A nova safra dos empresários da Educação

Nayara Fraga – O Estado de S.Paulo – 07 de abril de 2014 

Num mercado dominado por gigantes, jovens empreendedores apostam em negócios inovadores para faturar com o ensino 

Dois dos maiores negócios anunciados no Brasil em 2013 envolveram empresas de educação. A fusão de Kroton e Anhanguera – que, quando aprovada, dará origem a um grupo avaliado em R$ 12 bilhões – e a aquisição do Grupo Multi pela britânica Pearson, por R$ 1,95 bilhão, impressionaram até quem já esperava grandes transações no setor. Mas nem só de grandes operações vive a indústria da educação. Nas franjas desse movimento de gigantes, um mercado de empresas de tecnologia começa a ganhar espaço – e a chamar a atenção das grandes instituições.

Essa nova leva de negócios inovadores do ensino tem muito em comum. Seus empreendedores tiveram histórias bem-sucedidas em outras áreas, como o mercado financeiro, e estudaram em instituições de ensino renomadas no exterior. Além disso, atraíram dinheiro – e a confiança – de investidores experientes. O Estado levantou com especialistas e executivos da área um grupo de novatas que estão se destacando (veja abaixo).

O site Descomplica, que oferece aulas com conteúdo do ensino médio, atraiu Peter Thiel, fundador do PayPal e primeiro investidor anjo do Facebook. Em fevereiro, o site anunciou ter captado mais US$ 5 milhões de fundos liderados pelo Social+Capital Partnership, um dos mais conhecidos no Vale do Silício.

Nos EUA, esse mercado de empresas de educação vem se desenvolvendo há algum tempo e já tem até um apelido: EdTech. Segundo o banco de dados CrunchBase, 99 startups (empresas iniciantes) dessa área levantaram no país US$ 500 milhões no primeiro trimestre deste ano, ante US$ 64 milhões investidos em 20 companhias em 2009. Lá, existem dezenas de negócios nessa área – de sistemas de gestão de ensino a Moocs (sigla em inglês para cursos abertos online para a massa). A adoção por parte das escolas tem sido crescente, principalmente por causa de uma iniciativa do governo americano para padronizar o ensino nas salas de aula do país.

De acordo com o diretor executivo da Fundação Lemann, Denis Mizne, um dos principais canais de crescimento dessas empresas são os contratos com o setor público. “Vender para governos, no entanto, é um desafio para startups”, diz Mizne.

Criada em 2011, a Evobooks, editora digital de conteúdo educacional, teve origem no setor público. Seus fundadores, Felipe Rezende e Carlos Grieco, eram executivos da consultoria Bain & Company quando começaram a prestar serviços para o governo federal, que havia acabado de comprar tablets para equipar escolas públicas. Foi ali que eles tiveram a ideia de levar as pesadas apostilas escolares para os dispositivos móveis. Hoje, a Evobooks distribui seu conteúdo para 2 mil escolas e pretende faturar R$ 20 milhões neste ano.

Nova onda. Entre os investidores da Evobooks está Anibal Messa, um dos primeiros a colocar dinheiro no Buscapé. Após uma passagem pelo fundo Temasek, ele montou a empresa de venture capital Plataforma Capital e diz estar à procura do “Romero Rodrigues (fundador do Buscapé) da educação”. Messa presenciou o surgimento da primeira geração de startups brasileiras na década de 90. A grande maioria delas estava focada no e-commerce. “O que aconteceu foi que nos últimos dez anos dois segmentos importantes ficaram esquecidos: um é a saúde, outro é a educação.”

Não há estatísticas precisas no País que indiquem o valor movimentado pelo segmento de EdTech. Mas os principais executivos apontam para um futuro em que as novas tecnologias serão praticamente uma commodity. “Nenhuma instituição de ensino poderá se dar ao luxo de não tê-las”, diz Ryon Braga, da consultoria Hoper, especializada em educação. Pesquisa encomendada pelo instituto Inspirare mapeou 180 jovens empresas com negócios voltados para a educação em 2013, das quais 78% são de base tecnológica.

É provável que, nos próximos meses, algumas das maiores empresas do setor anunciem parcerias ou mesmo incorporem essas startups. “Está a ponto de acontecer uma revolução no mercado brasileiro”, diz o americano Russel Goldman, consultor de empresas em EdTech.

A Kroton já começou a rastrear negócios inovadores. Em 2013, a empresa lançou um projeto-piloto com um pequeno grupo de alunos para testar o modelo de “ensino adaptativo” desenvolvido por uma startup. Neste ano, a instituição lançará três projetos similares, desta vez para alcançar 165,7 mil alunos. “Essas tecnologias estão nos ajudando a descobrir um caminho novo”, diz Rodrigo Galindo, presidente da Kroton. A instituição já analisou 64 empresas de tecnologia no Brasil e no exterior.

As startups do País parecem não deixar a desejar. Até o grupo de mídia alemão Bertelsmann resolveu apostar nas brasileiras. Junto com a Bozano Investimentos, eles criaram o primeiro fundo do País com foco exclusivo em startups de tecnologia educacional, com R$ 100 milhões. O QMágico, plataforma de educação personalizada, está entre as primeiras investidas. Interessados nos negócios, ao que tudo indica, não vão faltar. Resta aos empreendedores provar que fizeram a lição de casa e que suas ideias dão dinheiro. Veja os cases:


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