Fonte: Valor Econômico (SP) – 21 de agosto de 2015
” De nada vai adiantar aumentar os gastos com Educação sem medidas efetivas para melhorar a forma como esses recursos são utilizados”, afirma Naercio Menezes Filho
Enquanto nossos dirigentes fazem planos mirabolantes para melhorar a Educação no Brasil, tais como o Plano Nacional de Educação, o aprendizado dos nossos Alunos nas séries finais do Ensino fundamental e no Ensino médio continua estagnado. Mesmo após a sociedade ter acordado para a importância da Educação, nada melhora. Além disso, até mesmo a permanência dos jovens na Escola, que vinha aumentando continuamente, dá sinais claros de desaceleração. O que será que está travando a melhoria da Educação no nosso país?
O nosso principal problema está na gestão dos nossos sistemas municipais e estaduais de Ensino. De nada vai adiantar aumentar os gastos com Educação sem medidas efetivas para melhorar a forma como esses recursos são utilizados. E para melhorar a gestão é preciso ter diretores e secretários de Educação com capacidade gerencial e Escolas mais autônomas, que tenham liberdade para implementar as políticas que julgarem adequadas para aumentar o aprendizado.
Uma pesquisa publicada recentemente em uma importante revista acadêmica de economia conseguiu mensurar e quantificar o impacto da gestão sobre o aprendizado dos Alunos em Escolas de vários países, incluindo o Brasil*. Essa pesquisa mediu a qualidade das práticas gerenciais em 1.800 Escolas públicas e privadas de Ensino médio em sete países: Reino Unido, Suécia, Canadá, EUA, Alemanha, Itália, Brasil e Índia (ordenados em ordem decrescente de qualidade de gestão).
Principal problema é a baixa capacidade gerencial daqueles que administram Escolas e redes de Ensino
A qualidade da gestão na Escola foi medida por meio de entrevistas estruturadas feitas por telefone com o diretor de cada Escola por entrevistadores treinados e pode ser dividida em quatro grandes áreas. Na área de operações, por exemplo, as melhores Escolas frequentemente usam as avaliações para acompanhar o desempenho de todos os seus Alunos e dissemina as melhores práticas pedagógicas entre todos os seus Professores. Na área de monitoramento, as melhores Escolas sempre acompanham o desempenho da Escola nas avaliações nacionais e discutem os resultados com todos os seus Professores. Além disso, as melhores Escolas têm metas de aprendizado claramente definidas e planos específicos para atingir essas metas. Por fim, na área de recursos humanos os melhores Professores e funcionários são recompensados com maiores salários e progressão mais rápida na carreira nas Escolas mais bem geridas.
Quais foram os principais resultados da pesquisa? A pesquisa detectou grandes diferenças de qualidade da gestão entre os países, maiores do que costuma ocorrer em pesquisas realizadas com empresas e hospitais. Isso significa que as regras e a legislação na área de Educação têm um componente nacional importante, que dificulta avanços na gestão. Além disso, a qualidade da gestão de cada Escola está intimamente relacionada com a nota dos seus Alunos nos exames padronizados em cada país.
Ou seja, nas Escolas com melhores práticas gerenciais os Alunos têm notas melhores. Finalmente, Escolas públicas com maior autonomia de gestão (como as “Escolas charter” nos EUA, as “acadêmicas” no Reino Unido ou as “Escolas de referência” em Pernambuco) adotam práticas gerenciais melhores e, consequentemente, têm melhores notas.
As Escolas brasileiras apresentaram índices de gestão muito baixos, superando apenas as indianas. Elas são ruins principalmente no modo como os Professores e funcionários são gerenciados, pois os Professores muito bons, assíduos e efetivos ganham o mesmo salário que os demais, que não podem ser demitidos. As exceções são as Escolas privadas e as Escolas autônomas de Pernambuco, que têm maior flexibilidade para adotar práticas gerenciais modernas e mais efetivas.
Que lições podemos tirar dessa pesquisa? A primeira é que o nosso principal problema na área da Educação parece ser a baixa capacidade gerencial daqueles que administram a maioria das nossas Escolas e redes de Ensino e a legislação extremamente restritiva adotada pelos Estados e municípios. Se não modificarmos isso urgentemente, todos os outros programas idealizados para melhorar a Educação, tais como a Educação em tempo integral, a utilização de novas tecnologias, o currículo mínimo e os aumentos nos salários dos Professores resultarão apenas em pequenas melhorias locais de aprendizado, sem resultados efetivos em larga escala.
A falta de capacidade gerencial dos nossos gestores é um gargalo que impede que esses programas bem desenhados resultem em melhorias de proficiência em escala nacional.
Outra questão importante é que as nossas Escolas precisam de maior autonomia para gerenciar seus Professores e funcionários, monitorar o aprendizado de todos os Alunos, implementar metas de aprendizado que devam ser atingidas por todos e cobrar resultados daqueles que falham persistentemente em atingir essas metas. Além disso, chegou a hora de permitir que os Alunos da rede pública sejam atendidos em Escolas gerenciadas privadamente, mais autônomas, sem as “amarras” da legislação educacional local.
A experiência das “Escolas acadêmicas”, introduzidas durante o governo trabalhista da Inglaterra para recuperar Escolas que apresentavam desempenho abaixo do normal deve ser um exemplo a ser seguido no Brasil.