualidade dos encontros”, diz Ana.
O Cinese, porém, fez parcerias com empresas para criar canais curados. O publicitário Bruno Cobbi, da editora Terracota, criou um canal da própria da editora dentro do site após o sucesso de um curso sobre baralho cigano que ministrou na plataforma. “Só participaram pessoas bem interessadas que levaram o curso tão a sério quanto quem paga R$ 800 por um curso formal”. diz.
Cobbi acredita, no entanto, que ainda há desafios a serem vencidos. Um deles é conseguir aprofundar o conteúdo compartilhado. “O crowdlearning funciona como primeiro contato com um assunto, mas os cursos acabam sendo rasos. Talvez fosse importante aprimorar a regularidade”, diz.