Uol Educação – 15-09-15
Equipar massivamente os alunos e as salas de aula com dispositivos eletrônicos não basta para melhorar os resultados – é o que diz um estudo da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) publicado nesta terça-feira (15), que ressaltou o fraco desempenho da Espanha.
Os países que investiram muito em material eletrônico não registraram uma melhora notável nos resultados de compreensão escrita, matemática e ciências, destacou a OCDE, que estudou pela primeira vez as competências digitais de alunos de 15 anos, a partir de dados coletados na edição 2012 de sua pesquisa do Programa para a Avaliação Internacional de Alunos (Pisa, na sigla em inglês).
Apesar da onipresença das novas tecnologias em nossa vida cotidiana, elas ainda não foram levadas ao setor da educação, constatou a OCDE. Quando usadas em sala de aula, “sua incidência nos resultados dos alunos é, no melhor dos casos, moderada”.
“Não é apenas usando equipamentos eletrônicos de maneira intensiva que obtemos sucesso nos testes digitais”, explicou Éric Charbonnier, analista de educação da OCDE. Estes testes concentram-se na compreensão escrita eletrônica e também na “navegação específica”, quer dizer, a capacidade de encontrar respostas para perguntas ativando uma série de enlaces pertinentes na internet.
Os resultados dos alunos espanhóis ficaram abaixo da média dos países desenvolvidos, embora sejam “consagrados mais de 30 minutos diários ao ensino digital”, ressaltou Charbonnier.
Em troca, os alunos franceses se deram melhor com o computador (entre 10º e 14º lugar) do que com o papel (12º a 16º), sobretudo as crianças, “embora o digital não faça mais parte da aprendizagem”.
Os melhores em matéria de compreensão escrita eletrônica são os alunos de Singapura, Xangai, Coreia do Sul, Japão, Canadá e Hong Kong. Como não dedicam mais tempo à internet na escola do que os demais estudantes da OCDE, o estudo deduz que “inúmeras competências essenciais para a navegação na internet também podem ser ensinadas mediante pedagogias e instrumentos analógicos tradicionais”.
“Para reduzir as disparidades na capacidade de tirar proveito dos dispositivos tecnológicos, os países devem melhorar antes de tudo a equidade de seus sistemas educacionais”, avaliou a OCDE.
Os alunos que melhor lidam com a “navegação específica” (buscas) são os de Singapura, à frente dos australianos, sul-coreanos, canadenses e norte-americanos. Xangai, conhecida por seus brilhantes resultados escolares, ficou abaixo da média da OCDE.
“Não é a quantidade de uso” da tecnologia, “o que conta é a qualidade”, avaliou Francesco Avvisati, analista da OCDE. O exemplo australiano mostra que o computador agrega algo à escola quando os professores recebem formação ou têm experiência.
Ao contrário, “os países que deram prioridade ao equipamento têm uma tendência mais negativa”, como é o caso da Polônia. Para que as novas tecnologias sejam eficazes, “é necessário partir dos usos”, “responder a finalidades pedagógicas”, segundo Avvisati.
As competências digitais de docentes e alunos provavelmente foram superestimadas, destacou no relatório Andreas Schleicher, diretor de educação e competências na OCDE. “Quantas crianças escolheriam jogar videogame se eles tivessem a mesma (e má) qualidade dos programas informáticos usados em sala de aula?”, questionou.