Porvir – por Sergio Pompeu 15 de setembro de 2015
Especialistas ouvidos pelo Porvir recomendam que ponto de partida da construção de currículo nacional deve ser o perfil desejável de cidadão que o país quer formar
Para que serve uma base curricular comum? Para elencar o conteúdo pedagógico que se pretende ensinar ao estudante ou, antes de mais nada, definir o perfil do estudante/cidadão que se pretende formar e só depois definir os meios para se alcançar esse objetivo? Essa é uma discussão antiga no meio educacional, mas voltou à ordem do dia com a iminente publicação pelo Ministério da Educação, na quarta-feira, do texto-base preparado por uma equipe de 116 especialistas sobre a BNC (Base Nacional Comum Curricular), proposta de currículo mínimo nacional que terá força de lei.
Um dos maiores especialistas em políticas públicas do País, Ricardo Paes de Barros – com larga experiência no governo federal, onde ajudou a criar o Bolsa-Família, e hoje economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor titular da cátedra Instituto Ayrton Senna no Insper –, é partidário da opção de se definir primeiro o perfil do estudante e depois os meios, dando peso aos processos e conhecimentos não-cognitivos. Paes de Barros acredita que não se pode fugir no debate da BNC da necessidade de trabalhar algum tipo de “alfabetização emocional”. “A maioria das pessoas não consegue lidar com emoções por puro desconhecimento, por não saber exatamente o que está sentindo, ser incapaz de discernir, por exemplo, entre raiva e frustração”, diz.
Embora esteja atualmente analisando dezenas de trabalhos a respeito dos conteúdos não-cognitivos – ou de desenvolvimento integral, como eles também são chamados –, Paes de Barros evita eleger algumas dessas capacidades em detrimento de outras. “Isso depende do olhar da pessoa ou da instituição que analisa essa questão”, diz.
O pesquisador cita como exemplo de classificação consistente a da ONG americana Casel (Collaborative Academic, Social and Emotional Learning), que se dedica ao assunto há mais de duas décadas e produziu um vídeo inspirador a esse respeito para o The Dalai Lama Center for Peace and Education. Ela se divide em cinco características, traduzidas livremente como: autoconhecimento, autocontrole, empatia, competências de relacionamento e tomada de decisões responsáveis.