G1 – POR BRUNO ALFANO –
RIO — Uma educação que combine conhecimento acadêmico personalizado com realizações que transformem o mundo é a proposta do educador Marc Prensky. De acordo com ele, a mudança do modelo tradicional de educação precisa ser feita sob pena de não preparar as crianças que estão nascendo ou que ainda não nasceram para lidar com um mundo transformado daqui 20 anos. O autor do conceito de “nativos digitais” acredita que apenas uma nova perspectiva de educação será capaz de cumprir esse papel. Prensky foi o palestrante principal do Educação 360 Tecnologia, realizado nesta segunda-feira, no Museu do Amanhã, pelos jornais O GLOBO e Extra.
— Por favor, pense diferente — sugere o escritor à plateia de professores: — Não podemos apenas pensar em melhorar a educação que temos hoje para um outra com mais tecnologia ou mais empreendedorismo. Precisamos de uma nova forma de educar. Uma forma que admita que nem todo precisa de todos os conteúdos, mas que todos os alunos têm possibilidades de realizações que transformem o mundo num lugar melhor.
A mudança de olhar deve se dar em cinco aspectos: objetivos, meios, currículo, formas de ensinar e tecnologia. Prensky afirma que o ponto central da escola deve ser melhorar o mundo — e não apenas obtenção do conhecimento. Para ele, este é um meio para chegar ao objetivo final.
— O objetivo futuro da educação é melhorar o mundo. Não tornar as crianças mais inteligentes. E sim que elas sejam boas, efetivas e que façam a diferença. Esse é o objetivo final da educação. Para isso educamos. Não só melhores estudantes. Mas melhores pessoas — afirma, indicando caminhos: — Aprender não é o objetivo final da escola, mas o meio para fazer um mundo melhor. A nova perspectiva não é apenas a ideia de que se você fizer tantos anos de disciplinas vai estar preparado. Agora cada ano que você passa na escola você começa a realizar coisas novas e aprende a realizar novas coisas. Mas não são problemas inventados. Tem que resolver um problema do mundo real para que você saiba que consegue.
Essa mudança de perspectiva, afirma o escritor, precisa de uma transformação no currículo. Prensky acredita que não faz mais sentido que todos os alunos estudem todas as disciplinas com a mesma intensidade. Para ele, a escola precisa fazer com que as crianças descubram quem elas são e, a partir daí, que elas construam seus caminhos de conhecimento — com uma base única, como leitura e noções de matemática, que as possibilite de alçar excelência acadêmica em outras áreas. O foco, no entanto, ele defende que sejam os projetos que busquem resolver problemas reais.
— Imagina se o ministro da Educação do Brasil resolver amanhã que toda escola pública no país trabalhará com projetos assim? Eu consigo imaginar que isso transforme o Brasil num lugar melhor.
A função do professor também é alterada. Segundo ele, apresentar os conteúdos do currículo tradicional é desestimulante porque tudo está disponível na internet. Na avaliação dele, é preciso que o docente se torne uma espécie de coaching, um guia.
— Cada um dos nossos alunos tem sonhos. É nosso dever ajudar a realizar esses sonhos. Então eu paro a entrega de conteúdo? Não, mas acrescento o momentos dos projetos — diz, levando a discussão para as ferramentas tecnológicas: — Se você é professor e usa a tecnologia para apresentar vídeos e fazer cálculos, tudo bem. Mas isso não é nada novo. Atualmente podemos fazer coisas que não podíamos antes. Conexões com outras pessoas, criar aplicativos úteis, análises especiais, criar vídeos e fazer robótica. E não apenas construir a robótica, mas fazer dela algo útil. Temos que achar o lugar útil para usar essa tecnologia ao invés de fazer sempre as mesmas coias de forma diferente.