Repetição, memorização e provas, muitas provas. Nada de novo na educação?

Brasil Post –  Favoritar – Carioca, mãe de 3 filhas, diretora de branding e educadora.

Hoje é quase uma unanimidade falar que o problema do Brasil é a educação. Aliás, no mundo todo, a educação vem sendo questionada, pesquisada, estudada por educadores e não educadores. Voltando ao nosso País, vale olharmos para trás para entender alguns fatos que marcaram a história da educação por aqui.

E já que é para ir para trás, que tal começar com as Caravelas de Cabral? Antes dos portugueses chegarem por aqui educação era responsabilidade dos pais, avós ou pajés e feita de um jeito bastante informal: era assim que se transmitiam conhecimentos e comportamentos. Como um dos principais objetivos dos nossos colonizadores e dos jesuítas que vinham nas expedições era evangelizar e educar, de largada, já assumiram o que se chamava de escola na época e passaram a ensinar português, espanhol e a fazer poucas operações matemáticas. Era o que bastava. Claro, que ao aprendizado se somavam as aulas de catequese que aterrorizavam os pequenos com a moral católica.

A pedagogia usada pelos jesuítas e que se consolidou por aqui era baseada em repetição, memorização e provas periódicas. Lembra alguma coisa que você tenha visto e ouvido nos últimos tempos? Parece incrível, mas, até hoje, mais de 500 anos depois, não evoluímos quase nada. É só olhar para uma sala de aula de qualquer escola, pública ou privada, que vamos encontrar uma mesma disposição de cadeiras, um quadro na frente, com um professor transmitindo algum conhecimento para um grupo quase que invariavelmente pouco engajado no que está sendo mostrado.

Comecei a me preocupar mais com o tema e com os métodos de aprendizagem depois que minha filha mais velha teve uma séria depressão no ano do seu vestibular. Ela simplesmente não aguentou a pressão. Além da rotina massacrante, a pressão dos professores que, de alguma fora, tentam influenciar a escolha da profissão se soma à pressão dos amigos, que questionam se o que ela quer vai dar dinheiro e à da família que nem sempre apoia e acaba entrando na ansiedade e na insegurança. Como tenho outras filhas entendi que não queria repetir a experiência.

Comecei a ler bastante sobre o assunto, a participar de cursos, a conhecer as novas pedagogias e a buscar modelos diferentes. E, ainda bem, eles são muitos! Um dos momentos mais marcantes foi a visita ao Projeto Âncora, na Granja Viana, em São Paulo. As crianças que participam do projeto, em sua maioria, têm um nível social baixo, moram em bairros com pouca infraestrutura e uma família com histórico de baixo acesso à educação. Parece que nada disto influencia sua imensa capacidade de transformar informação em conhecimento, sua postura curiosa e criativa, seu imenso potencial.

Fui recebida por duas delas que me mostraram toda a escola – faz parte da conquista da autonomia – e me explicaram como as coisas funcionam por lá. Lá se aprende o que se gosta. Elas escolhem um tema e os conteúdos exigidos para a “série” vão entrando no projeto. As turmas não são divididas por idade, mas pelo tema. Cartazes mostram quem sabe um tema o pode ajudar e quem não sabe e precisa de ajuda. Pode se aprender em qualquer lugar, até na sala de aula. Quando elas acham que o projeto está pronto reservam uma sala, convidam professores – que são mentores – organizam tudo e fazem uma apresentação. Elas aprendem, além de conteúdos a serem gestoras de projetos! A ser solidárias, criativas, a resolver problemas.

Este é só um dos exemplos que confirma uma afirmação do Professor de Stanford, o paulistano Paulo Blikstein, reconhecido como um dos maiores especialistas de tecnologia aplicada à educação, que “experiência, investigação e capacidade de resolução de problemas são mecanismos de aprendizagem poderosos.” Inspiradas nestes conceitos muitas e muitas iniciativas estão surgindo no mundo todo e, aqui mesmo, no Brasil. Algumas com pouco investimento, mas muita criatividade e vontade de construir uma escola diferente.

Se pensarmos que boa parte da memória hoje está nas máquinas, não faz sentido exigir repetição e memorização das nossas crianças, certo? Melhor usar o tempo desenvolvendo espírito crítico, a capacidade de refletir e de pensar. Estou acompanhando de perto estes novos modelos com esperança e otimismo!

 

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