Correio Braziliense – 31/03/16
Professor da Universidade de Sidney participou de ciclo de palestras promovido pela Frente Parlamentar Mista da Educação e pela Comissão de Educação da Câmara
O professor Phill Lambert, da Universidade de Sidney, defendeu uma mobilização nacional em torno da construção da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Gerente geral do currículo australiano e com experiências na reforma de currículos nacionais na Arábia Saudita, Coréia do Sul, Japão, China e até no Brasil, Lambert explicou que a tarefa vai exigir esforço nacional e a participação dos nossos maiores talentos acadêmicos e políticos.
Convidado pela Fundação Lemann para dar consultoria sobre o tema, Lambert participou do ciclo de palestras Educação em Debate promovido pela Frente Parlamentar Mista da Educação e Comissão de Educação da Câmara dos Deputados na quarta-feira (30).
“Vamos encontrar lacunas num país tão vasto, com diferentes expectativas. Isso vai exigir esforços múltiplos”, ressaltou ele.
Consulta pública
O Ministério da Educação (MEC) concluiu, no dia 15 de março, a fase de consulta pública sobre o tema, com base em um documento preliminar elaborado por especialistas. A fase de consulta se inciou em setembro do ano passado. Foram recebidas mais de 12 milhões de contribuições de todo o Brasil.
O texto preliminar recebeu muitas críticas, que foram endossadas durante a palestra pelo deputado Rogério Marinho (PSDB-RN), ao destacar que a proposta estabelece alfabetização aos oito anos de idade, embora o padrão internacional seja alfabetizar aos seis anos.
“A proposta para a Língua Portuguesa passou ao largo da gramática, não ensina literatura. Na História, abandonaram a cronologia e, na Geografia, não se estuda relevo. Defendo que a gente caminhe com passos mais tímidos, porém mais consistentes. Língua Portuguesa e Matemática, por exemplo, seriam bases mais importantes. Defendo que a decisão final passe pelo Congresso Nacional”, ponderou.
O deputado Pedro Fernandes (PTB-MA) concordou que um dos objetivos mais importantes da BNCC deveria ser aprender a ler e a interpretar. “Minha experiência como secretário de Educação do Maranhão demonstrou que o domínio da leitura é fundamental para o aprendizado de todas as outras matérias”, acrescentou.
Consensos
Lambert não se surpreendeu com as críticas ao texto preliminar, mas garantiu que a versão final sobre a Língua Portuguesa – que será apresentada em junho – melhorou muito. Ele ressaltou que o Brasil conseguiu obter dois importantes consensos, o ponto de partida definido pelas diretrizes de base da educação e a própria necessidade de criação de uma base nacional. Segundo ele, a BNCC precisa estar acima das preferências pessoais e ideologias, voltada para os interesses do País.
Flexibilidade
O professor sugeriu que o currículo comum deve ser visto como uma aspiração, reconhecendo que algumas escolas podem levar mais tempo que outras para absorver os conteúdos propostos. Por isso, ele defende flexibilidade e autonomia, para que as redes de escolas públicas e particulares façam suas escolhas.
“As escolas devem poder priorizar o que, quando e em qual profundidade a aprendizagem será trabalhada. Na definição do currículo mínimo na Austrália, nós procuramos não detalhar demais o conteúdo. Essa flexibilidade é importante, considerando diversidade de pontos de partida, mas é uma autonomia com padrões, não é cada um por si, de qualquer jeito ”, sustentou.
A definição de uma base nacional vai garantir mais equidade e melhoria do desempenho dos alunos e dos professores. Por isso, o pro preconiza investimento na formação em escala dos professores e monitoramento do desempenho dos alunos e das escolas. As universidades devem focar mais em programas de formação e pesquisa na Educação.
“Não se deve buscar obstinadamente o currículo perfeito – isso não vai acontecer! É melhor deixar os atores do processo de ensino se acostumarem com o currículo mínimo proposto e, por meio de um processo contínuo de monitoramento e consultas, buscar o aperfeiçoamento”, concluiu.