Editoras alemãs: dos gigantes da mídia às start ups modernas

Brasil Que Lê – Holger Heimann – Publishnews – 08/07/13

Hoje em dia, quem importa vai para Berlim. A capital alemã, que antes da Segunda Guerra era o centro do mercado editorial, voltou a ser um imã para autores e editoras – desbancando Munique do primeiro lugar. As maiores editoras alemãs possuem pelo menos uma filial em Berlim. A Suhrkamp, a editora de maior força propulsora intelectual na Alemanha, assim como casa de autores famosos como Hermann Hesse, Peter Handke, Mario Vargas Llosa, Isabel Allende e Bertholt Brecht, mudou-se em 2010 de vez para Berlim. Antes localizada em Frankfurt, na cidade da Feira do Livro, a Suhrkamp preferiu estar mais perto do pulsar dos tempos e aproveitar a vitalidade da maior e mais dinâmica metrópole alemã.

Um ano antes, a Editora Hanser, estabelecida em Munique, também decidiu fixar residência em Berlim. Ao lado da Suhrkamp, a Hanser é a editora com catálogo literário mais marcante e sofisticado (Herta Müller, Philip Roth, W.G. Sebald). Michael Krüger, editor da Hanser, é uma das maiores figuras do ramo editorial. Segundo ele, “em Berlim pensa-se um pouco diferente, e por isso, para a pergunta sobre como serão os livros no futuro, e como serão vendidos, as respostas em Berlim também serão outras.“

Suhrkamp e Hanser fazem parte de um número cada vez menor de empresas editoriais de médio porte. Estas duas empresas, cujos faturamentos variam entre € 10 e 40 milhões, parecem duplamente prejudicadas diante da concorrência. De um lado, não contam com a retaguarda de um grupo editorial sólido, portanto sem a sinergia que surge dentro de grandes estruturas. Por outro lado, são grandes demais para se restringir a nichos de mercado.

Na Alemanha, o mercado editorial é dominado economicamente por 3 grupos de mídia, que atuam internacionalmente: dois gigantes alemães, Bertelsmann e Holtzbrinck, e a casa Bonnier, de origem sueca. Os escandinavos foram um dos poucos grupos estrangeiros que conseguiram se firmar no mercado editorial alemão, marcado pelos preços fixos nas lojas, e chegaram a ter um faturamento € 9,6 bilhões, o terceiro do mundo depois dos Estados Unidos e da China. Já outros grupos editoriais de fora, como foi o caso do grupo britânico Bloomsbury, não conseguiram se estabelecer e acabaram saindo do mercado alemão. O comprometimento do grupo sueco Bonnier mostra que o mercado editorial alemão pode ser lucrativo para empresas estrangeiras, mesmo em tempos do boom tecnológico. O mercado alemão possui uma rede articulada de livrarias e uma logística de distribuição realmente diferenciada. Os suecos estabeleceram ao longo dos últimos anos uma forte ramificação alemã, com parcerias com editoras como Piper, Ullstein e Carlsen.

Paralelamente, os suecos pertencem à categoria das editoras com grande tradição como Rowohlt (Kurt Tucholsky, Ernest Hemingway, Jonathan Franzen, Vladimir Nabokov), S. Fischer (Thomas Mann, Franz Kafka, Sigmund Freud) e Kiepenheuer&Witsch (Heinrich Böll, Gabriel Garcia Márquez). Juntando seu resultado com o do grupo alemão Holtzbrinck, os dois chegam a um resultado total acima de € 200 milhões. Talvez um dos segredos do sucesso seja a decentralização: tanto a Holtzbrinck, com sede em Stuttgart, como a empresa de Stockholm, prezam a autonomia de suas editoras.

Já a líder Random House, uma empresa internacional, segue outra estrategia há anos. A divisão de livros do grupo Bertelmann gerou sozinha um resultado de € 318 milhões no mercado de língua alemã (Alemanha, Áustria e Suíça). O grupo editorial, sediado em Munique, conta com 30 editoras e selos como Goldmann, Heynee e a alemã Verlagsanstalt. As editoras individuais tem autonomia sobre seu catálogo mas atuam em conjunto quando se trata de distribuição e marketing. Segundo a diretoria do grupo Random House, a editora deve continuar expandindo esse modelo organizacional.

Os críticos desses grupos editoriais – e entre os editores alemães há alguns deles – reclamam que as prateleiras das livrarias estão abarrotadas de um sem-número de títulos, e que os livros mais primorosos perdem cada vez mais espaço. É verdade que o número de novas publicações aumenta a cada ano: no último entraram 96 mil novas publicações no mercado, entre elas cada vez mais edições de bolso. Michael Krüger, editor da Hanser, é drasticamente categórico: “Há um monte de porcaria produzida por três grandes grupos editoriais, e este monte cobre tudo. Na lista de best-sellers encontro dois ou três títulos que considero literatura.”

Um segmento que se mantém forte é o dos livros para o público infantil e juvenil. 15% do resultado total do setor corresponde a títulos para jovens leitores. Este segmento prima pela grande variedade de empresas: casas tradicionais como Oetinger, selos de grupos editoriais como o Fischer Jugendbuch (FJB), líder das exportações alemãs, e pequenas editoras como Moritz. Todas bem-sucedidas. Vale notar que livros para jovens são campeões de exportação alemã, passando na frente dos de literatura. De 8.000 livros alemães traduzidos para outros idiomas, 2.500 são do segmento infantojuvenil.

Não há dúvida que a literatura de entretenimento ocupa cada vez mais as listas de best-sellers e as prateleiras nas livrarias. Porém existe também um movimento inverso. Na década passada, uma nova geração de editores subiu ao palco deu espaço a novos escritores, que dificilmente o encontrariam nas grandes casas. “Devido ao aumento da pressão comercial, as grandes editoras arriscam menos. É a nossa chance”, diz Jörg Sundermeier, da Editora Verbrecher. Esta pequena editora estabeleceu-se em Berlim, como outras start ups promissoras: Matthes & Seitz, Kookbooks ou Secession. São novas editoras para novos tempos.

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