Correio Braziliense – 29/11/15
Embora a falta de infraestrutura seja um dos fatores que dificultam a permanência de muitas meninas nas escolas, a coordenadora de Educação da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Brasil, Rebeca Otero, ressalta que o problema principal, no caso do Brasil, não é o acesso das meninas às escolas, como acontece em outros países, entre eles, o Afeganistão. “As meninas brasileiras, em geral, têm condições de se matricular. No entanto, existem alguns fatores que fazem com que isso não ocorra e estimulem que elas abandonem com mais frequência as salas de aulas que os meninos”, diz.
O principal deles é a falta de orientação sexual, que evitaria casos de gravidez precoce, maior responsável pelo evasão feminina nas escolas. “Falta também acolhimento, nas escolas, paras gestantes e moças que já tiveram filhos. Há muito despreparo para lidar com essas situações”, acrescenta a professora Carmen Migueles, da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ebape). Para ela, mesmo que seja ancorada em casos de gravidez, a alta concentração de mulheres fora das salas de aula não é culpa delas. “A falha é das escolas, dos professores, dos diretores e das equipes pedagógicas, que não sabem lidar com as necessidades dos estudantes. O erro não é só dos políticos, mas de toda a sociedade, que se omite. Quem quer ensinar faz isso com cuspe e giz”, afirma.
Diante de tantas barreiras, a tendência é de que as mulheres continuem enfrentando dificuldades para entrar no mercado de trabalho e sendo discriminadas quando o assunto for salário. No Brasil, as trabalhadoras ainda ganham, em média, cerca de 70% do que é pago aos homens. (AA e MA)