Correio Braziliense – Mariana Niederauer – Publicação: 28/01/2014
Transição para a tecnologia é um processo demorado e exige participação de todos os envolvidos. Confira dicas sobre como avaliar a metodologia
O professor diz ainda que a editora está aberta às opiniões dos pais e que são feitas reuniões com os alunos para ouvir críticas e sugestões. “Estamos extremamente receptivos”, diz. Gonçalves destaca que o conteúdo é aprimorado constantemente e que o compartilhamento de informações entre os estudantes é feito em sala de aula. “A construção do conhecimento compartilhado não precisa necessariamente ter relação com o material didático. É a metodologia que diz respeito a cada professor.”
Custo
A principal reclamação do servidor público José Nilton de Souza Vieira, 43 anos, pai de uma aluna do 3º ano, é a respeito do custo da adoção do material digital e dos tablets. “Nosso primeiro problema foi que, quando a escola fez a adoção do tablet, não deu uma noção de quanto custaria o livro digital em relação ao convencional”, relata. Ele afirma que gastou entre R$ 1,5 mil e R$ 1,6 mil com os livros impressos dos três anos do ensino médio do filho mais velho, e que, hoje, desembolsa cerca de R$ 1,1 mil por ano com o material digital da filha, que participou da primeira turma a adotar os tablets. O Sigma informou, no entanto, que o preço do conteúdo digital é de R$ 1.155,72, enquanto o valor dos livros impressos do 9º ano do ensino fundamental, por exemplo, é de R$ 1.210,61.
Na opinião do pai, é natural que a adaptação às novas tecnologias seja um processo demorado, mas Vieira acredita que o custo financeiro foi mais alto do que deveria. “Evoluiu menos rapidamente do que esperávamos e, no meu caso, provavelmente não usufruiremos do benefício do uso da tecnologia na sala de aula. Já que a turma da minha filha é pioneira, eu queria que não fosse tão oneroso”, detalha.
A diretora pedagógica do Sigma, Marli Pinheiro, explica que o colégio fez a transição do conteúdo impresso para o digital em 2012, com a turma do 1º ano do ensino médio. Antes disso, os próprios professores do colégio desenvolveram, durante mais de dois anos, o material didático adotado pela instituição hoje. Segundo ela, o conteúdo é interativo — traz vídeos, imagens, músicas e ilustrações animadas — e tem atualizações constantes. Marli diz que os alunos também opinam no processo e alguns estão ajudando a produzir parte do conteúdo da disciplina de espanhol. Além disso, como os próprios professores desenvolveram o conteúdo, temas ligados ao Distrito Federal, como a vegetação do Cerrado, têm mais destaque do que em materiais didáticos impressos. “Nós vimos que poderíamos possibilitar ao nosso aluno o uso de um material que faz parte do dia a dia dele, que é o tablet, com um conteúdo adaptado para a realidade e as necessidades de Brasília. É um material interativo e que passa por atualizações. Percebemos o aumento do interesse e da motivação dos estudantes”, relata.
Tendência
Dilermando Piva Jr., autor do livro Sala de aula digital (Saraiva; 152 páginas; R$ 34,90), explica que a adoção de tablets é um processo natural, como foram vários outros na história da educação — da oralidade para a escrita na Grécia Antiga, do livro para o vídeo e, finalmente, para o computador. “Mas todas essas tecnologias potencializaram o processo sem esquecer as anteriores”, lembra. Com os tablets não deve ser diferente, e o primeiro passo é a preparação dos docentes para essa nova forma de ensinar.
“Os professores devem perceber que não se trata apenas de modismo, e, sim, de uma nova ferramenta”, observa o autor. “E a mudança mais importante é entender que a posição dele de ‘centro das atenções’ ou de ‘centro do conhecimento’ muda ou é deslocada para ‘facilitador do processo de aprendizagem’. Ele vai ajudar os estudantes nesse processo”, completa. Pesquisa divulgada em 2013 pelo Pew Research Center, dos Estados Unidos, entrevistou 2.462 professores e mostrou que 67% deles acreditam que a internet tem grande impacto na habilidade de interagir com os pais e 57% dizem que ela tem o mesmo impacto para melhorar a interação com os estudantes.
Para que os pais consigam avaliar se o método utilizado nas escolas vai ajudar na formação dos filhos, o especialista sugere que eles acessem o conteúdo e façam uma análise, de maneira a ter certeza que não é apenas uma reprodução dos livros impressos. A inclusão de conteúdos em múltiplas mídias — escrita, vídeo, animações, podcasts, etc — é um sinal positivo. “Dessa forma, a mensagem chega por diversos canais. Isso, por si só, já potencializa o processo de aprendizagem”, afirma. “Além disso, as novas tecnologias estão sendo utilizadas para motivar a capacidade dos estudantes para resolução de problemas e tomada de decisão, na melhoria da comunicação e na disposição para o trabalho colaborativo”, acrescenta.
Segundo ele, há outra forte tendência na educação além da utilização de tablets em sala de aula, que é a coleta de dados sobre os estudantes por meio da utilização que ele faz dos conteúdos digitais. “Com base nas informações coletadas e num histórico (por estudante), consegue-se intervir no processo de forma mais efetiva, e em tempo de proceder uma recuperação ao longo do semestre ou ano letivo. O professor não precisa esperar o resultado da prova para verificar o desempenho dos estudantes.”