A ideia de dar treinamentos de graça voltados para o mundo do trabalho pela internet pode parecer inspirada no boom dos Moocs (cursos online gratuitos, em escala) oferecidos a partir do início de 2012 por grandes universidades, principalmente, dos Estados Unidos. Mas não é. Desde 2007, a empresa irlandesa Alison (Advance Learning Information Systems Online)se propõe a ensinar competências profissionais a distância para quem sente necessidade de aprimorar seus conhecimentos e se preparar para o mercado de trabalho.
Até o fim do primeiro semestre deste ano, dois milhões de pessoas já haviam se cadastrado no site. Atualmente são mais de 500 cursos, como os de contabilidade, gestão de projetos, noções de computação, línguas e técnicas digitais. Desses, cerca de 300.000 concluíram os treinamentos.
Os cursos têm dois modelos, um curto, de uma hora e meia a duas horas, e outro mais longo, de 9 a 12 horas de duração. Além de ter acesso ao material e às aulas, os alunos ainda recebem um certificado de conclusão, pelo qual também não pagam nada. Mesmo assim, o fundador e CEO da Alison, Mike Feerick, garante que a organização é uma empresa social, mas com fins lucrativos. A maior parte dos rendimentos vem da publicidade. Outra fonte de receita é a taxa cobrada por quem quer receber um diploma impresso.
Em 2005, quando Mike decidiu abrir a Alison, fez questão de que o negócio não dependesse de doações. “Eu trabalhei com uma respeitada instituição filantrópica que destinou US$ 8 bilhões para fazer o bem, mas me dei conta de que mesmo este valor é apenas um pingo de água no oceano para resolver os problemas dos pobres no mundo. O que realmente pode causar impacto social é um negócio com um modelo sustentável, que dê lucro e possa ser escalável”, afirmou em entrevista ao Porvir.
Otimista com o crescimento da empresa, que no último mês chegou a 150 mil novos usuários, ele atribui parte do sucesso ao terceiro item oferecido de graça pela plataforma: a possibilidade de avaliar conhecimentos e validar os aprendizados. Os alunos da Alison podem acessar o site a qualquer momento e prestar um teste rápido, de 20 a 30 perguntas, para comprovar que fizeram o curso e adquiriram os conhecimentos ministrados. Assim, no momento de uma entrevista de emprego, os recrutadores têm condições de verificar facilmente se os candidatos realmente sabem o que afirmam saber.
“No sistema de ensino tradicional, as pessoas concluem treinamentos, recebem um pedaço de papel e pedem que todos acreditem nele. Nós oferecemos a possibilidade de testar isso”, diz Feerick. Na outra ponta, para garantir a qualidade dos cursos oferecidos pela Alison, os publishers, como são chamados os professores e instituições que elaboram os treinamentos, recebem para publicá-los no site. Isso é feito a partir da divisão da receita de cada curso, tanto da publicidade como da venda de diplomas impressos. A empresa hospeda desde aulas de grandes instituições como a Microsoft e o British Council, até de especialistas individuais em determinados assuntos. São mais de 100 provedores de conteúdo.
“Há três razões para as pessoas publicarem seus cursos na Alison: uma é para ganhar dinheiro, a segunda é para dividir o que sabem de uma maneira altruísta, e a terceira é para se tornar conhecido. Temos 2 milhões de usuários”, explica o CEO da empresa.
Alison no Brasil
Diferente do que ocorre nos Moocs de universidades top como MIT e Harvard, a participação de brasileiros ainda é pequena na Alison. São apenas 15 mil cadastrados, a maioria nos cursos de língua inglesa. Atualmente, os países que mais usam a ferramenta são Índia, Paquistão, Egito, Estados Unidos, Inglaterra, Indonésia, Filipinas, Uganda, Tanzânia e Nigéria.
Mike Feerick avalia que isso vai mudar quando os treinamentos forem traduzidos. Cerca de 2.000 voluntários já trabalham para disponibilizar aulas em árabe, francês e espanhol. “Estamos procurando pessoas que ajudem nesse trabalho em português também”, conta Mike, que prevê o lançamento de uma versão do site em língua portuguesa até o fim do ano. A Alison é uma das seis vencedoras do Wise Awards, prêmio internacional que destaca ideias inovadoras em educação e que está acontecendo esta semana em Doha, no Catar.