O Estado de S.Paulo – Opinião – 26 de fevereiro de 2013
Repreendido por mau comportamento, um aluno da 6.ª série do ensino fundamental de uma escola pública de Diadema jogou um vaso contra o professor, atingindo-o na cabeça. A agressão ocorreu no ano passado e foi presenciada pela mãe do estudante. O caso resultou em boletim de ocorrência registrado numa delegacia de polícia e, por causa da violência do agressor, que tinha na época 12 anos, converteu-se num dos exemplos mais citados nos estudos de órgãos públicos e fundações privadas da área educacional sobre os fatores responsáveis pelo aumento da violência escolar.
Em 2011, segundo dados do Ministério da Educação, quase 4,2 mil professores de português e matemática da 5.ª e da 9.ª séries da rede pública e privada de ensino fundamental contaram ter sido agredidos fisicamente por alunos dentro das salas de aula, nos corredores ou na saída dos colégios. O número representa 1,9% dos 225 mil docentes que responderam a um questionário anexado à última Prova Brasil. Trata-se de um exame aplicado a cada dois anos nas escolas públicas urbanas pelo Ministério da Educação.
A Prova Brasil faz parte do Sistema Nacional de Avaliação do Rendimento Escolar e seus resultados entram no cálculo do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Na Prova Brasil de 2007, 6,6 mil professores afirmaram ter sido agredidos por aluno e outros 1,9 mil testemunharam estudantes portando armas de fogo dentro das escolas. Na Prova Brasil de 2011, mais de 9 mil docentes informaram ter visto estudantes portando facas e canivetes em sala de aula. Pelas estatísticas do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), as agressões aos docentes estão crescendo cerca de 20% por semestre. Entre 2008 e 2011, a entidade recebeu 157 denúncias de agressão, roubo, vandalismo e ameaças de morte em escolas paulistas.
Além dos ferimentos físicos, as agressões geram depressão, síndrome do pânico e estresse pós-traumático nos professores. Para tentar coibir a violência escolar, as entidades sindicais do professorado criaram canais para receber denúncias. Entre 2011 e 2012, o Sindicato dos Professores de Minas Gerais recebeu uma denúncia de violência a cada três dias.
Em todo o País, colégios públicos e privados estão oferecendo cursos de conciliação, de mediação e de justiça restaurativa para alunos e professores. Também investem na formação de pedagogos e dirigentes escolares preparados para fomentar o diálogo e aproximar os professores do universo social e cultural dos alunos. No Rio de Janeiro, professores de 150 escolas – entre elas os melhores colégios particulares do Estado, como o Teresiano e o São Bento – participaram de cursos oferecidos pelo Tribunal de Justiça. Para a responsável pelos cursos, desembargadora Leila Mariano, a sentença judicial não basta para atenuar a violência escolar. “Na escola, as relações são continuadas. A professora e o aluno que brigam estão ali no dia seguinte. Se a gente não resolver o problema emocional deles, a questão não vai parar aí”, afirma.
Essas medidas, contudo, têm se revelado insuficientes para coibir a agressividade dos alunos e conter a escalada da violência nas escolas. “A violência física é a ponta de um iceberg de outras violências que acontecem e não são tratadas. Ninguém dá um soco do nada. Começa com olhares, xingamentos e empurrões”, diz o pesquisador Renato Alves, do Núcleo de Estudos da Violência da USP, depois de lembrar que as escolas já não se preocupam mais em estimular o bom relacionamento, como no passado. O problema estaria na ênfase excessiva no vestibular, que privilegiou o individualismo em detrimento do estímulo à convivência. “Temos uma educação do século 19 para alunos do século 21, com uma linguagem que não chega aos jovens”, afirma Miriam Abramovay, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais.
No ensino fundamental, a violência escolar tornou-se um problema tão grave quanto o da má qualidade da educação. E não é só por meio da oferta de cursinhos de mediação que ele será equacionado.