Criado em 02/09/15 – Por Fernanda Cruz – Repórter da Agência Brasil – Edição:Graça Adjuto Fonte:Agência Brasil
Especialistas em educação, secretários estaduais e municipais do setor, diretores de escola e outros profissionais se reuniram hoje (2) na capital paulista para debater casos de sucesso na gestão educacional em países de primeiro mundo. O Seminário Internacional Caminhos para a Qualidade da Educação Pública foi promovido pelo Instituto Unibanco, o jornal Folha de S.Paulo e o Insper – Instituto de Estudo e Pesquisa.
As experiências do Canadá e da Austrália voltadas à educação básica mostraram a necessidade de um currículo comum para o país e de uma avaliação nacional para aferir os resultados. Na Inglaterra, um órgão de inspeção ajudou a aumentar a qualidade do ensino nas salas de aula.
Manuel Palácios, secretário de Educação Básica do Ministério da Educação, concorda com a importância de uma base nacional curricular para o Brasil. Segundo ele, essa proposta será publicada no dia 16 de setembro, para ser submetida a debate popular. A intenção é que essa base seja entregue em março de 2016 ao Conselho Nacional de Educação.
“A base será importante para a formação de professores, uma vez que haverá uma referência nacional, importante para o sistema de avaliação dos estados e municípios e importante para que os programas de aquisição de materiais didáticos, livros, venham a seguir um padrão estabelecido nacionalmente”, disse Palácios.
Educação no Canadá
Mary Jean Gallagher é vice-ministra de Educação da província de Ontário, no Canadá, onde vivem 40% da população do país. Na província, menos de 5% dos alunos estudam em escolas privadas, geralmente por motivos religiosos. Para Mary, o problema da equidade foi um grande desafio, já que o sistema educacional não era estruturado nacionalmente.
Nas 5 mil escolas da província, os professores enfrentavam a grande diversidade de imigrantes nas salas de aula, pois 25% dos alunos do ensino fundamental e secundário iniciavam o aprendizado com idiomas diferentes do inglês e francês, línguas oficiais do país. “É nossa responsabilidade educá-los”, disse ela.
O governo de Ontário mudou, há 12 anos, o desempenho dos alunos, introduzindo testes universais que avaliam leitura, redação e matemática. “Compreendemos que se uma criança não lê ou usa as ferramentas da matemática em alto nível, está incapacitada para a vida”, disse Mary.
O currículo unificado, que existe desde a década de 80, foi incrementado e revisto a cada cinco anos. Esse guia de ensino não determinou, porém, quais os recursos, atividades e livros devem ser usados pelos professores. “O professor tem autonomia para decidir a abordagem”, acrescentou.
Os resultados positivos foram evidentes. Em 2002, 54% das crianças atendiam aos requisitos mínimos de habilidades do aprendizado. Em 2014, o percentual subiu para 72%. A taxa de alunos que conseguiram se formar também aumentou de 66% em 2002, para 84% em 2014.
Exemplo australiano
Barry Mc Gaw, ex-presidente do Conselho da Australian Curriculum, vê grandes semelhanças entre as necessidades do Brasil e da Austrália que estão, cada vez mais, integrando nacionalmente os sistemas educacionais.
Segundo ele, pesquisa feita em 1989 mostrou que os pais dos estudantes australianos não acreditavam nos boletins enviados pelas escolas sobre o desempenho dos filhos. Esses pais queriam comparações mais amplas, com outros estados do país. Assim, o Conselho Ministerial australiano criou critérios de comparação nacionais, aplicando uma mesma prova para todos os alunos do país, desde 2008.
Entre as vantagens verificadas estavam os resultados que saíram mais rapidamente, os testes que ficaram menos previsíveis, já que muitos professores acabavam direcionando as questões. “Os estudantes que querem se sair bem na prova têm que estudar o currículo nacional”, afirma Barry. A principal melhoria foi que o teste nacional eliminou a tendência de ensinar ao aluno só para fazer uma determinada prova.
Modelo inglês
No caso da Inglaterra, a implementação do órgão Office for Standards in Education (Ofsted), com 3 mil inspetores que avaliam a qualidade do ensino oferecido no país, ajudou os alunos a abandonar o rótulo de educação inferior ao padrão europeu, na década de 60.
Michael Wilshaw, chefe de inspeção do Ofsted, informou que os diretores das escolas ganharam autonomia para oferecer aos melhores professores um bônus nos seus salários. “Também estruturamos as escolas para que as crianças ficassem mais tempo dentro delas”, disse.
Aos 7 anos de idade, os alunos são submetidos a um teste para que o governo saiba se eles aprenderam a ler, e todos os resultados são publicados com um comparativo de cada escola. “O governo deixou claro que os diretores de escolas com resultados ruins são substituídos”, completou.