Tablet (ainda) não turbina aprendizado

Correio Braziliense – EDUCAÇÃO – Publicação: 03/06/2013

Adotado há um ano por pelo menos três grandes escolas particulares do DF, uso do equipamento tem impacto tímido no desempenho dos alunos. Para especialistas, incorporar a tecnologia é inevitável, mas é necessário preparar professores e estudantes

 (MOnique Renne)

A possibilidade de ter acesso ao conhecimento e à informação a um ou dois toques encanta jovens e adultos. Com tablets à mão, é possível organizar calendários, ver e-mails, entrar em redes sociais, consultar a internet, ler e até jogar. Mas justamente no ambiente em que os primeiros conceitos científicos são ensinados — as escolas —, educadores e estudantes travam os maiores debates sobre a incorporação dos equipamentos. A eficiência deles na rotina e a melhor maneira de incorporá-los ainda são motivo de pesquisa e estudo. A unanimidade está na ideia de que a tecnologia não pode mais ser deixada longe da sala de aula.

Há um ano, pelo menos três colégios particulares do Distrito Federal tomaram a dianteira e elaboraram formas diferentes de inserir o computador portátil no cotidiano escolar. Depois de um período de testes e avaliações, a conclusão da maioria das instituições e de especialistas é de que os equipamentos são recursos importantes, mas ainda não influenciam diretamente o desempenho final dos estudantes. Nesse caso, não seriam decisivos para a aprendizagem. As escolas públicas estão um passo atrás no uso das tecnologias. A rede sob responsabilidade do governo deu início aos projetos de modernização neste ano (leia na página 20).

No Colégio Marista, a direção preferiu trabalhar com uma turma piloto em 2012, no 1° ano do ensino médio. Ao mesmo tempo, criou uma forma de controle para comparar os resultados. Durante o período avaliado, os estudantes do primeiro grupo receberam um tablet da escola. O equipamento ficou sob os cuidados dos adolescentes. Os professores tinham uma porcentagem mínima de uso do tablet a alcançar. O outro grupo teve aulas com o mesmo corpo docente, mas no modelo tradicional.

Motivação, resultados, notas, disciplinas e outros aspectos passaram a ser analisados com mais cautela e reuniões periódicas foram marcadas com pais, alunos e professores. “Não houve impacto negativo nem positivo no desempenho dos alunos. As duas turmas terminaram o ano com notas similares”, avalia a diretora educacional do colégio, Andrea Studart.

Em 2013, a instituição decidiu reorganizar o projeto. Agora, os aparelhos ficam na instituição e qualquer mestre interessado pode levá-los para a sala de aula, seja qual for a turma ou o ano. “O foco é o professor e não mais o aluno, como em 2012. Todos eles estão fazendo cursos semipresenciais de letramento digital, porque percebemos que toda a responsabilidade recai sobre eles”, explica Andrea. O Marista comprou 80 tablets para emprestar aos alunos. Alguns usam os pessoais. No total, a escola investiu R$ 900 mil desde 2011 com estrutura física, equipamentos e capacitação dos profissionais.

Professor de biologia do Marista, Lúcio Bravin apoia o uso do aparelho como um diferencial do livro didático. Para isso, no entanto, o docente precisa dispensar mais tempo para cada aula. “Rotina, disposição física da sala e planejamento mudam muito. Você tem que refazer aulas que estavam prontas há tempos com outra modelagem. Além disso, tem de perceber quando o quadro é mais eficiente”, diz.

Em sociologia, o professor Leandro Grass, da mesma escola, encontra alternativas para apresentar conteúdos com os dispositivos móveis. “Exige mais criatividade, mas, com ela, temos recursos para usar em qualquer assunto. E ganhamos tempo. Podemos fazer pesquisas bibliográficas nas salas.” Cesar Berçott ensina geografia no Maristão. Para ele, o grande mérito é o debate em ambiente escolar. “O aluno checa um site e nos confronta. Isso muda a forma como ele te vê e é genial”, comemora.

Informação
A figura do professor muda diante do discípulo, inclusive a relação entre eles, aponta o diretor dos cursos de Tecnologia da Informação da Universidade Católica de Brasília (UCB) e estudioso do uso de novas tecnologias na educação Fernando Goulart. “O educador precisa transformar o cotidiano em sala de aula e tornar o aluno parte do processo. O conteúdo está disponível na internet. Se o orientador não for bem treinado, o estudante termina sobrecarregado de informação”, revela. Goulart defende que recursos multimídias precisam acrescentar algum tipo de emoção para tornar o conteúdo atraente.

“Rotina, disposição física da sala e planejamento mudam muito. Você tem que refazer aulas que estavam prontas há tempos com outra modelagem. Além disso, tem de perceber quando o quadro é mais eficiente”
Lúcio Bravim, professor do Marista, ao lado dos colegas Leandro Grass e Cesar BerçottAlunos mais interessadosMais radical entre as escolas brasilienses, o Sigma trocou os livros em papel pelo formato digital. Todos os primeiros e os segundos anos do ensino médio usam o equipamento, chegando a quase 800 estudantes. “Os alunos aumentaram o volume de leitura e fizeram mais exercícios indicados pelos professores. A avaliação inicial é muito positiva”, conta o diretor pedagógico da unidade da Asa Norte, Iomar Pirangi Soares.

O educador atribui a melhora no desempenho à economia de tempo proporcionada pelos tablets. No cálculo dele, a turma ganha cerca de 40% da hora/aula. Os maiores problemas vividos na unidade, por enquanto, são de ordem técnica. “É um aplicativo que nem todos conseguem baixar, a bateria que acaba ou uma falha na rede. Nada no aspecto pedagógico”, analisa.

O professor Eli Guimarães é coordenador de redação do colégio. Ele também enfatiza como a dispersão foi menor em relação ao que tinham imaginado anteriormente. “O nosso material é embarcado no tablet e não está ligado à internet. Com o celular, os alunos nos traziam mais problemas do que agora, pois se interessam mais”, afirma. Na questão do desempenho, também houve melhora nas notas dos estudantes. Segundo a direção, foi identificada uma mudança de postura por parte do professor, que passa a estar mais próximo do aluno.

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