Fonte: O Globo (RJ) – 02 de setembro de 2015
Implantado em 28 colégios municipais, Ginásio Carioca será ampliado no próximo ano
Quando a direção da Escola Municipal Governador Carlos Lacerda anunciou que a unidade passaria a funcionar em tempo integral em 2011, os alunos torceram o nariz e queriam deixar o colégio. Ter um dia inteiro de atividades soava como um suplício. Os pais, por sua vez, adoraram a notícia, e os professores respiraram fundo. Afinal, a escola situada na Taquara, Zona Oeste, tinha um desafio enorme pela frente.
— As mudanças básicas foram o tempo integral, com atividades das 8h às 16h, e a dedicação exclusiva de nossos professores, que passaram a estar todos os dias na escola. Também ganhamos uma grade diferenciada com disciplinas até então desconhecidas por nós, como Protagonismo Juvenil e Projeto de Vida — conta a diretora Mônica Pereira.
A escola de Mônica foi uma das dez primeiras da rede municipal a serem transformadas pelo projeto Ginásio Carioca. Hoje já são 28 unidades nesse modelo, e outras 11 se preparam para a mudança no ano que vem. A experiência será um dos estudos de caso apresentados no seminário internacional Educação 360, promovido pelos jornais O GLOBO e “Extra” nos próximos dias 11 e 12, em parceria com Sesc e Prefeitura do Rio e apoio da TV Globo e Canal Futura.
Diante dos bons resultados, a experiência passou a servir como referência para a educação no segundo segmento da rede (7ª ao 9º ano do ensino fundamental). Uma das maiores provas de que a iniciativa seguia pela direção certa foi a própria reação dos alunos. Como se recorda Mônica, bastaram três meses para que estivessem perfeitamente adaptados à nova realidade:
— Eles começaram a ver que tinham mais tempo para aprender, ganharam várias disciplinas opcionais e se tornaram conhecidos por estudar numa escola como a nossa. Passaram a ter identidade. Até as amizades que surgiram a partir do novo modelo ficaram mais profundas.
Os ginásios cariocas são inspirados num trabalho que vinha alcançando ótimos resultados em Pernambuco, porém com o ensino médio. Para isso, educadores do estado nordestino vieram até o Rio para capacitar profissionais da Secretaria municipal de Educação, a fim de que algo semelhante fosse implementado na cidade.
— Desde 2009, estamos pesquisando tudo de mais moderno que vem sendo feito ao redor no mundo. Começamos com modelos experimentais em escolas em que os diretores e professores eram mais abertos a novas ideias e fomos ampliando aos poucos, não poderíamos implementar sem testar. Hoje podemos afirmar que esse é o modelo que veio para ficar — garante a secretária de Educação, Helena Bomeny.
CADA ALUNO COM SEU TUTOR
Nessas escolas, cada aluno deve escolher um professor como seu tutor e tem estudos dirigidos diariamente. Na disciplina Projeto de Vida, os estudantes apresentam, ao longo do ano, seus desejos e objetivos de vida, enquanto os professores dão suporte sobre como podem alcançá-los, indicando bibliografia e atividades.
Os resultados dos ginásios já se traduzem em números. No ranking do Índice de Desenvolvimento da Educação do Município do Rio (IdeRio) de 2014, essas escolas apresentaram ótimos resultados. Das dez primeiras colocadas, nove faziam parte deste projeto.
Seis dos ginásios cariocas valorizam habilidades específicas, como Ginásio do Samba, em Olaria; das Novas Tecnologias Educacionais, na Rocinha; das Artes, na Praça Mauá; e mais três dedicados ao esporte: são os Ginásios Experimentais Olímpicos, que também serão apresentados como estudo de caso no Educação 360. Neles, a educação enfatiza diversas modalidades, como natação, atletismo, basquete e voleibol.
Para dar conta do conteúdo, há um corpo docente qualificado, incluindo treinadores e mestres. Uma unidade fica em Santa Teresa e as outras em Pedra de Guaratiba e no Caju. Até o fim de 2016, estão previstos mais dois ginásios esportivos: nas vilas olímpicas de Honório Gurgel e Juquiá, na Ilha do Governador.
— O interessante desse modelo é que o aluno já entra numa escola onde sabe que vai encontrar ênfase em algo que muito lhe interessa. E lá dentro encontra uma variedade enorme de oportunidades, enquanto aliamos a excelência esportiva à acadêmica — ressalta Helena.
Quanto aos alunos, que num primeiro momento torceram o nariz para a mudança, agora fica a vontade de fazer o projeto crescer ainda mais. Willian da Silva, de 14 anos, está no 9º ano da escola Carlos Lacerda e sabe que sua história com o colégio não vai acabar no fim deste ano.
— Como temos professores mais engajados em nos ajudar, acabamos aderindo a esse comportamento também. Mesmo fora do ginásio, pretendo continuar frequentando a escola para ajudar na formação dos meus colegas — planeja o estudante, que pretende cursar Arquitetura.