Do G1 Rio – G1 Globo.com – 25/03/2013 – Rio de Janeiro, RJ
A diretora da Escola Municipal João Kopke, Leila Soares, que afirmou ter sido espancada na quinta-feira (21) por um aluno de 15 anos, utilizou o Facebook para desabafar, em recado escrito no sábado (23). A educadora, que disse ter ficado com o rosto muito marcado por conta dos socos, escreveu que a dor física é menor do que a sentimental, que não tem remédio.
O corpo dói. Mas a dor vai passando com gelo, analgésico, remédios… O coração, este fica tão apertado que parece que sobra espaço em torno dele de tão pequeno. Este espaço é preenchido com dor. Que não tem remédio, postou.
No texto, a diretora chega a repensar sobre a profissão. Quem somos nós, educadores? Pois eu sei quem somos nós: somos aqueles de quem ri o que sai impune, olhando para trás e rindo. Será que serei só mais uma? Ou a última? questionou.
Na manhã desta segunda-feira (25), alunos da escola fizeram um cartaz escrito Violência não. De acordo com a mãe de uma aluna de 13 anos, identificada apenas como Aline, a diretora tenta melhorar o ambiente da escola desde que chegou. Segundo a jovem, antes de o aluno agredir a diretora, uma briga entre dois jovens, na semana retrasada, movimentou a escola.
Minha filha me contou que um aluno jogou pedra em outro, que revidou, disse. A mãe ressaltou ainda que o consumo de drogas no entorno da escola é comum.Pancadaria é frequente, diz ex-aluna
Jennifer foi aluna da escola há cinco anos e seu irmão estuda na instituição atualmente. Segundo ela, naquela época, já havia presenciado a tentativa de agressão de um aluno à mesma diretora.
Acho que é porque ela quase não fica na escola. É difícil encontrá-la aqui. E quando chega quer botar moral e não consegue, afirmou a ex-aluna. De acordo com Jeniffer, o irmão dela costuma comentar que `a pancadaria na escola é frequente.
Para uma professora da escola, que não quis ser identificada, a afirmação da ex-aluna de que Leila seria omissa é uma inverdade. Ela é muito dedicada e fica na escola além do horário.
Segundo ela, a diretora subiu para ver o que estava acontecendo no corredor e o aluno estava dando uma gravata de brincadeira em um colega. O rapaz deu um empurrão e xingou a professora, que disse que chamaria o responsável do aluno. Foi quando ele deu um soco na diretora.
Ela foi para a sala, ele a imobilizou, deu vários socos nela. Saiu muito sangue, enchemos uma lixeira com papeis. Ela também machucou o ouvido, contou a professora. A diretora foi encaminhada para o Hospital Salgado Filho. A história foi publicada pelo jornal O Dia nesta segunda.
Medo
A professora disse ainda que os professores estão com medo, porque o aluno fez ameaças de que caso fosse expulso, voltaria para matar todo mundo.
A mãe de uma outra aluna, que não quis se identificar, chegou na porta da escola por volta de 11h20, preocupada.
Recebi a ligação de uma amiga me dizendo que o aluno que agrediu a diretora é morador do Morro do Urubu e que os traficantes viriam à escola pegar a diretora. Não sei o quanto disso é verdade, mas fiquei com medo e vim aqui ver. Fiquei tranquila quando vi que as portas da escola estão trancadas e que as coisas estão calmas, contou.
Segundo nota da Polícia Civil, a vítima procurou a delegacia informando ter sido agredida por um aluno de 15 anos. O menor foi ouvido e a vítima encaminhada para exame de corpo de delito. De acordo com a delegada Cristiane Carvalho, da 24ª DP (Piedade), a vítima compareceu à delegacia sem apresentar lesões externas, contudo, foi encaminhada ao IML para averiguar lesões internas, no ouvido.
Ainda segundo a polícia, na delegacia, o aluno contou que agrediu Leila após a diretora do colégio o repreender por ele não voltar à sala após o intervalo de aula.
A Secretaria Municipal de Educação esclareceu, em nota, que não admite este tipo de conduta nas escolas da Prefeitura do Rio e já aplicou o Regimento Escolar Básico do Ensino Fundamental ao caso, com a transferência do aluno para uma outra unidade.
`É triste e lamentável. Não admitimos qualquer tipo de violência nas nossas escolas`, declarou a secretária de Educação, Claudia Costin.
De acordo com a Polícia Civil, o caso foi enviado a Vara da Infância e Juventude e foi registrado na 24º DP (Piedade).